Por Weiber Xavier
(*)
Quando se está gravemente enfermo
espera-se que a UTI seja um recurso que nos ajude a voltar ao
"normal" e que seja um lugar de vida. Hoje, quando se entra na
maioria das nossas UTIs o que se vê infelizmente é uma triste realidade. Uma
Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) se caracteriza como "unidade complexa
dotada de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente
graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o
suporte e tratamento intensivos tenham possibilidade de se recuperar."
Essa última parte da frase tem sido frequentemente esquecida. Ao contrário do
que muitos pensam e vêem na tv muitos pacientes de UTI têm doenças crônicas ou
incuráveis; frequentemente em fase terminal. Na nossa sociedade não apenas não
se quer morrer, mas não se está disposto a aceitar a realidade da morte. O fato
é que todos nós somos terminais. Infelizmente, muitos dos profissionais de
saúde têm medo de enfrentar a morte e, particularmente, os médicos muitas vezes
a prolongam e mantem vivas falsas esperanças. Felizmente, preocupações éticas e
decisões difíceis de serem tomadas tem um norte através da bioética e dos
cuidados paliativos. A bioética é o estudo filosófico das controvérsias éticas
trazidas pelos avanços da biologia e da medicina e nos ajuda a preencher a
lacuna entre famílias e médicos e, assim, aliviar os encargos morais e legais
das delicadas decisões enfrentadas durante esses momentos críticos. Os cuidados
paliativos gerenciando a dor entre outros sintomas angustiantes de doenças
graves podem fornecer apoio emocional e físico para pacientes e famílias,
ajudando-os a ter um processo de morte mais natural e digno. Precisa-se
entender que existe um direito amoral, ético e legal de permitir a morte
natural e evitar mais sofrimento desnecessário. Os objetivos do tratamento no
final da vida devem se concentrar em fornecer apoio emocional e clínico,
mantendo a qualidade de vida, tornando o resultado final uma experiência mais
agradável e menos dolorosa para as famílias e, mais importante, para o
paciente. Afinal, a UTI é um lugar de vida.
(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/09/2019. Opinião. p.22.
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