quarta-feira, 30 de setembro de 2020

NEM SÓ DE COVID VIVE-SE NA PANDEMIA

Por Weiber Xavier (*)

A pandemia da Covid-19 vem colocando outras demandas extraordinárias no cronicamente frágil sistema de saúde brasileiro. Além de ter o potencial de causar interrupções substanciais nos serviços de saúde, devido aos casos que sobrecarregam o sistema existem ainda limitação às atividades usuais no tratamento de doenças crônicas como o diabetes.

Segundo estudo da Universidade de Washington, duas das três principais causas de incapacidade e morte prematura globalmente podem ser atribuídas a doenças não transmissíveis (DNTs).

Pesquisa da OMS em 155 países mostrou que 53% dos países pesquisados interromperam os serviços de tratamento da hipertensão, 49% o tratamento de diabetes, 42% o tratamento de câncer, 31% das emergências cardiovasculares, 50% no rastreamento de câncer de mama e de útero, afetando principalmente os países de baixa renda.

Segundo a pesquisa pessoas que vivem com DNTs correm maior risco de doenças graves relacionadas a Covid-19 e de morte. As razões mais comuns para descontinuar ou reduzir os serviços foram devido ao cancelamento dos tratamentos planejados, uma diminuição no transporte público e, portanto, restringindo a capacidade dos pacientes de se deslocarem aos centros de saúde, bem como a falta de pessoal porque os profissionais de saúde foram transferidos para apoiar serviços com a Covid-19.

Além do impacto econômico, o stress psicológico da pandemia é enorme, levando muitos pacientes a ficarem em casa a todo custo, não procurando assistência médica para as consultas regulares e, inclusive, situações de emergência sendo postergadas. O acesso reduzido a cuidados, medicamentos e diagnósticos para pessoas com diversas condições clínicas pode levar a um aumento de mortes por causa desses problemas subjacentes. Eventualmente, isto pode levar a mais morbidade e mortalidade do que a causada pelo própria Covid-19. Manter as atividades mais críticas de prevenção e serviços de saúde fortalecidos e bem equipados além de conscientizar a população para continuar o tratamento de outras doenças crônicas podem reduzir substancialmente o impacto geral da pandemia. 

(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/9/2020. Opinião. p.18.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

IMUNIDADE DE REBANHO E MÉDIA MÓVEL DA COVID-19 EM FORTALEZA-CEARÁ: motivo das incongruências entre afirmações da mídia e do governo

Por Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira (*)

Imunidade de rebanho é forma indireta de proteção individual, que acontece quando porcentagem significativa da população já teve ou foi vacinada para uma doença, nos dois casos produzindo imunidade específica. Neste caso, haveria menos susceptíveis (não doentes e não vacinados) do que recuperados e imunizados. A competição entre vírus vacinal e sua forma selvagem e a presença de menos susceptíveis favorece a diminuição da transmissão pessoa-pessoa (R), protegendo aqueles que ainda não adoeceram ou foram vacinados, que nesse ponto terão menor probabilidade de se infectar.

Este ponto ocorre quando a doença mostra estado contínuo de endemia, no qual o número de infectados sofre alteração linear, ou seja, não mais aumenta ou diminui exponencialmente. Para calcular os susceptíveis (S), tem-se que R*S = 1. Assim, quanto menor o número de susceptíveis (S) ou quanto mais pessoas imunes, menor a transmissão da doença e menos ela se espalha. Mas qual o R que representaria imunidade de rebanho no caso da Covid-19? Essa proporção depende do quão infecciosa é a doença, sendo de 95% para o sarampo e 35% para a gripe. Ora, o SARS-Cov-2, vírus causador da Covid-19 é um vírus respiratório, como o da gripe. Qual seria seu percentual para gerar imunidade de rebanho? A atual estimativa de R para a Covid-19 em Fortaleza é 0,79, o que levaria ao nível de imunidade de rebanho correspondente a 26,7% de todos os susceptíveis. Ainda não temos vacina. A população de Fortaleza em 2020 é de 2.686.612 pessoas. Assumindo a premissa de todos são susceptíveis, teríamos a necessidade de 717.325 casos de Covid-19 em Fortaleza para induzir imunidade de rebanho.

Até agora têm-se 224.847 casos de Covid-19 no Ceará. Assumindo a premissa de que metade desses casos do Estado é em Fortaleza, seriam 112.434 casos da doença na cidade. Assumindo, ainda, subnotificação de 50% (pessoas que adoeceram e não procuraram o sistema de saúde nem foram identificadas como casos da doença pela vigilância epidemiológica), haveria total de casos em Fortaleza de 224.847 doentes/ recuperados. Assim, atualmente ocorreu apenas um terço dos casos necessários para se alcançar a imunidade de rebanho em Fortaleza. E ainda há que se considerar a aparente transitoriedade da imunidade produzida com o adoecimento pela Covid-19, o que aumentaria a necessidade de doentes, pois a imunidade de rebanho dura enquanto perdurar a titulação de anticorpos nos recuperados/vacinados, neste último caso ainda inexistentes.

Deseja-se, além dos casos atuais, mais 500 mil casos de Covid-19 em Fortaleza ou é mais prudente adotar medidas protetivas? Considerando a escolha da segunda opção, use máscara, proteja os olhos e mantenha o distanciamento social. A Covid-19 não acabou só porque você cansou de ficar em casa! Bom, então inexiste condição de imunidade de rebanho na Covid-19 em Fortaleza, sendo relevante acompanhar a média móvel da doença para verificar seu estágio atual em nossa capital.

A média móvel é a média aritmética simples em um período x, feita para suavizar oscilações e facilitar visualizar a tendência da curva de casos/óbitos. Ela é chamada de média móvel porque não é fixa, ou seja, todo dia o cálculo é refeito, somando-se o valor dos casos/óbitos daquele dia com o dos 6 dias anteriores, tudo isso somado e depois dividido por 7, no caso da média móvel de 7 dias, que é a mais usada pela imprensa no caso da Covid-19. Dessa forma, diminuem-se as distorções causadas pelos plantões de fim de semana e feriados, quando há menos registros, e os picos de registros no início da semana, quando o registro de casos/óbitos é retomado.

