Por Márcia Alcântara Holanda (*)
Receber o comunicado de que havia sido
eleita, junto com outras dez mulheres, para receber o Prêmio Riomar Mulher foi
uma grande surpresa. Há nove anos, essa premiação reconhece e valoriza mulheres
por suas grandezas, forças e ousadias em suas áreas de atuação na sociedade,
celebrando suas realizações de sucesso em um evento grandioso e especial.
Ao receber a notícia, senti uma
"pancada" forte no ser, e de dentro de mim saltou um sentimento de
não merecimento. Perguntei-me: por que eu, se apenas fiz o que deveria ser
feito?
Ventos ora fortes, ora suaves, entraram
como ondas de percepções — o que chamo de consciência. Carrego em mim todos os
meus perceberes: gravados, armazenados, desdobrados, transformados ou
descartados. Esse terreno de elevada capacidade transformadora de ideias,
comportamentos e identidades tem sido a base da minha jornada. Talvez por isso
eu me veja apenas como cidadã. Sempre pensei que apenas fazia o que o mundo
esperava de mim, sem precisar ser premiada.
Nesse exaustivo exercício reflexivo,
tentando compreender a mim e ao outro, revi e analisei os feitos que doei ao
mundo — sem ônus para ele, mas sim para mim. Vi que, em centenas de situações
das quais participei, havia desafios que exigiam definição: atitudes, com ou
sem risco. E percebi que, diante dessas situações, fui capaz de enfrentá-las,
com riscos reais e pessoais, mas sempre as enxergando como passíveis de
soluções e como realizações coletivas de extremo valor para o meu povo.
Como exemplo, lembro a erradicação da
epidemia mortal da silicose (1988-1998) em cavadores de poços da Ibiapaba-CE,
que salvou mais de 1.200 vidas de jovens trabalhadores, livrando-os dessa
doença irreversível e fatal, por meio de ações educativas inspiradas nos
princípios de Paulo Freire. Também recordo o controle das mortes e internações
por asma em Fortaleza (2013-2017), que teve impacto direto na saúde pública.
Busquei entender a raiz dessas atitudes e
descobri que foram fruto de um comportamento consistente e de um compromisso
extremo. Segui a fórmula de Jocko Willink e Leif Babin, no conceito de
responsabilidade extrema, juntando meus pares — que foram muitos — na
consolidação de cada jornada traçada e executada.
Mergulhei nessa reflexão profunda sobre os
feitos que me levaram a ser reconhecida como transformadora de mundos, como o
prêmio me identificava. Então, finalmente, admiti que merecia, não apenas pelas
realizações, mas pela forma como as conduzi: com uma riqueza de direitos e
deveres, pessoais e coletivos.
Receber o prêmio foi, então, uma grande
alegria, felicidade e emoção. Nesse momento, vi todos que estiveram comigo
nessas realizações vitais para a nossa gente. Por isso, engrandeço a atitude —
também cidadã — do Sr. Paes Mendonça, ao nos premiar por nossos feitos.
Por fim, penso que este prêmio representa,
acima de tudo, a vitória da cidadania!
(*) Médica pneumologista; coordenadora do
Pulmocenter; membro honorável da Academia Cearense
de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/2025. Opinião. p. 20.
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