segunda-feira, 3 de outubro de 2011

BALANÇA... MAS NÃO CAI?

Por Ricardo Alcântara (*)
A “faca de dois Gomes”, assim definida por um habituè do clã, continua afiada: enquanto Cid se movimenta sem contrariar a tese de que seu partido pretende apoiar um petista na disputa municipal de Fortaleza, o irmão mais velho, Ciro, livre das conveniências impostas pelo lugar que ocupa o irmão mais novo, continua produzindo tensões deliberadas.
Por mais que se dê procedência ao argumento pragmático de que os riscos de uma ruptura com os petistas já no próximo ano são bem maiores do que as oportunidades para o objetivo central do governador de eleger o sucessor no ano da Copa, a toxidade está alcançando níveis que podem, à revelia dos agentes mais moderados dos dois lados, tornar inevitável uma ruptura.
O que Ciro Gomes anda dizendo por aí até poderia ser creditado à sua fama de boquirroto – da qual, aliás, se vale ele com astúcia: o excesso de uso a faz a cada dia mais assimilável. Afinal, “nunca antes na história desse país” se viu os petistas engolirem tantos sapos com tão contrita passividade.
Ocorre que, desta feita, a prosopopéia truculenta vem associada a efetivos atos de confrontação, como não deixa dúvidas em sua disposição o expurgo drástico impingido a Sérgio Novais, o mais fiel escudeiro da prefeita Luizianne Lins. Quem começa daquele jeito não parece disposto a tirar férias tão cedo.
Como aqui não se pratica ofícios de alcova, nem mesmo parcerias institucionais, não privamos de informações que nos dêem elementos para avaliações baseadas no ânimo subjetivo dos agentes políticos – saudável desvantagem, diga-se. É fácil, no entanto, perceber que ali se esvaíram quaisquer vestígios de afinidades com a prefeita Luizianne Lins.
Sintoma da dificuldade foi a decisão do PT de escolher seu candidato à sucessão até o final do ano, uma opção, a princípio, danosa para a normalidade administrativa do município, mas inevitável por pelo menos duas imperiosas necessidades: tempo para “trabalhar” o nome do candidato nas condições adversas de representar uma gestão mal avaliada nas pesquisas e tempo ainda maior para negociar com o governador do Estado.
E aí, se tem no PT a grande esperança, cujo fundamento excede ao conhecimento deste analista, de que “Brasília será ouvida” – a velha Brasília de sempre, que muda de mãos, mas não muda de método, cujas ferramentas de trabalho têm o poder de transformar lobos em cordeiros (e vice-versa) em poucos minutos de uma boa (ou má) conversa.
Enquanto não houver desfecho seguro para as agruras desse casamento de conveniências, a incerteza sobre a sua continuidade – mais relevante fator que incidirá sobre a conjuntura eleitoral – fará com que a combalida oposição continue cultivando sua paralisia crônica. Mesmo os partidos que habitam os arredores do poder, como PMDB e PCdoB, encontrarão dificuldades em assumir posições definitivas no desenho eleitoral até que se saiba se tudo isso foi ou não foi muito barulho por nada. 
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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