Por Ricardo Alcântara (*)
Alguém já disse que no curso de uma guerra a primeira vítima é sempre a verdade. Se uma eleição é, segundo alguns, a guerra por outros meios, não deve ser motivo de surpresa se, também aí, for a verdade, pelo menos em parte, sacrificada. É o que se tem visto com regular frequência.
A convicção com que os candidatos apostam na eficácia de transmitir aos eleitores leituras fantasistas da realidade é reveladora do quanto a maior parte dos indivíduos é resistente ao contato com a verdade. A verdade dói. Vendem-nos ilusões porque estamos inclinados a adotá-las.
Os cidadãos querem ser convencidos de algo que lhes facilite o sono. Uma necessidade recente me levou a uma criteriosa investigação sobre os custos de realização do programa de governo de um candidato. Ele precisa ria ficar lá por pelo menos doze anos para entregar a mercadoria ao freguês.
Se você observar bem o curso de uma campanha eleitoral, não encontrará grande dificuldade em constatar que não é tanto o engenho das propostas apresentadas, mas a irresistível vontade de acreditar que faz com que os eleitores “se esqueçam” de investigar as reais possibilidades delas.
Há povos vocacionados para o bom senso – os nórdicos, por exemplo. Outros, perderam vidas em períodos prolongados de conflito e, sob um elevado custo emocional, passaram a prestar mais atenção no que lhes dizem aqueles que se ocupam em lhes colocar os pés sobre o chão.
No Brasil, o bom sinal é que os radicais, para os quais quase tudo se resume a uma questão de boa vontade, sumiram. A pesar, o modo resignado com que os brasileiros aceitam pagar, mesmo a contra gosto, o alto preço da corrupção e só costumam castigá-la quando a ela se somam outros agravantes.
Mas um país que viveu décadas sob ditadura militar sempre terá bons motivos para comemorar ao ver eleitos novos governantes em um ambiente de ampla normalidade como agora. Venceu a democracia, “o pior regime, à exceção dos demais”, a despeito de suas próprias limitações.
Pesos e medidas
Sim, ocorreram ostensivas manifestações de abuso do poder econômico por integrantes da candidatura de Roberto Cláudio durante todo o transcurso do dia da eleição. Não consta, outrossim, que a tesouraria da campanha de seu adversário estivesse auditada pelos monges beneditinos.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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