quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O BRASIL ANEDÓTICO XLVII

EUCLIDES E COELHO NETO
Coelho Neto - Conferência na Biblioteca Nacional, agosto de 1918.
Apresentado a Coelho Neto em Campinas, Euclides da Cunha foi visitá-lo uma noite. Risonho e desconfiado, o romancista, já informado das suas esquisitices, não lhe quis dizer o que se passava no interior da casa, deixando-o ler algumas das páginas dos Sertões. A certa altura, porém, uma criada vem trazer a Coelho Neto uma notícia. A sua senhora acabava de dar à luz mais um filho.
- Então, entramos no mesmo dia em sua casa, - declara Euclides, comovido.
E no mesmo tom:
- Havemos de ser amigos...
O ORGULHO DE OURO-PRETO
Tradição Oral.
Afonso Celso, visconde de Ouro-Preto, era de uma altanaria tal, que chegaram a atribuir ao seu orgulho a queda da monarquia. A sua atitude no quartel-general do Exército, quando Deodoro o intimou a deixar o poder, foi, realmente, a de um homem que se não dobra.
De regresso da Europa, onde estivera exilado, foi Ouro-Preto recebido do caís Faroux por grande multidão de amigos, de jornalistas, de antigos correligionários. De repente, avança um fotógrafo, e pede-lhe "pose" para as objetivas. O visconde destaca-se de um grupo de parentes e posta-se, isolado, a cabeça erguida, em desafio.
- Faz favor, sr. visconde ... - pede um dos fotógrafos, assestando a máquina:
E com um gesto da mão:
- Abaixe mais a cabeça... Sim?
A essas palavras, os olhos do velho estadista fuzilaram.
- Seria a primeira vez! - rugiu, com orgulho.
E abandonou a forma.
A PROBIDADE DE PAIS BARRETO
Joaquim Nabuco - "Um estadista do Império", tomo II, pág. 54.
Entre os estadistas moços formados pelo marquês de Olinda, Francisco Xavier Pais Barreto era uma das figuras mais brilhantes, e de maior futuro. Atingido, porém, de moléstia grave, faleceu aos 42 anos de idade, quando ministro do partido Progressista. Integro na vida, mostrou que o era até o momento da morte. No seu delírio, eram estas as suas palavras de todo instante:
- Não dou o dinheiro; o dinheiro do Estado não é para batotas!
Morreu em absoluta penúria.
VINGANÇA DE BOÊMIO
Constâncio Alves - Discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras, 1922.
O poeta Laurindo Rabelo descurava de tal forma do seu vestuário, que as famílias mais íntimas e que mais o admiravam, sentiam constrangimento em convidá-lo para as suas festas.
Certa dona de casa, incitada pelos filhos para que o contemplasse com um convite para as suas reuniões mundanas, objetou, um dia:
- Agora, não. Esperem que ele tenha roupa, que eu o convido.
Assim que o poeta exibiu um terno novo, a matrona cumpriu o que prometera; mandou-lhe um convite, logo aceito.
O sarau começou, porém, sem o boêmio. Quando já estavam cansados de esperar, bate alguém à porta. Todos correram para receber o retardatário. E foi uma decepção. Quem chegava era um carregador, trazendo em um tabuleiro a roupa nova do poeta, e este bilhete:
- "Aí vai o Laurindo".
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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