Como Fortaleza teve pico cedo (maio/2020), atualmente, os casos na cidade estão baixos, mas, como em todo o mundo, são flutuantes, com microondas da doença, então o percentual já não é mais a melhor medida para o nosso caso, porque a proporção entre número absoluto e percentual já é grande, dando uma falsa ideia de que estamos vivenciando uma situação ruim aqui no Estado, o que não é verdade. Ademais, Fortaleza está melhor que o Ceará, por ter sido o primeiro município do Estado a ter iniciado sua curva epidemiológica, o que a deixa com maior decaimento (descida) da curva que o resto do Estado, mas o Ceará também já está quase finalizando o decaimento (descida) da curva. Assim, a melhor forma de cálculo para Fortaleza e o Ceará, bem como para todos aqueles municípios/Estados com poucos casos diários da doença, seria usar números absolutos no cálculo da média móvel junto de seu desvio padrão, ou outra medida mais adequada, para que a matemática realmente possa representar a realidade da Covid-19 nos estados mais evoluídos em sua curva epidemiológica.

(*) Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em da Universidade Estadual do Ceará-UECE. Pesquisadora do CNPq. Membro do Grupo de Trabalho-GT para enfrentamento à pandemia do coronavírus da UECE

*Publicado In: Jornal do médico digital, 1(5): 66-69, setembro de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

CRIANÇA: Lições de moral

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Luizinho possuía oito anos de idade, era filho adotivo, há quase seis, do senhor João e de dona Helena, morava numa cidade média e cursava a terceira série do curso primário. Aluno exemplar e, apesar de pouca idade, voraz leitor de livros. A leitura era um bom vício daquela criança, querida e admirada por seus coleguinhas e pela professora Fátima. Era, carinhosamente, chamado pelos amiguinhos de professor Luiz. Sua leitura predileta eram as fábulas de Esopo. Certo dia o senhor João entrou no quarto do garoto e percebeu que ele estava com três livros contendo várias fábulas de Esopo. O menino, além de muito inteligente era precoce. Percebendo a presença do pai, convidou-o para ler e interpretar algumas histórias. Selecionou seis fábulas e disse ao senhor João: vou ler algumas e juntos examinaremos a lição de moral de cada. Dizia o nome da fábula (todas de Esopo), lia e tirava a conclusão. Seguem: “A águia e a raposa”- o agressor que não é punido por suas vítimas mais fracas, não escapa do castigo de Deus; “O cão que perseguia o leão”- os arrogantes recuam, quando os mais fortes reagem; “O corvo e a cobra”- existem pessoas que põe em perigo a própria vida para encontrar algo desprezível; “O leão furioso e o veado”- fique longe das pessoas poderosas que fazem o mal; “O sol e as rãs”- as pessoas levianas aplaudem sem sentido; “A cigarra e a formiga”- uma pessoa deve trabalhar para não passar necessidade. Após a leitura e interpretação das fábulas por Luizinho, seu pai ficou admirado e entusiasmado. Filho querido, você me enche de orgulho! Continuou, estou vaidoso! Não pense assim papai, pois orgulho e vaidade são armas usadas pelos fracos e frustrados, o que não é o seu caso. O senhor é humilde, bom e generoso. Sejamos, pai, semeadores de sonhos e esperanças para alcançarmos a realidade. Peço-lhe a bênção.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 4/9/2020.

domingo, 27 de setembro de 2020

REVIVENDO A CORRIDA ESPACIAL EM TEMPOS DA COVID-19

      A quase bicentenária revista médica The Lancet, cuja credibilidade científica fora duramente arranhada recentemente, a reboque de um polêmico e malfadado artigo sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, publicou em 4 de setembro de 2020 um trabalho contendo os achados iniciais de um estudo com uma vacina russa, denominada Sputnik V, testada contra o novo coronavírus.

O imunizante em apreço encontra-se em desenvolvimento no Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia pertencente ao Ministério da Saúde da Rússia, cujo governo prometeu começar em outubro próximo a vacinação em massa dos seus cidadãos.

A Sputnik V é uma vacina de vetor em que o material genético do vírus é transportado por um vírus inócuo, que não consegue se replicar, com o propósito de estimular a produção de anticorpos contra o Sars-CoV-2. Ela usa dois vetores de adenovírus: um é o adenovírus humano recombinante tipo 26 (rAd26-S) e o outro é o adenovírus humano recombinante tipo 5 (rAd5-S), que foram alterados para expressar a proteína S do novo coronavírus, uma proteína utilizada pelo vírus para ingressar nas células e infectá-las.

As vacinas foram elaboradas em formato congelado, já considerando a necessidade da produção e da distribuição em larga escala, e na versão liofilizada, para permitir que a vacina seja remetida a locais remotos e se mantenha estável em baixas temperaturas.

A investigação foi aplicada em dois grupos de 38 adultos saudáveis, perfazendo 76 sujeitos, com idades entre 18 e 60 anos, acompanhados durante 42 dias, sendo um para medir a segurança da vacina e outro para avaliar a sua eficácia.

Os indivíduos assim que se voluntariaram a receber a vacina se isolaram, para evitar contágio prévio por coronavírus. Após a inoculação, eles foram seguidos, ao longo dos dias de acompanhamento, em dois hospitais russos. A versão congelada foi administrada no Hospital Burdenko, uma unidade do Ministério da Defesa, e incluía militares. A versão liofilizada foi testada na Universidade Sechenov, apenas com voluntários civis.

Os autores do estudo afirmaram ter identificado a eficácia da Sputnik V, interpretando que os resultados sugerem que a vacina produz uma resposta das células T dentro de 28 dias e que a produção de anticorpos no plasma foi maior nas amostras dos inoculados quando comparada com a de pessoas infectadas.

Cumpre salientar que o “n” amostral do estudo russo foi de pequeno tamanho, condição também reconhecida pelos próprios autores e ainda sofreu vicio de seleção, perceptível na sua proeminência de pessoas jovens, bem como pela presença de muitos militares entre os recrutados do estudo.

Para esses autores, a segurança foi comprovada porque não teriam acontecido resultados adversos nas pessoas testadas, como consequência da Sputnik V. Contudo, essa vacina não ficou livre de efeitos colaterais, posto que, entre os investigados, cerca de metade deles teve febre alta (50%) e cefaleia (42%); além disso, aproximadamente um quarto se queixou de adinamia (28%) e de artralgias / mialgias (24%).

A bem da verdade, nenhum dos efeitos colaterais acima reportados é qualificado como efeito adverso grave, sendo eles usualmente semelhantes aos que são detectados no processo de desenvolvimento de vacinas similares.

Sabe-se que efeitos adversos graves de fármacos em estudo são, frequentemente, eventos de ocorrência rara, sendo, por conseguinte, muito baixa a sua probabilidade de ocorrer em pequenas amostras. Em geral, quando eles existem, apenas são verificados em estudos de fase III, como o que se constatou, recentemente, com a vacina ora em desenvolvimento, fruto da parceria entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca, quando se diagnosticou um caso de mielite transversa, o que desencadeou a suspensão temporária da pesquisa, para se dirimir a causalidade, associando-a ou não ao uso dessa vacina. Por vezes, os efeitos adversos graves somente são aflorados quando o fármaco já está liberado para amplo emprego populacional e se acha em processo de vigilância pós-comercialização.

Os resultados do estudo russo foram acolhidos de modo entusiástico por governantes e pelo público em geral, porém apenas discretamente encorajadores na comunidade científica, diante da velocidade na realização da pesquisa e da sua subsequente publicação na The Lancet, e por ser ainda um estudo de fase II.

Há mais de uma centena de vacinas sendo desenvolvidas em laboratórios de vários países e algumas delas já vêm sendo testadas em estudos multicêntricos de fase avançada conduzidos em muitos países, a exemplo do Brasil, no esforço internacional de se dotar a humanidade de uma vacina que seja, ao mesmo tempo, eficaz e segura, e igualmente acessível e de baixo custo.

Há, claramente, uma disputa de mercado, marcado não tanto para gerar um benefício para a Humanidade, mas para garantir um lucro exacerbado aos fabricantes que se assenhorarem dessa cadeia de produção, comercialização, distribuição e aplicação da vacina contra o novo coronavírus. Dificilmente, o mundo se deparará com o altruísmo perpetrado por Albert Sabin, que renunciou ao seu inerente direito de patente da vacina antipoliomielite oral, para tornar a sua invenção algo inteiramente acessível aos povos e nações. A ele, no entanto, foi-lhe negado o Prêmio Nobel de Medicina, apesar de sucessivas indicações do seu nome para auferir essa honraria; entretanto, a despeito dessa injustiça, o cientista Albert Sabin figura no rol dos grandes benfeitores da humanidade.

Desperta especial atenção o fato do Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia nada ter publicado sobre os resultados laboratoriais com o patógeno e os ensaios pré-clínicos dessa pesquisa, tornando público os resultados da sua fase II.

Alguns elementos dessa investigação desencadeiam severas críticas e dúvidas sobre o presente projeto do Instituto Gamaleya. Um deles, naturalmente, é a pressa com que os russos buscaram se projetar nesse campo científico, mormente quando se desconhece uma contribuição de proa e deveras inovadora no âmbito da pesquisa imunológica oriunda das frias estepes russas.

Considerando o ambiente de concorrência, às vezes até um pouco inóspito, entre a Rússia e países do Ocidente, muitos acreditam que etapas possam ser suprimidas ou mitigadas para se anunciar um retumbante sucesso, antes mesmo que a eficácia vacinal seja ratificada.

Com efeito, o Instituto Gamaleya informou que o estudo da fase III da vacina foi aprovado em 26 de agosto passado e envolverá 40 mil voluntários, com idades e estados de saúde variados. Mas, por outro lado, o Presidente Putin anunciou que a vacinação em massa dos russos transcorrerá, paralelamente, à aplicação da fase III, e não na sequência desta, como seria o cientificamente recomendado.

Observa-se que diversos países ingressaram em uma espécie de corrida contra a Covid-19, assemelhada à corrida espacial, em que se busca exibir a supremacia científica e tecnológica sobre países rivais ou competidores.

A maneira como os russos se lançaram nessa disputa de mercado traz à mente a lembrança da corrida espacial, no período da guerra fria, do pós-II Grande Guerra, vencida pelos países aliados, quando os norte-americanos enfrentaram os soviéticos no campo do espaço, e os últimos assinalaram um tento à frente ao lançarem, em 4 de outubro de 1957, na órbita terrestre o primeiro satélite artificial, o Sputnik I, que culmina com o Sputnik V, quando em 1957 se projetou no espaço a cadela Laika. Pelo visto, não foi obra do mero acaso nomear de Sputnik V a vacina russa contra a Covid-19.

Parece estranho que governadores brasileiros se antecipem na adesão à vacina russa em epígrafe, como o estado do Paraná, que assinou um memorando de cooperação para ter acesso à Sputnik V, e o da Bahia, cuja Secretaria de Saúde fechou acordo com a Rússia para o fornecimento de 50 milhões de doses da vacina Sputnik V ao Brasil. O estranhamento ganha visibilidade quando não se sabe da real validade externa do estudo publicado em The Lancet e, de igual modo, se desconhece tanto o grau como a duração da imunidade proporcionada pelo produto russo.

Por fim, é recomendável não incorrer em maiores riscos e gastos impróprios ao se utilizar essa vacina russa, antes da mesma vir a ser submetida a um protocolo de fase III, no qual se comprove uma saudável relação custo-benefício.

Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Docente de Epidemiologia Clínica da Uece

*Publicado In: Jornal do médico digital, 1(5): 60-5, setembro de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

TEMPLOS FECHADOS, IGREJA ABERTA

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Em março, nossa Arquidiocese com prudência e sabedoria solicitou que as paróquias se fechassem aos cultos. Animava paróquias a buscarem formas de acompanhar os fiéis, tendo como critério de decisão e discernimento, a preocupação com o bem comum e a saúde pública.

A maioria dos fieis acolheu as motivações e necessidade da novidade. Um pequeno grupo era contra e criticava a decisão como concessão ao medo ou falta de confiança em Deus, destilando ataques injustos aos bispos.

