Por Paulo Linhares (*)
“Ter um sonho todo azul. Azul da
cor do Mar” (Tim Maia)
Essa semana o debate sobre o Aquário da Praia de Iracema voltou a
ser pauta com a declaração do Governador Elmano de que vai ser construída uma
parceria público/privada para execução da obra.
O aquário foi idealizado em 2008 pelo então governador Cid Gomes
(PDT) para incrementar o turismo e atrair um milhão de visitantes.
A obra foi iniciada em 2012 para durar dois anos, os trabalhos se
interromperam definitivamente em 2015, no início da gestão de Camilo Santana
(PT). A obra já custou aos cofres estaduais R$130 milhões, com 75% da estrutura
de concreto concluída, mas apenas 25% do previsto em equipamentos e acabamento.
É hora de discutir o chamado Acquário Ceará com o mínimo de
racionalidade.
Antes de mais nada, é preciso dizer que quando pensamos no Centro
Cultural Dragão do Mar, Ciro Gomes (governador) eu como secretário de Cultura e
idealizador do projeto e o arquiteto Fausto Nilo, que ganhou a concorrência da
criação arquitetônica e urbanística, previmos um aquário exatamente no mesmo
lugar.
Mas antes de fazer qualquer coisa, começamos um estudo do que havia
de melhor no mundo e quais os resultados e custos.
Depois de um benchmarking minucioso, resolvemos visitar in loco
algumas experiências no exterior, já que no Brasil nenhum projeto mais
ambicioso existia (o AquaRio, o maior do Brasil, é um projeto recente).
Visitamos o Oceanário de Lisboa, inaugurado em 1999, que já estava
em obras, o Aquário de La Rochelle, na França, e eu conhecia e havia estudado o
Musée Océanographique, de Mônaco.
Os três projetos me pareciam com tipologias específicas de três
caminhos possíveis a seguir:
1.Um aquário pequeno com as características específicas do mar tropical
que temos aqui, com seus peixes e sua fauna e flora marinha. Caso do aquário de
La Rochelle.
2.Um aquário de grande porte com toda a variedade de mares e
animais marinhos apresentando toda a variedade existente no oceano. Caso do
Oceanário de Lisboa e do Aquário de Valença.
3.Um museu oceanográfico com a memória do que temos aqui na nossa
relação com o mar e um pequeno aquário com capacidade de mostrar o nosso
litoral. Caso do Museu do Mar de Monaco.
Lembro que estávamos eu, Fausto e Arialdo Pinho voltando dessa
viagem de estudos quando o piloto anunciou antes de desembarcar: é bom que os
cearenses saibam que o governador Ciro Gomes aceitou agora o convite do
presidente Itamar Franco para assumir o Ministério da Fazenda, tendo anunciado
sua renúncia do cargo que ocupava.
Ou seja: the dream is over.
A obra do Centro seria suspensa e só recomeçaria três anos depois,
sob o comando do governador eleito Tasso Jereissati, depois de detalhados
estudos, com um ponto claro: o aquário seria apenas um projeto futuro.
É bom que se diga: Tasso tinha razão. Embora o Centro Dragão do Mar
tenha custado em valores atuais cerca de 20 milhões de reais (moeda que ainda
não existia, diga-se de passagem), uma merreca em comparação ao que se gastou
depois no Centro de Convenções, Castelão e CF, seria prudente ir com calma.
Em 2008, Cid recebeu uma proposta de fazer um aquário em Fortaleza
do então Diretor Geral do Dnocs Eudoro Santana. Eudoro sugeriu a realização do
projeto naquela área, pois pertencia ao Dnocs e ele poderia ceder ao Estado.
Ao receber a visita do arquiteto cearense do escritório brasileiro
Imagic!, que vinha de algumas passagens pela Walt Disney Imagineering, núcleo
de design de entretenimento e tematização dos hotéis e parques da Walt Disney
Company, Cid empolgado resolveu fazer o projeto proposto.
Cid, que provavelmente nem sabia dos nossos estudos e andanças,
iniciou as obras quatro anos depois.
A ideia é boa.
Lisboa fez um grande Aquário e hoje é considerado o melhor
investimento da Expo 90. O Oceanário de Lisboa tem uma média anual de um milhão
de visitantes e deixa um lucro líquido de um milhão de Euros. O Oceanário de
Lisboa é a principal âncora turística da cidade e Portugal e é considerado,
unanimemente, o grande case turístico de todo o mundo neste momento.
O problema é que o projeto do Ceará é ruim.
O projeto do Oceanário de Lisboa é do americano Peter Chermaueff. O
projeto do L'Oceanografic de Valência, o maior aquário da Europa e o mais
visitado do mundo, é do arquiteto espanhol Félix Candela. São arquitetos de
indiscutível qualidade e currículo e que certamente ganhariam qualquer concurso
ou seleção mais rigorosa.
Não vou falar detalhadamente do projeto do Ceará, até porque o
arquiteto morreu recentemente.
Basta que pensemos seriamente no tamanho do investimento e da
necessidade de um projeto arquitetônico e não de design.
E antes de concluir, quero deixar claro que a opção por construir
um grande Aquário não é a melhor para Fortaleza neste momento específico de
dificuldades financeiras do estado e Governo Federal.
Com um décimo do investimento previsto, poderíamos fazer um museu
oceanográfico nos moldes do de Mônaco (com características bem nossas,
jangadeiros, peixes, histórias) e o trajeto onde o visitante entrasse no
litoral nascente (Icapuí) e saísse no litoral poente visitando objetos,
imagens, pequenos aquários, características da população original. Um projeto
que daria ao visitante muito mais inovação e vontade de conhecer o mar do Ceará
e teria uma relação investimento/retorno mais tranquila sem sustos e atropelos
dessas grandes obras.
Em síntese: com inteligência e talento o mar pode ser céu, o céu
ser mar, como dizia Neruda.
(*) Jornalista. Promotor Cultural.
Fonte: Publicado In: Vida & Arte, de 12/02/23. Opinião, p.8.
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