No final de 2012, no ocaso da gestão
municipal de Fortaleza, a então prefeita deu por inaugurado o chamado Hospital
da Mulher, ainda que a obra estivesse inconclusa e sem dotação orçamentária.
Como arremedo de funcionamento, essa gestora pública remanejou servidores de
várias unidades de saúde, esvaziando-as operacionalmente em parte, e transferiu
insumos da sua própria rede hospitalar, para dar visibilidade a poucas tarefas
que esse novo hospital levava a cabo, o que poderia resultar em dividendos
eleitorais ao seu grupo político.
Para gáudio dos fortalezenses, não houve
tempo para que a administração anterior batizasse o novel equipamento de saúde,
que assim ficaram livres de conviverem com as bizarras homenagens que se
rendiam, nesta urbe, a figuras estranhas à realidade brasileira ou local,
motivadas por inspiração de ideologia canhestra, e igualmente despojadas de
atributos condizentes com a natureza de cada empreitada.
Em fevereiro de 2013, em consonância com a Academia
Cearense de Medicina, que aprovara moção sugerindo vincular o nome da Dra.
Zilda Arns ao Hospital da Mulher, vereador Walter Cavalcante e presidente da
Câmara Municipal de Fortaleza (CMF), tomou para si o empenho de concretizar a
pretendida homenagem mediante projeto de lei municipal de sua autoria.
As justificativas que suportavam essa proposição
estavam bem alicerçadas na vida pública dessa médica, especialista em Pediatria
e em Saúde Pública, que, por três vezes, foi indicada para ser aquinhoada com o
Prêmio Nobel da Paz, uma honraria que lhe cairia muito bem, coroando o seu
exemplo solar da benemerência e da ação voluntária em prol dos mais desvalidos.
Dra. Zilda Arns engajou-se, abnegadamente, a
salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência,
por intermédio do seu trabalho na Pastoral da Criança, cujo alcance sobrepujou
as fronteiras nacionais, sendo replicado, com êxito, em muitas localidades dos
países subdesenvolvidos.
Nos últimos anos, com a mitigação dos problemas
que afetavam a infância no Brasil, e também como resultado da transição
demográfica, representada pelo crescente envelhecimento populacional, ela
direcionou o seu potencial laboral para outro segmento etário: o de idosos, que
passara a cobrar maior atenção. Com esse fito, Zilda Arns coordenou a Pastoral
da Pessoa Idosa, subordinada a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, patrocinando
o monitoramento mensal de mais de cem mil idosos, propiciado por milhares de
voluntários distribuídos em mais de cinco centenas de municípios brasileiros.
Em sessão alvissareira, a CMF aprovou, em
9/12/2014, o projeto de lei 20/2013, do edil Walter Cavalcante, que deu ao
Hospital da Mulher o nome da médica Zilda Arns, uma mulher que pautou sua
existência no fiel cumprimento das virtudes teologais.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 18/12/2014. p.11.
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