Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
As
pessoas são distintas entre si, não adianta estereotipar. Por isso não gosto
quando alguém afixa um letreiro, quanto mais se tratando de um país.
É o caso
das palavras Corrupção e Crise. Advirto aos senhores da Mídia: muita cautela
com essa estereotipia do Homem Brasileiro. Não existe momento político,
econômico ou militar que possa baixar a nossa autoestima ou o orgulho positivo
do Povo Brasileiro, porém jamais devemos faltar com a verdade Histórica, mesmo
que ela seja dura de engolir. Melhor uma verdade amarga do que uma mentira
doce. Fica parecendo que a corrupção só acontece no Brasil. O que não quer
dizer que não aconteça.
Sem
querer bancar o erudito, cito Shakespeare (1564-1616):
“Ah, se a
propriedade, títulos e cargos/Não fossem fruto da corrupção! /E se as altas
honrarias/Se adquirissem só pelo mérito de quem as detém/ Quantos não estariam
hoje melhor do que estão? /Quanto os que comandam não estariam entre os
comandados?”
O inglês já afirmava isto há
muito tempo. E na Roma clássica, muito antes do nascimento de Cristo já se
dizia: “em Roma tudo está à venda”.
Não estou
aqui para dar lições a nenhum dos meus patrícios e muito menos aos senhores da
imprensa, com o poder de fogo que possuem e que – espero - continuem a ter, nem
para dizer que as primeiras vítimas dos preconceitos e das mentiras são,
infelizmente, os que por causa delas sofrem, enquanto elas não são
desmistificadas.
Não sendo
nenhum ingênuo, sei da gravidade da conjuntura nacional, com o engessamento do
Estado por um partido único que quer se perpetuar no poder, etc. etc. Estamos
em um processo de amadurecimento democrático e o ‘aqui e agora’ é o que vale.
Como
antigo Professor de Pediatria, sei que a sociedade tem de sofrer, à semelhança
dos seres humanos, as suas próprias dores de crescimento para vir a se tornar
adulta. É o preço que temos de pagar pelo aprimoramento Democrático ou a
maturidade de uma grande Nação.
Para que
o desenvolvimento de uma Democracia seja sustentável, esse desenvolvimento tem
de ter sido alcançado por acúmulo e jamais por rupturas abruptas. Apesar disso,
tais momentos, mais ou menos dolorosos, que tivemos/teremos de enfrentar fazem
parte do processo histórico. O que não podemos fazer é tirar a esperança do
povo, diminuindo a sua autoestima, omitindo ou manipulando a verdade histórica.
É chegado o momento de não mais sermos engambelados por mitologias pueris ou
manipulações de qualquer natureza.
A ideia
de “brasileiros de manual” deveria se restringir aos compêndios dos sociólogos
como Gilberto Freyre (com a sua ideia de que tivemos uma escravidão branda) ou
Sérgio Buarque de Holanda (quando cria a ideia do homem cordial). O brasileiro
deveria ser cordial por agir baseado em seu coração, mas nunca no “deixa a vida
me levar” ou na lei de Gerson. Pior do que acreditar que somos a pátria de
chuteiras e outras baboseiras é acreditar que exista escravidão branda.
Lutamos e
continuamos a lutar por um país melhor. Construímos uma nação à custa de muito
sangue, sacrifício e guerras civis. Esquecemos com frequência os episódios
sangrentos da História pátria com a carnificina de Canudos (1896-1897) ou a
Guerra do Contestado (1912-1916), conflito que envolveu cerca de 20 mil
camponeses que enfrentaram forças militares dos poderes federal e estadual;
essa disputa ganhou o nome de Guerra do Contestado porque os conflitos
ocorreram numa área de disputa territorial entre os estados do Paraná e de
Santa Catarina.
Tivemos a
Cabanada, que se deu em Pernambuco e Alagoas (1832 e 1835); não confundir com a
Cabanagem (1832-1835) revolta que aconteceu no Grão-Pará, que compreendia então os atuais estados de
Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia, e terminou com cerca de 30 mil
mortos, mais de 30% da população do Grão-Pará, quando a capital, Belém, foi
incendiada. E tome mais. A Balaiada ‘revolta dos balaios' - ocorrida no
Maranhão e parte do Piauí, durante o período de 1830 a 1841. A Farroupilha ou
Guerra dos Farrapos (1835-1845), do Rio Grande do Sul e para não cansar mais o
leitor, a Revolução Constitucionalista de 1932, ou Guerra Paulista, considerada
por alguns como o último grande conflito armado ocorrido no Brasil.
Agora não
me venham dizer que somos diversos de outros povos. A nossa formação pode ter
sido diferente daquela dos outros povos, mais a nossa Nação foi constituída com
muita luta e sofrimento. Chegou a hora
de sermos respeitados por nós mesmos.
Chega de
o Brasil ser o país do futuro. Tivemos guerras, revoluções, escravatura e
estamos maduros para assumirmos o nosso lugar no consenso das nações do globo.
Brasileiro não é diferente de nenhum povo. Agir com cordialidade é ser levado
pelo coração. É sinal de humanismo.
Petrolão,
mensalão e outros desmandos devem ser punidos, sem jamais pensarmos que somos o
único país onde ocorre a corrupção. Calma minha gente, temos muitas razões para
nos orgulharmos. As crises fazem parte da vida das pessoas e das nações. No
mar, em qualquer oceano, há toda qualidade de peixe.
Chega
desse complexo de vira-lata.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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