O novo prefeito de Fortaleza, o Dr. Roberto Cláudio, entre tantas mazelas a herdar da administração que se despede sem deixar saudades, acolhe em seu colo um estupendo imbroglio, no campo da Saúde: o Hospital da Mulher de Fortaleza.
Construído, equivocadamente, para cumprir uma láurea obsessão, como promessa de campanha, feita em 2004, e inaugurado oito anos depois, mas ainda carecendo de complementos materiais e humanos, para o seu adequado funcionamento, o equipamento público induzirá uma cefaleia crônica ao prefeito e aos gestores da Saúde da capital cearense, sobretudo quanto ao seu financiamento e ao tipo de uso que lhe será dado.
As estruturas hospitalares municipais estão sucateadas e financeiramente combalidas, não conseguindo dar conta das responsabilidades para com o Sistema Único de Saúde, no tocante à assistência médica, secundária e terciária, ineficência essa atestada por corredores hospitalares abarrotados de pacientes em cima de macas e pela longa permanência de pacientes internados, aguardando procedimentos cirúrgicos resolutivos.
A par disso, ao se definir pelo modelo hospitalar, para prestação de um serviço complexo e oneroso, mas tradicionalmente realizado ambulatorialmente, a prefeita Lins legará ao seu sucessor uma malfadada herança, de dispendiosa manutenção, que absorverá enormes reservas do erário municipal, dilapidando quantias que seriam melhor utilizadas na rede hospitalar já existente.
Ao atual alcaide caberá, o término da obra e alterar o seu destino, via redirecionamento da sua finalidade, como um hospital geral e maternidade, neutralizando, com isso, a delirante concepção, hipertrofiada na sua exclusividade às questões da saúde reprodutiva feminina.
A transformação em um hospital, não restrito à saúde reprodutiva, de portas fechadas, sem emergência, função já cumprida pelas atuais estruturas hospitalares de Fortaleza, traria alívio às filas de pacientes, que, pacientemente, esperam por cirurgias; a maternidade, com suas portas abertas, supriria parte do déficit de leitos obstétricos e neonatais, incluindo os de terapia intensiva neonatal, e serviria de referência aos encaminhamentos da Estratégia Saúde da Família da capital.
Por fim, para ganhar vida nova, e apagar os desacertos de sua montagem, esse empreendimento deveria ser batizado com um novo nome. Que tal Hospital Geral e Maternidade Dra. Zilda Arns? Ela que bem merecia ter recebido o Prêmio Nobel da Paz.
Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina
* Publicado In: O Povo. Fortaleza, 25 de janeiro de 2013. Caderno A (Opinião). p.7.
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