O que Jesus faria se estivesse em nosso contexto? Com certeza, estaria a favor da promoção da saúde e proteção de seus seguidores. A Igreja não seria a de Jesus se colocasse em risco, com suas celebrações, a saúde e a proteção das pessoas. Restringir a vida da Igreja à presença no templo é ter uma visão limitada da ação do Espírito que sopra onde e como quer.

A Igreja não está fechada, mesmo que os templos estejam. As casas passaram a ser templos, espaço para experimentar sua sacralidade, espaço da celebração e da fé. Ao deslocar-se para as casas, a Igreja reencontrou sua fonte mais pura e suas origens mais genuínas, antes de ser templo, a Igreja foi casa.

Nas casas mostrou-se ativa: "eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" At 2,42. Igrejas domésticas, alimentadas na oração, celebrações transmitidas pelas TVs, rádios e mídias sociais, redes de solidariedade na assistência aos pobres pela caridade. Um chamado a redescobrir e valorizar a força da experiência espiritual e o protagonismo pastoral que a família é para a própria Igreja, no horizonte pós-pandemia.

Muitos despertaram para a importância de viver e partilhar a fé em comunidade, e que, vendo a vivacidade da comunidade cristã, com certeza serão atraídas para esta, inclusive desfrutando de seu espaço físico em um futuro próximo.

Igreja-mãe preocupada com a proteção de seus filhos numa pandemia jamais vista. Nos colocou cada um em sua casa e Deus na casa de todos. Uma coisa linda de testemunhar. Templos fechados, igrejas domésticas abertas e vivas. 

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia.

Fonte: O Povo, de 1/8/2020. Opinião. p.16.

sábado, 26 de setembro de 2020

Dr. MARTINHO: clínico de renome na Academia Cearense de Medicina

 

Martinho Rodrigues Fernando nasceu em Camocim–CE, em 29/05/1940, tendo como pais Fernando Rodrigues e Maria Coelho Rodrigues.

Seus primeiros estudos foram em casa, com os próprios pais. Completou o curso primário no Instituto São Raimundo e no Grupo Municipal; o secundário no Ginásio Municipal de Fortaleza. Fez o curso científico no Liceu do Ceará.

Em 1961 foi aprovado no vestibular de Medicina, concluindo a graduação médica na Universidade Federal do Ceará (UFC) em 1966. Quando fazia o curso médico, lecionou biologia em Cursos Pré-universitário e foi Monitor-bolsista da disciplina de Anatomia Patológica.

Concluída a graduação, Martinho iniciou a Residência Médica (RM) no então Hospital das Clínicas da UFC, atual Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). Quase ao fim da RM, foi incumbido de coordenar o Internato (estágio rural) da turma de graduandos de 1968, em Quixeramobim-CE.

Começou a trabalhar no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), ainda em fase pré-inaugural, no final de março de 1969. No HGF, Martinho trabalhou como plantonista da Emergência e no ambulatório de Clínica Médica. Dois anos depois passou a integrar a equipe de médicos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) recém-inaugurada.

Em 1970, aprovado em concurso, assumiu como Professor de Semiologia Médica da Faculdade de Medicina da UFC (FMUFC). Em 1975, Martinho assumiu a chefia do Serviço de Clínica Médica do HUWC, onde permaneceu até 1988. Em 1980 obteve a progressão para Professor Adjunto IV.

Em 1979, teve a honra de ser eleito Patrono da trigésima turma de médicos formados pela UFC. Foi homenageado pelo CREMEC, com a Medalha de Honra ao Mérito Profissional.

Por muitos anos, Martinho foi Coordenador Geral da RM e do Internato, tendo participação ativa nas Sessões Anátomo-Clínicas do HUWC. Como Professor Adjunto, várias vezes fez parte de Banca Examinadora em concursos para Professor de Clínica Médica na UFC.

Após aposentar-se do serviço público, instalou consultório no Hospital Gênesis, onde atende clínica privada e atua como Diretor Clínico.

É membro licenciado da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional Ceará e acadêmico fundador vitalício da cadeira 25 da Academia Cearense de Médicos Escritores, tendo publicado os livros: Em Tempo de Poesia, A Poética do Afeto, Manhãs de Sábado e Medicina: a última profissão romântica?

Ingressou na Academia Cearense de Medicina, em 25/10/19, como ocupante da Cadeira 27, patroneada pelo médico Hyder Correia Lima.

Ac. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Academia Cearense de Medicina – Cad.18

*Publicado In: Jornal do médico digital, 1(5): 58-9, setembro de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

SINDICATO DOS MÉDICOS CHEGA AOS 79 ANOS!

Por Leonardo Alcântara (*)

Todos os anos, quando se aproxima o dia 29 de agosto, nós, do Sindicato dos Médicos, nos enchemos de expectativas e planos para comemorar o aniversário da nossa entidade; porém, 2020 está sendo um ano atípico e diferente de tudo que esperávamos. Mas, quando eu olho para o trabalho que o Sindicato fez e vem fazendo, vejo uma instituição que, apesar do cenário delicado, se manteve firme no propósito de trabalhar em prol da valorização da categoria médica e da Medicina de qualidade no Ceará.

Nossa entidade vem se destacando por diversas ações com objetivo de atenuar os impactos da crise do novo coronavírus no Estado, entre as mais importantes estão: a garantia de equipamentos de proteção individual (EPIs) nas unidades hospitalares; a solicitação de reforço para equipes médicas nas UPAs; e a antecipação da colação de grau dos estudantes de Medicina do último semestre para atuarem contra a Covid-19.

Durante os primeiros meses da pandemia, o Sindicato continuou funcionando na modalidade home office para atender às demandas, principalmente no período do lockdown. Nosso departamento jurídico vem trabalhando incansavelmente para assegurar todos os direitos dos médicos filiados. Também recebemos denúncias tanto dos profissionais como dos pacientes sobre a falta de infraestrutura nas unidades de saúde. Todas as reivindicações foram levadas por nós ao poder público com consequente resolução da sua maioria.

Para mim, é uma honra estar à frente de uma entidade que está sempre ao lado do médico e atua na preservação do direito de acesso da população a serviços de saúde de qualidade. Os nossos 79 anos representam uma relação firme, longeva, resistente, de bastante cuidado e que já passou por diversas fases, mas que sempre se renova e nunca se esquece do seu propósito.

Nossa entidade celebra mais um ano de existência, reconhecendo a importância da sua história para a sociedade e sem perder a visão de que cada conquista precisa de um longo caminho a ser percorrido. Assim, firmamos a cada dia o compromisso em ampliar e defender os direitos dos nossos profissionais. Parabéns, Sindicato dos Médicos do Ceará.

(*) Presidente interino do Sindicato dos Médicos do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/8/2020. Opinião. p.20.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Crônica: "O habite-se do carro de Zezé" ... e outros causos

O habite-se do carro de Zezé

Primeira: Zezé Paraibano (natural de Marizópolis) levantava célere sua casinha, em São Gerardo, sem licença da Prefeitura. Algum vizinho "cabuetou" e o fiscal foi bater lá. Oi de casa! Lá Zezé aparece, no meio dos tapumes que escondiam a obra em andamento.

- Pra começo de conversa, cadê a planta?

- Pois não, doutor! Me acompanhe, por favor!

Levando o fiscal pelo braço até o quintal, mostra-lhe frondoso cajueiro, carregado de dulcíssimos frutos vermelhos.

- Ô planta linda, doutor! Pense no suco desse caju!

Segunda: tinha um misto (Jipe 62), seu ganha-pão. Numa véspera de Natal (era a operação Papai Noel), acharam de parar o carro de Zezé com o fraterno intuito de "faturar o da rapadura dos buchudim". Tudo legal com freio, faróis, estepe, capota, macaco, manivela, cepo.

Mas, a documentação... Tinha já meia hora que o rapaz da lei olhava pra lá e pra cá a papelada do carro, num saco plástico. Procurava brecha pra pegar no pé de Zezé e garantir o agrado pras festas de Ano.

- Tudo beleza, tá faltando só o habite-se.

- Faltando?

- Sim, o habite-se...

- Pois trate de dar conta dele! Em 45 anos de carteira, é a primeira vez que alguém bole nesses documentos.

- Acontece que...

- De tanto mexer aí, o senhor acabou perdendo ele! Pode dar conta do meu habite-se!

A latrina de dona Dadá

Era mesmo que nada! Inócuo reclamar deles a pontaria. Dona Dadá insistia porque, afinal, era seu estabelecimento - motivo já de cismas pela vigilância sanitária. Questão de saúde pública, pois, manter a higiene do local que, com trabalho e carinho, fez-se o ganha-pão daquela boa senhora.

- Negrada, quando forem obrar, cuide pra não melar as beiradas!

Tudo bem, era uma pensão sem luxo, mas aconchegante, um "aubidiente familhar". Só que os oito estudantes ali hospedados na pensão de dona Dadá, egressos do sertão brabo, eram por demais rebeldes. Meninos bons, mas 'maluvidos'. De repente, ou eles mudavam o proceder irresponsável, ou rua!

- Quando eu tiver dinheiro, faço uma privada decente. Por ora, é só isso!

Explico: o "mato" (latrina de pobre) da pensão de Dadá era aquele modelo de sanitário rente ao solo. Os rapazes se acocoravam e mandavam bala, na maioria das vezes perdida. Ou seja, sujavam as bordas do obratório, já gastas pela passagem aquecida dos petardos.

Dona Dadá, enfim, ultima. Escreve em cartolina aviso derradeiro, pedindo, "pelamor de Deus", tivessem todo cuidado quando do ato solene de desbastar as coisas: "Favor mirar bem, fazer bastante PONTARIA ao defecar!!!"

Acontece que um dos estudantes, gaiato como sói acontecer nessas circunstâncias, escreveu uma quadrinha, no canto da cartolina, em resposta à preciosa requisição da dona da pensão:

"Querida dona Dadá

Fazer pontaria não dá

Se eu fechar o ôi da goiaba

Como é que eu vou defecar?"

Fonte: O POVO, de 1º/11/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A COVID-19 E OS EFEITOS NA SAÚDE DOS RINS

Por Moisés Santana (*)

No início da pandemia pelo novo coronavírus, os dados chineses mostravam uma baixíssima incidência de lesão aguda nos rins. Porém, com a progressão da pandemia foi possível perceber que a realidade era diferente, como mostraram alguns trabalhos científicos depois que o vírus se alastrou pela Itália. Lá, 30% dos pacientes internados em UTIs com Covid precisavam de hemodiálise por conta da instabilidade do quadro e por não suportar o acúmulo de líquido no organismo. Aqui no Brasil a pandemia também aumentou a demanda por hemodiálise. Os centros com UTI para Covid-19 chegaram a dobrar o número de diálise e quadruplicar o número de terapias renais contínuas. Ao que tudo indica, nem mesmo a estabilização da pandemia irá permitir que consigamos dimensionar os novos desafios que nos aguardam.

A grande dúvida é: quantos desses pacientes que se recuperaram da infecção permanecerão com disfunção renal, necessitando ou não de hemodiálise? É esperado que a lesão aguda cesse após a melhora clínica do paciente, mas hoje sabemos que isso não está acontecendo em todos os casos. Muitos que ficam curados da Covid precisam de acompanhamento nefrológico ambulatorial ou mesmo de terapia renal substitutiva.

O fato é que hoje a ciência ainda não conhece com precisão a relação ou mesmo o número de casos em que a insuficiência renal está ligada à Covid, ainda mais se levarmos em conta que mais de 130 mil pessoas já faziam diálise no País antes da pandemia começar.

Nesse contexto, também temos que ter em mente que muitos pacientes renais adiaram consultas e exames por conta das medidas de distanciamento social. Ainda não conseguimos medir o impacto do adiamento dessas consultas e exames, mas temos conhecimento que doenças graves capazes de comprometer os rins estão menos recorrentes nos hospitais, sendo pouco provável que elas tenham diminuído com a pandemia.

Por mais que essas evidências existam, estamos às escuras. É preciso que os gestores públicos tenham uma atenção especial pela saúde, pois quando o impacto for visível ele vai afetar o sistema de saúde visto que os efeitos diretos e indiretos na saúde dos rins são expressivos.

(*) Médico nefrologista. Presidente da Associação das Clínicas de Diálise do Estado do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/8/2020. Opinião. p.20.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

COVID-19: solidão, depressão e suicídio

Por Márcia Alcântara Holanda (*)

Manu, de nome Manuel, viúvo de 79 anos, amigo de Rita, minha amiga (nomes fictícios de pessoas reais), comunicava-se sempre com ela, há anos. Durante o isolamento social para controle da Covid-19, em 16 de março deste ano, Manu passou a falar pouco. Um dia, até lembrou-se do quanto, divertiram-se muito juntos, mas que no isolamento do quarto, de seu apartamento, onde viviam mais três pessoas, sentia-se muito infeliz. No centésimo dia daquele isolamento, trocara zaps com Rita e, queixara-se de estar imensamente triste. Com a chegada da pandemia e enclausurado, sua existência sumira, disse. Seus familiares protegiam-no ao máximo, pois era idoso e, por isso, vulnerável àquela virose. Tinham medo de que ele morresse. Dissera também que não havia TV, redes sociais, caminhadas em círculos dentro do quarto, que trouxessem alento àquela vida, sem vida. Perdera a esperança; a incerteza dominara seu pensamento. Deduzira: "Sou apenas um velho que pega doenças à toa". Estava com medo, que somara-se ao da família.

Quando chegou a hora de largar o isolamento, não o fez. Deixara de funcionar: nem banho queria tomar. "Alimentar-se para que, se nem existia?", falou. Rita sentiu a evidência da depressão nele. Tentou dissuadi-lo do medo e o estimulou a consultar-se. Ele, então, silenciou seu celular e sua voz. Em 4 de julho fora tirado daquele quarto, morto por enforcamento.

A Covid-19 tem levado muitos "Manus" ao suicídio. A "gripezinha" é mortal também pelo isolamento do ser, pouco assistido; promove a solidão, que leva à depressão e, as vezes, ao suicídio que mata um indivíduo, a cada 40 segundos no Mundo, diz a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Andrew Solomon, autor do livro O demônio do meio-dia, acrescenta em entrevista à Folha de S. Paulo, que a depressão está subnotificada e citou a pandemia da Covid-19 como um dos fatores, provocadores da doença, pelo isolamento, gerando solidão, incertezas sobre o presente e o futuro, medo e disfuncionalidade do ser, que pode não suportar o intenso sofrimento transitório do viver, levando-o ao suicídio. Aos que desejam controlá-la, recomendou ter rotinas como: dormir e alimentar-se bem, não exagerar nas bebidas, frequentar as redes sociais, conversar muito e pedir ajuda terapêutica, pois a depressão tem controle. 

(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 20/8/2020. Opinião. p.19.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Uma Escola de Saúde, uma pandemia e um novo futuro

Por Marcelo Alcântara Holanda (*)

Enquanto escrevo, o Brasil alcança a triste marca de 100.000 mortos pela Covid-19. Oficialmente, cerca de três milhões de brasileiros desenvolveram a doença em pouco mais de cinco meses. Um número significativo segue subnotificado, outro tanto com sequelas. Os primeiros casos foram confirmados em Fortaleza ainda em março deste ano. Nossa capital, hub aéreo internacional e com uma das mais altas densidades demográficas da nação, sofreu impacto mais precoce e intenso da pandemia do que outras capitais do Nordeste, segundo análise do Centro de Inteligência da Escola de Saúde Pública (ESP), autarquia vinculada à Secretaria da Saúde.Três anos mais nova que o SUS (Sistema Único de Saúde), esse trintão, a ESP, segue numa mobilização ininterrupta há pelo menos seis meses nessa grave crise sanitária, que aponta a conscientização da importância do SUS para a saúde dos brasileiros como o seu principal legado. Para tanto, é preciso narrar o processo de enfrentamento permitindo reflexões e análises pertinentes. A ESP se alinhou prontamente às ações governamentais. Poucos dias após os primeiros casos, pôs no ar site dedicado ao enfrentamento da pandemia alcançando mais de 600 mil usuários. Protocolos clínicos, vídeos e notas técnicas sobre o manejo da Covid-19 foram elaborados e publicados. Webconferências com mais de 20 mil pessoas envolveram o Estado. Mais de mil profissionais de saúde foram capacitados de forma presencial e o dobro em cursos EAD (Ensino a Distância).

A escola participou ativamente das plataformas de telessaúde fundamentais na orientação aos cidadãos. Nasceu na ESP a ideia do Elmo, capacete de auxílio à respiração para prevenção à necessidade de intubação para pacientes com insuficiência respiratória, numa força-tarefa com Funcap, UFC, Unifor e Fiec. Com o Senai, a ESP trabalhou na idealização e viabilização da Central de Ventiladores, que recuperou mais de 100 respiradores. O app iSUS pôs na palma da mão dos profissionais recursos necessários ao melhor cuidado dos pacientes. Uma rede de pesquisas clínicas apoiada pela ESP e com o programa Cientista Chefe da Funcap se delineou em tempo recorde.

Desenhar o futuro enfrentando o presente nos motiva a buscar o fortalecimento da ESP como instituto de ciência e tecnologia e órgão de inteligência em saúde, não como uma ação de governo, mas de Estado, cujos resultados podem transcender gerações e beneficiar a todos. 

(*) Médico. Professor da UFC. Superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/08/2020. Opinião. p.17.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MAHATMA GANDHI

