Ô nome bonito pra quem sabe ler!
Em
gracejo conhecido, o matuto afirma saber gesticular o "Pelo sinal da Santa
Cruz", mas não consegue dizê-lo. Por isso fala desabridamente: "Sei
ispaiá na cara, com a mão, mas não sei o bodejado!" O mesmo se dá comigo,
guardando as devidas proporções, em relação à escrita do nome de um afetuoso
futuro afilhado meu na Itaipaba - Pacajus. Mas não tem nada não, como eu gosto
muito do bichim, tenros cinco aninhos, vou treinar até aprender a escrever o
nome dele. Juro que vou conseguir.
Esclareço:
quando lhe fui apresentado pelo pai, compadre Mané Burrego, imaginei ter ali um
serzinho comum, de tope trivial e designação fácil de grafar e memorizar, de
prenome usual. Porém, quando me chegou pelo zap o convite do apadrinhamento da
criaturinha, pensei tratar-se de algo mesopotâmico. Tão pequeno e singelo, como
um bruguelo de nomão tão complicado, cheio de letras e símbolos? É o tempo,
querida amiga, é o tempo. "Por seres tão inventivo e pareceres
contínuo..."
Ao
jogar a vista no nome do póbi, na tela do celular, lendo o pedido para que
fosse o responsável por cuidar-lhe da educação cristã, perguntei ingênuo ao
genitor:
-
E quem é esse outro aqui que deverei ser o padrinho?
-
É o mesmo, cumpade! Ora, ora, ora!
Pra
ganhar tempo, sem nada entender àquela altura, mandei áudio:
-
Tô zuruó do juízo! Quando o amigo me fala de seu filho, afilhado meu
porvindouro, chama ele de Jurandir! E a escrita que tem aqui eu não entendo.
Palavra de Deus!
-
Mas é ele mesmo! Um tio dele on-line registrou o menino no cartório e disse que
era assim!
Eu
quis a prova dos noves, cismado até o novelo.
-
Pois escreva o nome Jurandir, segundo esse tio dele!
-
@Yhurãnn_thyir - o cumpade tornou a grafar.
-
Como é que? Jura que isso aí é Jurandir?
-
Juro que @Yhurãnn_thyir é Jurandir! Sabe ler não?
Carimã que endoida gente
É
comum nomes de bichos se originarem doutros bichos, plantas, frutas, de gente.
De peixe em cachorro é o pau que rola - Baleia, Piaba... Ultimamente, cachorro
miúdo é Zé Maria, Mané Pêdo... Jumento? Pachola, Murufaia... Vaca é Estrela e
Dengosa, Boi é Fubá e Pinguelão. E uma vaca acolá, de história demais
invocada?!?
Seguinte
é esse. Bonerges (14 anos), criado na casa de farinha da Fazenda Juriti, é o
protagonista, responsável que era por tirar da mandioca a carimã. (Nota: no
sítio vizinho havia uma vaca de nome Carimã, que ele não conhecia, desaparecida
há dias.)
Pois
bem. Havia seis dias que o brochote botara tubérculos de mandioca de molho, num
pote. Casca amolecida, retirou a polpa e a esmagou com a mão, numa bacia.
Passou o conteúdo na peneira, deixando cair o caldo noutra bacia e rebolando o
bagaço fora, restando o líquido branco denso de mandioca. Colocou esse caldo aí
num saco e deixou escorrer por três dias; no fundo do pano, ao final, repousava
a famosa puba. Carimã pronta. Vendeu os três quilos do produto a seu Geraldo,
doido por bolo de carimã.
Dona
Penha, do sítio vizinho, proprietária da vaca sumida, passando pela casa de
farinha, pergunta despretensiosa a Bonerges se ele tinha notícia da Carimã.
-
Sim, tenho!!!
A
mulher exulta, agradece a São Longuinho e pergunta onde se encontrava Carimã...
-
Na casa de seu Geraldo, vai fazer um bolo dela!
Fonte: O POVO, de 28/03/2025. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário