segunda-feira, 7 de abril de 2025

O MUNDO DE CABEÇA PARA BAIXO

Por Heitor Férrer (*)

Cheguei a Fortaleza em março de 1968. Vivíamos em plena ditadura militar, comandados pelo segundo marechal à frente do país e sob forte influência dos Estados Unidos. O mundo encontrava-se em uma falsa paz, dominada pelo medo da Guerra Fria, com suas ogivas nucleares apontadas de ambos os lados — soviéticas e norte-americanas. Durante décadas, apesar das diferenças entre republicanos e democratas, o Ocidente manteve-se unido. A Europa, fortalecida, seguia como um pilar fundamental no embate geopolítico contra a União Soviética.

Essa estabilidade relativa sustentou-se até a ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Com sua chegada ao poder, as estruturas geopolíticas estão abaladas e o Ocidente se vê subitamente enfraquecido. Trump vira as costas para os aliados históricos e, de maneira alarmante, parece se alinhar a regimes autoritários, legitimando posturas expansionistas como a da Rússia. A ucrânia foi invadida e está, diariamente, sendo destruída aos olhos do mundo.

O que antes era impensável tornou-se realidade. A política externa dos Estados Unidos, outrora guardiã da liberdade e da estabilidade global, deu uma guinada que fragilizou alianças estratégicas e colocou a Europa em situação de vulnerabilidade. Trump chegou ao ponto de ameaçar a OTAN, um pilar da segurança ocidental, colocando em xeque a força do bloco que, por décadas, serviu como barreira contra o expansionismo de regimes autoritários. Mais recentemente, um de seus principais aliados, o empresário Elon Musk, chocou o mundo ao fazer um gesto que remete ao genocida Adolf Hitler.

O mais espantoso foi a reação do público presente: aplausos. Esse episódio, que deveria gerar indignação e repúdio unânime, revela o quanto a normalização de discursos extremistas e antidemocráticos avançou. Seu vice-presidente, em visita à Europa, critica uma suposta censura no continente e omite-se diante das brutalidades cometidas por ditaduras como Rússia, China, Turquia e Coreia do Norte. Só faltou acenar para Cuba e Nicarágua. O silêncio seletivo diz muito sobre a inversão de valores que estamos vivendo.

O mundo, outrora dividido entre forças democráticas e regimes autoritários, encontra-se em uma confusão sem precedentes. O líder da maior potência ocidental tornou-se um fator de desestabilização, não de união. A ascensão de Trump trouxe consigo um questionamento profundo sobre o futuro da democracia e da ordem internacional. O que antes parecia sólido agora está por um fio. O Ocidente, outrora coeso e forte, precisa reagir antes que seja tarde demais.

(*) Médico e deputado estadual (Solidariedade).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/03/2025. Opinião. p.23.


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