A elaboração do calendário eleitoral, desvinculando o plebiscito, no âmbito municipal, do pleito estadual e federal, obriga o eleitor a comparecer às urnas, a cada dois anos.
O exercício do voto é salutar ao processo de construção da cidadania; no entanto, no Brasil, pelos gastos desenfreados na disputa, que levam uma parcela dos postulantes a desembolsar valores mais altos do que o montante a ser auferido durante o mandato, e isso, se for eleito, configura-se uma situação, no mínimo, estranha, sendo difícil acreditar em tanto altruísmo, individual ou coletivo.
Bem certo estava o nosso tão admirado Dom Aloísio Lorscheider, ao anunciar que gastos exorbitantes de campanhas eleitorais se associavam à “roubo” pretérito, já experimentado, para alguns, ou ao indicativo de apropriação indevida futura de quem, por acaso, viesse a conquistar os mandatos perseguidos, com afinco.
Uma eleição, a cada dois anos, cria um verdadeiro paraíso para os marketeiros e para os administradores dos veículos de comunicação, que veem o seu faturamento engordar, garantindo polpudos rendimentos.
Como é costume acontecer em anos pares, no Brasil, há coincidência de um processo eleitoral em curso. Na previsão orçamentária do ano anterior, consignam-se maiores dotações para a rubrica propaganda governamental, e, quando isso é julgado insuficiente, verbas são remanejadas para reforçar os gastos publicitários, no intuito de trazer rendimentos eleitorais ao governo, beneficiando os candidatos ligados à sua base de apoio.
Presentemente, os principais cruzamentos de nossas avenidas e ruas de Fortaleza, em horários de pique, especialmente, ficam apinhados de pessoas, desfraldando bandeiras, com as cores partidárias, mas despojadas de ideias ou dos ideais de cada agremiação, e apenas voltadas para os nomes ou as meras imagens dos concorrentes aos cargos majoritários, como se cultuando a personalidade dos pretensos condutores dos destinos da cidade.
Até mesmo partidos que contavam com o esforço voluntário de sua militância renderam-se ao caráter negocial do pleito, recrutando a mão-de-obra desempregada ou subempregada, contratando-a, informal e temporariamente, para a atividade de panfletagem.
Essa transitória repartição de recursos, desconcentrando rendas, em favor das classes sociais desprivilegiadas, seria bem recebida, se advinda de boa estirpe e se isenta da mácula do interesse pelo vil metal; no entanto, a provável origem escusa de parte dos valores aportados nessas campanhas aflora o tácito entendimento de que a sociedade arcará com essa conta, direta ou indiretamente. Proh pudor!
Médico e economista em Fortaleza
* Publicado, com supressão do primeiro parágrafo, In: O Povo. Fortaleza, 25 de setembro de 2012. Caderno A (Opinião). p.7.
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