segunda-feira, 6 de junho de 2011

MILHO AOS POMBOS

Por Ricardo Alcântara (*)
Quem sabe, diz que os fatos sugeridos pela crise que envolve o ministro Antonio Palocci, há, apenas, uma pequena demonstração, proporcionalmente insignificante, do que acontece na capital federal todo dia à luz do dia.
As decisões públicas no país estão atadas aos cordões que tem em mãos uma fera insaciável, que sabota prioridades, desvia recursos e compromete a eficiência e os resultados: o fisiologismo e sua finalidade, a corrupção.
Na língua dos bastidores, é o “toma lá, dá cá”, que descamba, quando os interesses não coincidem, para o irredutível “ou dá, ou desce”: o deputado vota o que o governo deseja, desde que o governo dê a ele o que ele quer.
E o que ele quer? Quer colocar gente de sua confiança em cargos estratégicos, onde se decide o destino dos recursos e quais empresas vencerão as licitações para prestar serviços e realizar obras.
Por elas, a "liderança" política que participa do esquema com cota definida de ganhos, recebe generosa comissão ou salda contribuições recebidas para sua campanha eleitoral. Manda quem paga.
Em troca, ele vota o que o governo pede, e que nem sempre coincide com o que prometeu aos eleitores. Posto ali para defender o interesse destes, passa a lutar, quando eleito, somente em favor dos interesses de si mesmo.
A presidente Dilma tem resistido o quanto pode. Blindou algumas funções estratégicas para o bom desempenho do governo e vem adiando as nomeações dos indicados pelos partidos aliados para o segundo escalão.
Pela ousadia de oferecer uma modesta resistência ao fisiologismo, tem apanhado no congresso e sofrido chantagens que os observadores mais informados de Brasília não ousam, por falta de provas, denunciar.
A pressão maior parte do seu aliado mais forte, o PMDB, para o qual a eclosão de escândalos como o do Palocci é providencial: quanto mais rabos presos, mais descabidas as exigências postas à mesa como custo da “governabilidade”.
Nessa cruzada, nem mesmo com o apoio do seu próprio partido conta a presidente na medida suficiente, pois o que tem permitido a eles nem sempre é menos constrangedor do que exigem seus aliados mais vorazes.
Por outro lado, a presidente Dilma não tem carisma e popularidade suficientes para estabelecer uma aliança direta com a sociedade que lhe garanta alcançar um nível pelo menos razoável de autonomia. Ela quer, mas não pode.
Manda quem paga. Quem vota, obedece.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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