Corria os anos sessenta, na Faculdade de Medicina da UFC, e os acadêmicos do segundo ano estavam revoltados por conta do comportamento de um professor. Liderados pelo Diretório Acadêmico XII de Maio, eles decidem fazer uma representação oficial contra esse mestre, na Congregação da Faculdade, com registro prévio da denúncia em cartório, que conteria a assinatura de todos os integrantes da turma.
O recolhimento das assinaturas do documento-denúncia seguia fácil, com a plena adesão dos estudantes, cônscios da justeza do pleito. Havia um acadêmico, no entanto, filho de um professor da faculdade, que embora estivesse de acordo com a proposição, tergiversava, protelando, ganhando tempo, talvez na tentativa de ser esquecido, pois tinha receio de que seu pai, um dos membros da Congregação, ficasse chateado com ele, ou, quem sabe, por não desejar se indispor com os professores, amigos do seu genitor.
Quando somente faltava a sua assinatura, o assédio crescia e o cerco se fechava, com ele no meio, percebeu que poderia até cair no ostracismo; daí, concordou, finalmente, em participar do abaixo-assinado, porém, temendo alguma conseqüência pessoal ou familiar, assinou-o, com letras pequenas, nas entrelinhas, usando apenas parte do seu nome: Carlos Heitor (nome fictício).
Não se sabe se houve qualquer intencionalidade ou por mero acaso, mas, para azar dele, o tabelião pinçou o seu nome, para fins de protocolo do documento-denúncia, registrando: Carlos Heitor e outros. O tiro, como se vê, saiu pela culatra.
Sobramista e membro da ACM
* Publicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Passeata literária. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2011. 232p. p.176.
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