José Dilson de Vasconcelos Menezes (*)
Portugal, a partir do século XV, manifestou interesse em
promover a fiscalização das ações na área da saúde. Antes do descobrimento do
Brasil, em 1448, dom Afonso promulgou a “Carta de Officio do Cirurgião-mor
destes Reinos”, segundo a qual nenhuma pessoa poderia “usar da physica ou da
cirurgia sem licença especial dada pelo Cirurgião-Mor Mestre Gil”. Esta
situação perdurou até o século XVII, quando, em 1629, a coroa portuguesa
divulgou carta régia determinando que cirurgiões da corte visitassem o Reino,
“pelos inconvenientes que resultam das curas que fazem sem serem examinadas as
pessoas que exercitam nella officios de Cirurgiões e Barbeiros.” Através dos
anos, em várias ocasiões, o sistema de fiscalização modificou-se, sempre acompanhado
da cobrança de elevadas taxas. Em 1743, em decorrência do regimento do
cirurgião substituto, era cobrada taxa de 8 oitavas de ouro, o equivalente a
12.000 reis. Essa taxa correspondia ao dobro da que era cobrada em Portugal.
Para exercer a prática odontológica, o candidato, após aprendizagem com
profissional antigo, requeria para ser examinado. A preocupação maior da coroa
portuguesa estava centrada na arrecadação de taxas e das multas aplicadas. Não
demonstrava qualquer interesse em instituir sistema de formação técnica. Em
1808, com a transferência da corte para o Brasil, houve alteração na vida da
Colônia, produzindo, em consequência, muitos benefícios. No setor de saúde
ocorreu a criação das duas primeiras instituições de ensino médico: em Salvador,
a Escola de Cirurgia, no Hospital São José e, no Rio de Janeiro, a Escola
Anatômica, Cirúrgica e Médica, no Hospital Militar e de Marinha beneficiado a
Medicina, sem, contudo, proporcionar qualquer progresso à Odontologia.
Em 1856, de conformidade com a legislação vigente, os que
pretendiam exercer a “arte dentária”, após aprenderem procedimentos
odontológicos com um dentista, deveriam submeter-se a um exame e recebiam o
título de Dentista Aprovado. Somente em 1884, o horizonte se descortinou para a
Odontologia, graças a atuação de Vicente Cândido Figueira de Saboia, médico da
corte, diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Sugerindo profunda reforma no ensino médico e
reconhecendo a necessidade de formação superior aos que pretendiam se dedicar
ao exercício odontológico, encaminhou ao imperador proposta de novos estatutos
para as duas Faculdades de Medicina existentes (Rio de Janeiro e Salvador). Seu
trabalho foi coroado de êxito, tendo sido aprovado através do decreto nº 9.311,
de 25 de outubro de 1884. No artigo 1º do mencionado documento constava: ‘Art.
1º - Cada uma das Faculdades de Medicina do Império se designará pelo nome da
cidade em que tiver assento; será regida por um Diretor e pela Congregação de
Lentes e se comporá de um curso de sciencias medicas e cirúrgicas e de três
cursos anexos: o de pharmacia, o de obstetrícia e gynecologia e o de
odontologia”. Dessa forma, há 130 anos, os cursos de Odontologia passaram a
integrar o elenco dos universitários. O Conselho Federal de Odontologia,
através da resolução nº 96, de 26 de junho de1976, oficializou o 25 de outubro
como o Dia do Cirurgião Dentista Brasileiro.
(*) Cirurgião
dentista e professor universitário.
Fonte: Publicado
In: O Povo/Opinião, de 23/10/2014.
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