segunda-feira, 26 de julho de 2010

O BRASIL ANEDÓTICO XVII

LIÇÃO DE HEROÍSMO
Tobias Barreto - "Pesquisas e depoimentos", pág. 240
Preso na noite de 15 para 16 de novembro, foi o visconde de Ouro-Preto conduzido ao quartel do 1° Regimento, onde, fatigado, adormeceu. Alta noite, entra no compartimento um oficial, o tenente Mena Barreto, que lhe grita:
- Acorde, e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro-Preto pôs-se de pé.
- Só se acorda um homem para fuzilar, - retorquiu: - mas não para o avisar de que vai ser fuzilado.
E acentuou:
- O senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!
DEMITINDO UM MINISTRO
Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 15.
Prevenido com Rodrigues Alves, o marechal Floriano resolveu pô-lo fora do ministério, onde ocupava a pasta da Fazenda. Preferia, porém, que ele se demitisse e, num dos despachos coletivos, despachou com todos os ministros. Ao chegar a vez de Rodrigues Alves, levantou-se, foi para o interior da casa e não voltou mais. No despacho seguinte, reproduzia-se a cena. Até que, no terceiro, voltando-se para os outros ministros, declarou-lhes:
- Tenho uma triste notícia a dar-lhes.
E com a maior seriedade:
- Não é que o nosso bom amigo Rodrigues Alves quer deixar-nos, pedindo demissão?
TEIAS DE ARANHA
Informação do professor Raul Pederneiras
Fiscal de uma casa de penhores, Emílio de Menezes ia uma vez por mês ao Tesouro receber os magros vencimentos do cargo. E ao entrar ali, encontrava sempre um indivíduo obsequioso, que chorava as suas misérias, as suas moléstias, a sua fome, até que lhe arrancava uma cédula de cinco mil réis. Certa vez, o "mordedor" foi mais longe nas suas lamentações.
- O senhor não imagina, - gemia, - o que eu tenho passado. Basta dizer-lhe que há quinze dias não como!
- O que, homem? - espantou-se o poeta.
E para os funcionários:
- Este camarada com certeza já está com teias de aranha no céu da boca!...
FRANQUEZA DE MARIDO
Osório Duque-Estrada - Discurso da Academia Brasileira de Letras.
Passava Sílvio Romero, uma tarde, pela Avenida, quando viu grande aglomeração à porta de um cinema. Perguntou O que era, e um cavalheiro explicou-lhe, indicando um violinista:
- Este homem comprometeu-se a tomar parte no nosso concerto de benefício, e recusa-se agora, por imposição da mulher, de quem tem medo!
Silvio varou a multidão, indo tomar o "medroso" pelo braço.
- Coragem, amigo! - Não se importe! - disse-lhe.
E com a sua costumada bonomia:
- Aqui está um velho que já casou três vezes, e que só tem feito no mundo o que as mulheres têm querido!
O CLARIM
Afrânio Peixoto - Conferência ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a 2 de julho de 1923
Reunidas em Pirajá, as tropas brasileiras desenvolviam daí, em 1822, o cerco do general Madeira, encurralado na Baía com o restante das forças portuguesas. A 8 de dezembro Madeira lança um contingente de 2.000 homens contra a ala direita dos sitiantes, levando-os de roldão. Chegam reforços de parte a parte, e os lusitanos vão triunfar, quando o coronel brasileiro Barros Falcão prevendo a derrota e querendo salvar o resto dos seus homens, ordena ao clarim Luiz Lopes, português de nascimento, mas que abraçara, aí, a causa da independência:
- Toca "retirar!"
O soldado leva o clarim à boca e o toque que se ouve é:
- "Avançar, cavalaria!"
E logo outro:
- "Degolar!"
Apavorados com o que ouviam, os portugueses, quase vitoriosos, recuam, os brasileiros ganham ânimo e avançam de novo.
Estava ganha a batalha.
DESARMANDO O INIMIGO
Múcio Teixeira - "Os Gaúchos", vol. I, pág. 362.Era Salvador de Mendonça diretor do jornal A República, no Rio de Janeiro, quando o governo imperial, não obstante as suas idéias democráticas, o nomeou cônsul do Brasil nos Estados-Unidos. Aceita a nomeação, foi o jornalista, nas vésperas da viagem, despedir-se do Imperador, e pedir as suas ordens para aquele país.
- Não tenho ordens a dar-lhe, - respondeu-lhe, benévolo, o soberano.
E sorrindo:
- Apenas faço votos para que o senhor preste tão bons serviços ao Império, nessa República, quantos prestou à sua República no meu Império.
PRUDÊNCIA DE POLÍTICO
J. M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 11.
Liberal ardoroso, Manuel Antônio Galvão batia-se valorosamente na Câmara quando, no maior da agitação, em 1826, arrefeceu o entusiasmo, recolhendo-se a um silêncio prudente. Anos depois, quando lhe perguntavam a razão dessa mudança, ele explicava:
- Tirei então a minha acha da fogueira para me não arrepender na ocasião do incêndio!

Fonte: Humberto de Campos -Brasil Anedótico

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