terça-feira, 10 de maio de 2016

NÃO CONTÉM GLÚTEN


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Eu escrevo livros, por isso sei de todo o mal que eles fazem. Leon Tolstoi (1828-1910)
A Dieta da Mente (2013) é um livro traduzido para o português (2014) de autoria do Dr. Davi Perlmutter e de Kristin Loberg (Ed. Paralela). “Carboidratos: Os Assassinos Silenciosos do Seu Cérebro...” O revolucionário programa de quatro semanas proposto nesse livro aponta o caminho para se manter o cérebro saudável, vibrante e aguçado - sem medicamentos. Com recomendações fáceis de seguir, receitas deliciosas e metas semanais, o plano de ação de Perlmutter prova que você pode assumir o controle de seus genes, recuperar o bem-estar e manter a saúde e a vitalidade por toda a vida evitando os carboidratos assassinos”.
Para quem não estiver acreditando nessa afirmação, o sucesso do livro foi tamanho que serviu de base para outra publicação, que teve tradução imediata para o vernáculo: Amigos da Mente (2015) – os nutrientes e bactérias que vão curar e proteger seu cérebro.
A sinopse desse lançamento diz:
“Em seu novo livro, David Perlmutter, o autor best-seller de A Dieta da Mente apresenta novas pesquisas que comprovam a importância do microbioma - os micro-organismos que moram dentro do seu corpo - para a sua saúde. Para se proteger de diversas doenças ligadas ao cérebro, como Autismo, Déficit de Atenção e Alzheimer, o neurologista apresenta os alimentos amigos que irão salvar a sua mente”. (Ed. Paralela).
A meu ver, uma panaceia mental baseada em ‘alimentos amigos’ soa como publicidade tanto enganosa quanto abusiva, ambas definidas abaixo. 

Publicidade Abusiva é a que pode provocar o medo, a discriminação, a violência ou prejudicar sua saúde ou segurança. Publicidade Enganosa é aquela que mente sobre produtos ou serviços ou ainda a que omite informação básica ao consumidor, levando-o ao erro. Pode ser encontrada na televisão, no rádio, nos jornais, em revistas, na internet, etc. (Conferir em http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=1818
Neste mundo de “dispositivos móveis”, da Internet, etc., a frase de Winston Churchill (1874-1956) torna-se cada vez mais verdadeira: “Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”.
Apesar de o público não desconhecer que prefere a verdade, seleciona sempre a mentira que mais lhe agrada. Sei do perigo que estou correndo ao denunciar este fato, mas também sei que quando se mistura verdade e mentira fica muito difícil distinguir entre elas.
Remato com o dito do Jornalista Alberto Dines*: esta minha crônica-opinião “não contém glúten”. Expressa apenas uma opinião sobre a necessidade de uma maior responsabilidade na divulgação da informação.
* Este texto não contém glúten, Alberto Dines em 20/10/2015 na edição 873 Observatório da Imprensa.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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