Por Andrea Borges (*)
O câncer é um grave problema de saúde
pública, com mais de 600 mil novos casos anuais no Brasil. A doença ultrapassa
a dimensão individual, afetando corpo, mente e relações sociais. O diagnóstico
provoca medo, ansiedade e incerteza, abalando profundamente o equilíbrio
emocional do paciente e de sua família.
A quimioterapia, tratamento agressivo e
prolongado, potencializa o sofrimento, gerando efeitos colaterais como dor,
náuseas, fadiga e queda de cabelo, que comprometem a autoestima e a qualidade
de vida. Os cuidadores, majoritariamente mulheres, enfrentam sobrecarga física
e emocional, acumulando tarefas e muitas vezes negligenciando o próprio
bem-estar.
A equipe de enfermagem, por sua proximidade
com o paciente, também vivencia o sofrimento de forma intensa, partilhando
esperanças, frustrações e perdas, o que pode gerar fadiga por compaixão e
desgaste psicológico.
Nesse contexto, a enfermagem oncológica
assume papel essencial na promoção do cuidado humanizado. O enfermeiro vai além
da técnica: acolhe, escuta e oferece presença genuína. O acolhimento empático
reduz a ansiedade, fortalece o vínculo terapêutico e melhora a adesão ao
tratamento.
A comunicação clara e a escuta ativa
possibilitam identificar medos e necessidades emocionais, tornando o cuidado
mais sensível e efetivo. O enfermeiro também atua como educador em saúde,
orientando sobre efeitos colaterais da quimioterapia, alimentação, uso correto
de medicamentos e medidas de proteção, promovendo autonomia e segurança.
Entretanto, obstáculos persistem. A
sobrecarga de trabalho, a falta de tempo e o preparo emocional insuficiente
dificultam a escuta qualificada e o diálogo empático. Muitos profissionais
sentem insegurança ao comunicar más notícias ou ao adaptar termos técnicos para
uma linguagem acessível.
Por isso, a capacitação contínua é
indispensável para o desenvolvimento das habilidades técnicas e emocionais. Ao
unir ciência, empatia e sensibilidade, o enfermeiro reafirma seu papel como
protagonista do cuidado ético, acolhedor e verdadeiramente humanizado.
(*) Enfermeira
certificada nos EUA, especialista nos cuidados humanizados a pacientes
oncológicos.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/11/2025. Opinião. p.14.

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