sexta-feira, 17 de março de 2023

Crônica: “Moralizando a genética” ... e outros causos

"Moralizando a genética "

Amarílio, amigo de longas datas, companheiro de bodejado bem-humorado e esclarecedor nos áureos tempos de seu Toinho (na Agapito do Santos), tendo o saudoso poeta Arievaldo por testemunha e colaborador de labutica, brinda-nos com lição demais oportuna. Com vocês, os significados reais de "Fí duma égua " e de "Pai d'égua".

- Sobre o "Filho de uma égua", o estimado jornalista, certamente, não encontrará resposta com exatidão concreta no folclorista e historiador Raimundo Girão. No entanto, Birrão, velho vaqueiro e veterinário prático, explicou-me.

O antigo frequentador da bodega do referido seu Toinho, aquele das garrafas de Bagageira enfileiradas na prateleira empoeirada, aprofunda a lição, a meu ver inquestionável, conforme palavras do tal Birrão:

- Uma égua tanto pode cruzar com um jumento, quanto com um cavalo. Se cruzar com jumento, nasce burra ou burro. Se cruzar com cavalo nasce cavalo ou égua. Então, há uma dupla possibilidade para a égua cruzar com jumento ou cavalo.

Assim, quando se chama o caba de "filho de uma égua", o pai fica indefinido, desconhecido.

A seguir, Birrão, conforme me repassou Amarílio, explica o que vem a ser "Pai d'égua".

- Agora, a coisa muda total. O pai é um cavalo e a mãe é uma égua como a filha. Ou seja, o cavalo cruzou com uma fêmea da mesma raça.

Pai d'égua, portanto, é o sujeito certinho, o cavalo que não pulou a cerca! E Birrão, um moralista!

Morte bacana

Dalvanice chegou na casa dos pais, havia cinco anos no mundo, e viu seu velho mais pra lá do que pra cá, em risco de pegar na mão de São Pedro. A ausência culposa bateu forte na consciência e ela tentou dar uma de boazona (quer dizer, de boazinha), chamando a atenção dos que ali residiam - a mãe, duas irmãs, três irmãos e uma tia vitalina.

- Isso é lá cuidado que se tenha com um homem dessa idade, meu povo! Olha a situação de penúria do pai!

- Inda ontonte, o médico disse que era da idade... - redarguiu uma irmã.

- Nããã!!! E essa tosse braba? O fundo do calção todo obrado?

- Todo dia tem passeio com ele no sol... - minimizou a tia.

- Bichim! Parece um vem-vem! Só o oco e os caboré cantando dentro! Que é isso, gente?

- Fizemo o que pudemo! - atalhou um irmão.

- Pois não é assim que se esfola um bode! Vou mostrar como se faz!

Arregaçando panos de manga, deu logo um banho caprichado em seu Raimundo, que, "acocado", tossiu do primeiro ao derradeiro balde d'água tomado na beirada do cacimbão. Depois (por volta das 19 horas), tacou talco na virilha do nonagenário senhor. De janta, um caldo de mocotó. E empurrou lambedor no bucho do genitor. Dalvanice limpou-lhe os ouvidos, cortou-lhe as unhas e nele vestiu vistoso pijama de linho verde claro que trouxera.

Resultado: meia noite em ponto, seu Raimundo deu o último suspiro. Papocou com linha e tudo! Uma das irmãs, de alma lavada...

- Viu só, sua abestada! Num teve jeito, papai acabou morrendo!

- É?!? Mas morreu bem melhor!!!

Contribuição do Assis Cavalcante

Rame-rame - Indecisão, dúvida, falta de vontade, improdutividade. Mesmo que "massapê".

Fonte: O POVO, de 24/02/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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