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

A violência física, moral, intelectual, cultural, ética, em todos os seus aspectos, tem se constituído no principal problema da humanidade. “Ahimsa” (não violência) é um termo sânscrito, língua clássica da Índia, onde se busca a verdade (“Satyagraha”). O principal ensinamento de Mahatma Gandhi baseia-se num ativismo pacífico. Não confundir com passividade. Para ele e seus seguidores, o uso da violência poderia conduzir a uma pseudoverdade. Dessa forma, a filosofia gandhiana, além de rejeitar a violência, evidencia respeito total à vida. Gandhi lutou para combater o mal com o bem, chegando a amar aqueles que o odiavam. Por outro lado, lamentavelmente, muitas vezes, as sociedades organizadas não abrem mão dos seus direitos, motivando o egoísmo e, em consequência, gerando a violência. Cícero, jurista, filósofo, político e grande orador salientou: “Summum jus - summa injuria” (o supremo direito é a suprema injustiça). Aquele que reclama todos os seus direitos pessoais pode ser considerado um egoísta, um violento; porém aquele que busca a justiça atua em nome do amor, da solidariedade, da não ambição e, consequentemente, de Deus. Aliás, toda religião necessita de pioneiros e de pessoas que sintetizem a fé, unindo princípios e consolidando uma doutrina coerente. Procuremos ter o Sermão da Montanha como ponto fundamental da harmonia espiritual, pois dá ênfase ao primeiro mandamento (o amor a Deus), mediante a fé, e ao segundo (o amor ao próximo), através da ética. Conforme Gandhi, “Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”. Por fim, admitindo-se ser o direito de natureza violenta e a justiça de caráter não violento, somos levados a imaginar e debater um novo modelo político: ao invés do Estado Democrático de Direito, o Estado Democrático de Justiça.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 28/8/2020.

domingo, 20 de setembro de 2020

SPUTNIK EM TEMPOS DA COVID-19

A revista The Lancet publicou em 4/9/2020 um trabalho com os resultados preliminares de um estudo com uma vacina testada contra o novo coronavírus.

Denominada Sputnik V, o imunizante está sendo desenvolvido pelo Instituto Gamaleya, sob o patrocínio da Rússia, cujo governo promete iniciar em outubro vindouro a vacinação dos seus cidadãos.

A pesquisa envolveu a testagem em 76 sujeitos, acompanhados durante 42 dias, sendo metade para aferir a segurança da vacina e metade para verificar a eficácia vacinal.

O estudo anunciou que a produção de anticorpos no plasma foi maior nas amostras dos inoculados quando comparada com a de pessoas infectadas, garantindo assim a eficácia da vacina. Para eles, a segurança foi atestada porque "não houve resultados adversos" decorrentes da Sputnik V nas pessoas testadas.

Os resultados foram vistos de forma animadora por governantes e cidadãos em geral, mas despertaram ceticismo em cientistas e epidemiologistas pela celeridade na condução da investigação e por ser ainda um estudo de fase II.

A amostra estudada foi de pequeno tamanho e também padeceu de viés de seleção diante da sua predominância de jovens, com muitos militares entre os recrutados do estudo.

A Sputnik V não foi isenta de efeitos colaterais, pois entre os testados foram relatados febre alta, cefaleia, adinamia etc.

Efeitos adversos graves são, comumente, eventos de rara incidência, sendo baixa a sua probabilidade de ocorrer em amostras pequenas e, amiúde, quando existentes, somente são identificados em estudos de fase III.

Enfim, é preciso cautela em se preconizar o uso da dita vacina russa contra a Covid-19 antes dela ser validada em um protocolo de fase III.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Professor universitário e médico

* Publicado In: O Povo, de 20/09/2020. Opinião. p.26.

REABERTURA DO COMÉRCIO X ISOLAMENTO SOCIAL

Por Maria Helena Lima Sousa (*)

Considero equivocada a reabertura do comércio e a restrição do isolamento social, apenas a grupos de risco. É preciso entender que a Covid-19 não é uma “gripezinha”. Trata-se de um vírus de alto poder de disseminação e cada pessoa, mesmo assintomática, pode contaminar em média, outras quatro, resultando numa propagação em escala exponencial.

A falta de sincronização de ação entre as esferas decisórias dificulta a obtenção de resultados mais efetivos e a aberta oposição do presidente cria obstáculos ao entendimento da doença por grande parte da população.

Outro problema consiste na alta subnotificação dos casos. Estimativa do MS chega a 86%. Chama a atenção o aumento da proporção de internações por síndrome respiratória aguda que saltou de 3% em 2019, para 80% neste ano, sugerindo que 77% das mortes sejam atribuídas ao coronavírus sem diagnóstico.

Com isolamento severo, muitas vidas serão salvas, ainda que com retração da economia, mas em condições de recuperação no curto-médio prazo por meio de intervenção do Estado. Relaxar nas recomendações da OMS acarretará explosão do número de casos, além do colapso do sistema de saúde. Empresários defensores do fim do isolamento estão dando um tiro no próprio pé, pois o caos é sempre o pior cenário para a economia. Além disso, aos que minimizam a morte de idosos, além de cruel, saibam que eles são responsáveis por 19% do sustento das famílias brasileiras.

A vantagem do Brasil sobre outros países é o SUS, mesmo com o subfinanciamento histórico e o processo de desmonte em curso. Mas é nele que o MS está se ancorando pra enfrentar o coronavírus.

(*) Economista, doutora em Saúde Coletiva, Profa. Visitante da Universidade Estadual do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/3/2020. Confronto de ideias. p.18.

sábado, 19 de setembro de 2020

Surpreendentes Costumes de Outros Países II

Todos nós já experimentamos um choque cultural em algum momento de nossas vidas. Apesar disso, as tradições podem nos ensinar algo valioso sobre cada país e sua cultura. Hoje apresentamos curiosas tradições que ainda são observadas e que continuam impressionando muitos viajantes.
6. No México, não se deve presentear com rosas amarelas
No México, é melhor presentear com uma rosa vermelha tradicional em vez de escolher uma amarela, que significa "morte" na cultura desse povo.
7. Na Hungria, não se usa encostar os copos uns nos outros para um brinde.
Ao visitar a Hungria, pode ser surpreendente descobrir que as pessoas não encostam seus copos quando se trata de brindar. Essa tradição histórica remonta a 1848, quando a Áustria derrotou a revolução húngara e a celebrou brindando em tilintantes taças de cristal. Como represália, os húngaros decidiram não bater suas taças nem copos por 150 anos.
8. Na Dinamarca, joga-se canela em pó nas pessoas solteiras.
Existe uma antiga tradição dinamarquesa do século 16 que ainda persiste hoje. Se uma pessoa adulta estiver solteira no seu aniversário, seus amigos devem jogar canela em pó sobre ela. O costume remonta aos comerciantes de especiarias dinamarqueses, que muitas vezes não tinham tempo para se casar devido a suas viagens de trabalho.
9. Na China, a noiva chora antes do casamento.
Enquanto, em muitas culturas, um casamento é uma cerimônia cheia de risos e alegria, na China, um casamento tradicional é precedido por uma noiva que chora um mês antes da celebração. Depois de alguns dias, ele se junta à mãe e a outros membros da família para mostrar alegria pelo seu futuro casamento.
10. No Oriente Médio, jamais use a sua mão esquerda.
Em vários países do Oriente Médio, cumprimentar alguém ou comer com a mão esquerda pode ser considerado rude ou insalubre. Como esse membro é usado para fazer a higiene depois de ir ao banheiro, é considerada uma mão suja, que nunca é usada à mesa ou para cumprimentar amigos.
Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

