sábado, 17 de setembro de 2011

INGLÊS INSTRUMENTAL

Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
A Mesopotâmia, ao sudeste da Ásia, literalmente situada entre dois rios (Grego: “mésos é meio; “potamós, rio), Tigre e Eufrates, foi denominada o “Berço da Civilizações”. Aliás, acerca do ano 3.000 a.C. foi desenvolvido o primeiro código de escrita. Lá surgiram as primeiras cidades do mundo, sendo Sumer a mais proeminente. Tanto a seu tempo, como nos séculos seguintes, Sumer sobressaiu culturalmente entre seus vizinhos hebreus, árabes, gregos.
A civilização imediatamente mais significativa estava na Babilônia, onde reinava Hamurábi (1728 – 1686 a.C.). Este foi o autor do mais importante legado de Medicina Assírio-babilônica, seu clássico código, com 282 leis, traduzido para o inglês, em 1930. Os famosos sete papirus médicos, todos escritos antes de Cristo: “Kahum’’ (1900), “Edwin Smith” (1600), “Ebers” (1550), “Hearst” (1550), “London”, “Berlin”, e “Chester Beatty”, descobertos no Egito, só ficaram conhecidos pelos traslados em Grego.
Os hieróglifos egípcios permaneceram indecifráveis até a descoberta da Pedra do Rosetta, em 1799, e de sua tradução por Jean-François Champollion. Contudo, todos vêm sendo vertidos para o inglês. Curiosamente, o último refere-se apenas à proctologia!
Paul de Aegina (690-625 a. C.) escreveu em grego o mais completo sistema de cirurgia daqueles tempos. De Hipócrates, a obra em grego foi reproduzida em inglês em 1849. O primeiro livro de Medicina foi do dr. Andrew Boorde (1490-1549), no século XVI: Breviary of Health (Breviário da Saúde). Não obstante, alguns pesquisadores apontam a primazia para Robert Burton, com The Anatomy of Melancholy (1621).
Perlustrando-se a história da Medicina, constatamos que toda a “matéria medica” foi copiada em inglês.
O inglês não é o mais falado pelo maior número de nativos, como na China. Mesmo não sendo, é mais abrangente. Em 1980, um terço dos artigos médicos originários do Japão, foram publicados em inglês (Brit. Med. Journal, vol. 293, dezembro, 1986); tal já ratificava sua ascensão como “língua franca” da Medicina. Acredito ser atualmente a língua estrangeira mais importante para os médicos, tão indispensável como o estetoscópio, o bisturi ou os instrumentos endoscópicos.
Há muito constatamos que as traduções para o espanhol empobrecem o sentido original, carência ainda maior nas versões deste para o português.
O médico não precisa falar inglês, mas dele não pode prescindir para estudar, assim mantendo-se na dianteira do state of the art da sua especialidade. O inglês tornou-se uma ferramenta. Estas considerações me ocorrem a propósito do novo “Curso de Inglês Instrumental” promovido pela Unimed Fortaleza, ontem ali iniciado.
Poderíamos até afirmar ser a rigor, “instoolmental”, empregando-se a palavra inglesa tool (pronuncia-se “tul”): ferramenta.
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
Fonte: O Povo, de 14.09.2011|

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