Com imenso
pesar, a Academia Brasileira de Letras lamenta a morte do escritor e poeta
Affonso Romano de Sant’Anna, aos 87 anos, na manhã desta terça-feira (4/2/25).
Mineiro de Belo Horizonte, ele foi um dos grandes cronistas do país e autor de
mais de 60 livros de poesia e prosa. Era casado com a também escritora Marina
Colasanti (1937-2025).
A ABL presta
homenagem a esse grande escritor, autor de um dos mais potentes poemas sobre o
Brasil – “Que país é este?” (1980) –, com a primeira das sete partes da obra. A
coletânea de mesmo nome rendeu a Affonso o Prêmio Jabuti.
O poema
ganhou a primeira página do Jornal do Brasil à época e foi traduzido para o
francês, inglês, espanhol e alemão. Impresso em pôsteres, decorou a parede de
escritórios, sindicatos, universidades e bares, refletindo sua enorme
repercussão popular.
Uma coisa é um
país,
outra um
ajuntamento.
Uma coisa é um
país,
outra um
regimento.
Uma coisa é um
país,
outra o
confinamento.
Mas já soube
datas, guerras, estátuas
usei caderno
“Avante”
— e desfilei de
tênis para o ditador.
Vinha de um
“berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos
maiores em tudo
— discursando
rios e pretensão.
Uma coisa é um
país,
outra um
fingimento.
Uma coisa é um
país,
outra um
monumento.
Uma coisa é um
país,
outra o
aviltamento.
Deveria
derribar aflitos mapas sobre a praça
em busca da
especiosa raiz? ou deveria
parar de ler
jornais
e ler anais
como anal
animal
hiena patética
na merda
nacional?
Ou deveria,
enfim, jejuar na Torre do Tombo
comendo o que
as traças descomem
procurando
o Quinto
Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso
que nos impeliu
a errar aqui?
Subo, de
joelhos, as escadas dos arquivos
nacionais, como
qualquer santo barroco
a rebuscar
no mofo dos
papiros, no bolor
das pias
batismais, no bodum das vestes reais
a ver o que se
salvou com o tempo
e ao mesmo
tempo
– nos trai.
Fonte: enviado
por Fernando Melo e circulando em grupos de WhatsApp.
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