Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
A palavra academia nos recorda o jardim e o ginásio de Academo, legendário herói ateniense, da Ática, Grécia, onde Platão ensinava filosofia. Lembrando esse termo surgiram nos séculos XV e XVII várias academias na Itália, entre as quais a Platônica (1442), e a Academia della Crusca (1582), ambas em Florença.
A Academia da Arcádia (região pastoril da antiga Grécia) formou-se em Roma (1690), precedida pela famosa Academia Francesa (1634) do Cardeal Richelieu. Seguiram-se a Academia Lusitana (1756), de Antonio Diniz da Cruz e Silva, a Real Academia de Ciências de Lisboa (1779), e aquela de Artes e Ciências (EUA), também nesse ano.
No Nordeste do Brasil, no Ceará, foi fundada a primeiríssima associação literária do País, a Academia Cearense de Letras (ACL), em 15 de agosto de 1894, nos moldes da entidade real lisboeta.
Entre seus fundadores avultam Guilherme Studart, o Barão, Tomás Pompeu, Farias Brito, Antônio Bezerra, José Carlos da Costa Ribeiro Junior. Assim, o Ceará antecipou-se por três anos à sua congênere nacional, de Machado de Assis, criada em 1896, mas instalada a 20 de julho de 1897. Até meados de 1700, americanos, britânicos e canadenses pensavam ser a cultura basicamente da iniciativa privada. Realmente, embora a perpetuação desses grêmios culturais tenha sempre dependido dos Estados, foram e ainda são os mecenas que lhes materializaram a permanência e viabilizam suas realizações. Estes patronatos começaram na Roma imperial.
Entre nós há inúmeros mecenas, ajudando desinteressadamente à ACL e ao Instituto Histórico (Geográfico e Antropológico) do Ceará, fundado também pelo Barão de Studart, em 4 de março de 1887, e presidido atualmente pelo bibliófilo José Augusto Bezerra.
No Ceará, vem sendo mantido um “entente cordiale” com os órgãos governamentais. Historicamente, a ideia de uma sede própria para a ACL foi de Justiniano de Serpa, presidente do estado em 1926, frustrada pelo seu falecimento no ano seguinte.
Em 6 de dezembro de 1957 o deputado estadual Perilo Teixeira apresentou projeto de Lei beneficiando a ACL e o Instituto, o qual ali jaz arquivado! Contudo, em 13 de novembro de 1989, o governador Tasso Jereissati – bisneto de José Carlos da Costa Ribeiro Junior - doou o até então Palácio da Luz para sede da ACL. Esta igualmente já se beneficiara com eventual convênio com a Secult. Este ano foi aquinhoada definitivamente pelo governador Cid Gomes, com a Lei 14905, assinada pelo secretário de Cultura, professor Pinheiro e por nós.
Embora não criando sua autonomia econômica, demonstra o bom relacionamento entre nossa literatura e o governo, a erudição e o poder, entre o saber e o sabre. Saravá!
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
Fonte: O Povo, Opinião, de 9/11/2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário