O prefeito do município de Batalha, Dr. Rommel Feijó, solicitou da Universidade Federal do Ceará (UFC), recentemente, a instalação da graduação em enfermagem, nos moldes da extensão feita do Curso de Medicina, há quatro anos.
A pretensão é, de princípio, e à primeira vista, cabível, porquanto coube a essa prefeitura arcar com boa parte da fatura da implantação, tendo cedido uma escola de ensino fundamental, que foi devidamente reformada, em grande parte com recursos municipais, e complementados por recursos estaduais, além de assumir, até hoje, parcela dos custos de manutenção da empreitada.
Os investimentos iniciais causaram um certo impacto nas combalidas finanças de um município de porte médio, sobejamente dependente das transferências federais, uma vez que a arrecadação de impostos em Barbalha, advindos de fatos econômicos gerados nos limites municipais é irrisória, de sorte que o duro sacrifício imposto legitima a aspiração de seu alcaide, em expandir a oferta de cursos superiores, mesmo sabendo que vasta porção das vagas não será preenchida por seus conterrâneos.
A diversificação de cursos na área de saúde é recomendada em função da otimização da capacidade instalada, envolvendo os laboratórios básicos, como: anatomia, histologia, fisiologia e farmacologia, o uso comum de parte do acervo bibliográfico, bem como o melhor aproveitamento de docentes, dada à natureza semestral das disciplinas no curso médico, de apenas uma entrada de alunos por ano. No caso de Barbalha, seria aplicável, indistintamente, no tocante à área básica das graduações em: enfermagem, farmácia, nutrição, odontologia etc.
O reitor da UFC, Prof. Renê Barreira, agindo com prudência, submeteu o pleito à apreciação técnica da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), para balizamento da decisão a ser tomada. Espera-se, naturalmente, que a comissão de docentes encarregada de avaliar a questão, debruce-se, com afinco, sobre ela, atentando para aspectos importantes da oferta e da demanda de profissionais de saúde, com atenção redobrada às suas peculiaridades, em termos de absorção no mercado de trabalho local e regional.
Do leque de opções de cursos, convém assinalar os seguintes pontos: a Enfermagem, que já tem mais de 500 vagas por ano, passará de 700, em menos de dois anos, com os novos cursos em processo de criação, sendo um deles em Juazeiro do Norte, que virá juntar-se na região aos de Crato e de Iguatu, ambos da URCA, prenunciando o dramático aviltamento da profissão pelo excedente de oferta; a Farmácia conta com 290 vagas, em apenas três cursos: dois em Fortaleza e outro em Quixadá. A diversidade dos campos de atuação e a grande carência de profissionais dessa categoria, no interior, pesam a favor da abertura do curso no Cariri; a Nutrição, por sua vez, dispõe de 170 vagas para ingresso por vestibular, da UECE e da UNIFOR, e terá o mercado dificultado pela formatura das primeiras turmas da UNIFOR, sendo contra-indicada a sua instalação, justo porque a UFC não tem essa graduação; enquanto isso, a Odontologia tem apenas dois cursos (UFC e UNIFOR), ambos na capital cearense, que somam 190 vagas anuais, e embora haja saturação de odontólogos em Fortaleza, há grande margem de incorporação de cirurgião-dentista (CD), caso seja implementada a participação do CD nas equipes do Programa Saúde da Família, ou se almeje ampliar as modalidades de intervenção em Saúde Bucal, no Ceará.
Por fim, o funcionamento de um segundo curso da UFC, em Barbalha, de preferência Farmácia ou Odontologia, pode concorrer para otimizar o uso dos recursos lá existentes e servir de incubadora para a criação da Universidade Federal do Cariri, sonho acalantado pelos caririenses, que tem o senador Reginaldo Duarte como seu defensor maior. Aliás, esse político conduz essa proposta com altivez, e sem o suporte de outras lideranças, considerada a mesma, de suma importância para o Estado e para a região, em particular e pelo que vem tentando sensibilizar o governo federal a aceitá-la, merecendo, por conseguinte, o aplauso dos seus co-estaduanos.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública da UECE
* Publicado, com redução, sob o título ”Extensão da enfermagem da UFC” In: Jornal Diário do Nordeste. Fortaleza, 31 de outubro de 2005. Caderno Opinião. p.2.
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