Os jornais cearenses de maior circulação trouxeram, em 10/02/10, em duas páginas centrais do primeiro caderno, um destacado informe publicitário, produzido pela Secretaria da Educação do Ceará, narrando o notável aumento de 91%, na aprovação dos alunos da rede estadual de ensino verificado no Vestibular da UFC de 2010.
Apesar de deter 88% das matrículas no ensino médio cearense, em 2009, os alunos das escolas estaduais amealharam somente cerca de 5% das vagas em disputa, nesse certame, configurando uma pífia participação, digna de preocupação, e não de exaltação, conforme se depreende da auto-enaltecedora peça publicitária citada.
Se a quantidade não é expressiva, a qualidade do resultado está longe do tolerável, uma vez que a larga maioria dos aprovados concentra-se em cursos de baixa concorrência e de menores escores para ingresso, condições indicativas de menor competitividade dos seus pretendentes.
Com efeito, não houve um só aprovado em cursos tradicionais, como Arquitetura, Direito, Enfermagem, Farmácia e Odontologia; as exceções, de uma vaga ocupada em Medicina (Barbalha) e outra em Psicologia (Sobral), justificam-se porque os pontos de corte nas extensões interioranas são bem inferiores aos identificados nos mesmos cursos sediados na capital; dos três nomes listados em Engenharia Civil, um foi aprovado em Fortaleza, outro em Juazeiro do Norte e o terceiro, na verdade, sequer figura entre os selecionados pela UFC.
Mesmo contando o Ceará com uma ampla rede de ensino médio, composta por 538 escolas estaduais, dotadas de equipamentos essenciais, como bilbiotecas (504), laboratório de informática (529) e laboratório de ciências (367), que deveria fornecer resultados mais alentadores, nota-se uma convergência de aprovação de vestibulandos em certas “Ilhas Educacionais”, exemplificadas por alguns estabelecimentos: Colégio da Polícia Militar, Colégio dos Bombeiros, EEFM Adauto Bezerra, EEFM César Cals de Oliveira Filho, EEFM Justiniano de Serpa, o que pode refletir algum grau de indução pedagógica de seus dirigentes, agindo como fermento e convertendo a massa em um saboroso produto.
A vasta pulverização desses estudantes aprovados em escolas e em localidades cearenses favorece ao entendimento de que o esforço individual parece prevalecer como determinante principal para o êxito do vestibulando, cuja motivação e disposição pessoal superam a desmotivação imperante em seu meio escolar e comunitário.
Os que lutam por um ensino público de qualidade não devem se vangloriar, crendo, piamente, na magia dos números, transmutados maliciosamente, em sobejos progressos no campo educacional, cujos resultados, duradouros e persistentes, somente advirão da aplicação apropriada de somas continuadas e sem desperdícios.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular da UECE
* Publicado In: APESC Notícias, 10 (43): 4, dezembro de 2010. (Órgão de divulgação da Associação dos Professores do Ensino Superior do Ceará).
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