Surpreendentes Costumes de Outros Países I


Todos nós já experimentamos um choque cultural em algum momento de nossas vidas. Apesar disso, as tradições podem nos ensinar algo valioso sobre cada país e sua cultura. Hoje apresentamos curiosas tradições que ainda são observadas e que continuam impressionando muitos viajantes.
1. Na Índia não se usa papel higiênico
Muitos viajantes ficam surpresos ao descobrir que, na Índia, o papel higiênico não é comumente encontrado nos banheiros. De fato, o que é usado para higienizar é a água de um pequeno balde ao lado do vaso sanitário. O uso de papel não é usado, pois pode entupir os canos e gerar resíduos adicionais.
2. Na Venezuela, o conceito de pontualidade é diferente
Se você comparecer a uma reunião ou festa na Venezuela, notará que é comum as pessoas chegarem mais tarde do que o planejado originalmente. Os venezuelanos observam um ritmo descontraído quando se trata de negócios e grandes eventos sociais. Ser impontual significa fazer uma entrada em grande estilo.
3. Na Indonésia, recém-casados não podem usar o banheiro
Na comunidade Tidong na Indonésia, um casal não pode ir ao banheiro por três dias após o casamento. Se o fizerem, estarão atraindo má sorte para o casamento. Os familiares cuidam dos noivos e garantem que eles não rompam essa tradição, além de fornecer ao casal apenas pequenas quantidades de comida e água.
4. O povo Masai cumprimenta-se cuspindo nas mãos
Embora cuspir seja considerado rude em muitas culturas, na tribo Masai do Quênia, é a forma comumente usada para cumprimentar e mostrar respeito. Os membros do grupo cospem as mãos antes de apertá-las, e eles também fazem isso com bebês recém-nascidos ou até noivas prestes a se casar para abençoá-las e desejar-lhes boa sorte.
5. Na Finlândia, reuniões de negócios podem ser feitas na sauna
A sauna não é apenas para relaxar, mas também como um lugar para discutir temas políticos ou de negócios. De fato, é uma tradição comum no mundo corporativo que colegas ou sócios frequentem a sauna juntos e tratem lá mesmo sobre assuntos da empresa.
Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

FOLCLORE POLÍTICO XLIII

 A morada do doutor

Pedaços de historinhas do mestre Leonardo Mota. Contadas por ele.

Quem entra no "Hotel Roma" de Alagoinhas, na Bahia, vai com os olhos a uma tabuleta agressiva em que peremptoriamente se adverte:

Pagamento adiantado: hóspedes sem bagagens e conferencistas

Também, em Pernambuco, o proprietário do hotelzinho de Timbaúba é, com carradas de razão, um espírito prevenido contra conferencistas que correm terras. Notei que se tornou carrancudo comigo quando lhe disseram que eu era conferencista, a pior nação de gente que ele contava em meio à sua freguesia. Supunha o hoteleiro de Timbaúba que eu fosse doutor de doença ou doutor de questão. Por falar em Timbaúba. Há ali um sobrado, em cuja parte térrea funciona uma loja de modas, liricamente denominada "A Noiva". O andar superior foi adaptado para residência de uma família. Eu não sabia de nada disso quando tendo indagado do Major Ulpiano Ventura onde residia o dr. Agrício Silva, juiz de Direito da comarca, recebi esta informação chocante:

- O doutô Agriço? O doutô Agriço está morando em riba d' "A Noiva"...

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

CATADORES E AMBIENTALISTAS

Por Artur Bruno (*)

Após aprovação na Assembleia Legislativa, a lei nº 17.256 que criou o Auxílio-Catador, foi sancionada pelo governador Camilo Santana. Ela vai beneficiar diretamente 1.249 catadores de 65 associações cearenses com uma renda mensal de R$ 261,25 (1/4 de salário mínimo) até dezembro de 2020.

O Auxílio faz justiça a uma categoria fundamental para o meio ambiente, que trabalha diuturnamente numa função que, para a maioria da população, é quase invisível, notadamente nos grandes centros urbanos. O Ceará produz mais de 14 mil toneladas de resíduos diariamente, com Fortaleza respondendo por cerca de 6 mil. Os catadores são ambientalistas por excelência, dando um duro exemplo de como reciclar resíduos sólidos, prática que, infelizmente, ainda não foi assimilada por grande parte da sociedade.

Originalmente, a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) elaborou, em conjunto com a categoria dos catadores de materiais recicláveis, o Projeto de Pagamento por Serviços Ambientais, criado por meio da Lei que instituiu a Política Estadual de Resíduos Sólidos.

Porém, a urgência da pandemia, que causou uma calamidade na saúde pública e prejudicou ainda mais a alta vulnerabilidade social da categoria - atingida diretamente na sua capacidade de sobrevivência, com o perigo da contaminação, a queda nos preços dos materiais e nos índices de recolhimento - exigiu nova elaboração da lei, sem entraves burocráticos, com o valor do auxílio sendo repassado diretamente aos catadores, por meio de cartão bancário personalizado.

Desta forma, foi criado o Auxílio-Catador, aprovado na Assembleia Legislativa de forma emergencial até dezembro deste ano, mas que continuará, após este período, de forma permanente. Isto mostrou a sensibilidade do governador Camilo Santana com a urgência da categoria.

Além disso, o Estado do Ceará, através do programa Coleta Seletiva Solidária, vem celebrando convênios entre suas secretarias e vinculadas com associações de catadores para recolhimento dos resíduos sólidos. O meio ambiente agradece! 

(*) Secretário do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMA) do Estado do Ceará. Sócio do Instituto do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 13/8/20. p.20.

 

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