Por Xico Sá
Durante a programação da “Casa TPM”, evento da revista
idem realizado recentemente em SP, aproveitei a minha apresentação para ler um
manifesto cabeludo.
De lá para cá, motivado pela sabedoria e leveza da
Claudia Ohana, 49, ao lidar com a memória da sua clássica “Playboy” de 1985,
passei a gillete-press no meu texto original e sampleei do inconsciente outros
pontos esquecidos.
Recordar é viver: 15 anos depois de La Ohana, em 2.000,
Vera Fischer sofreu o diabo. Os tempos já eram outros e os jovens - ah, esses
moços, pobres moços, caro Lupicinio!- tiveram nojinho do sexo da super-fêmea. Em
crônica para a revista, recordo, saí em defesa da deusa.
E chega de passado. Sem mais, eis meu libelo atual e
pós-primitivista:
Pela Amazônia Legal das Moças.
Contra o desmatamento total das glebas. A não ser na
primavera, para renovar a flora e fazer uma surpresa para um moço novo, ou uma
nova moça, na sua vida.
Por uma política pubiana sustentável, apenas aparável,
jamais beirando o semi-árido e as miragens do deserto.
Contra os desenhozinhos cabulosos. Este campo sagrado não
é grama de arena futebolística para tais experimentações estéticas.
Lembre-se, Lola, do quadro “L’Origine du monde” (1866),
sim, a origem do mundo, obra do realista Gustave Coubert.
Contra a devastação da cera negra espanhola e todas as
outras técnicas colonizadoras que molestem as lolitas ou as lindas afilhadas de
Balzac.
Por uma relva fresca todas as manhãs. Uma relva molhada
pelos desejos noturnos e inconscientes. Uhn, aquele cheiro da aragem divina.
Contra o mundo limpinho que decreta o fim dos pelos
púbicos. Sou da turma do contra. Por uma razão simples: sexo sem pelo (de tudo)
não é sexo.
Tudo bem, o estilo consagrado na “Playboy” da Claudia
Ohana pode ter datado, mas a falta total de pelo infantiliza muito o enlace
amoroso.
Só há maldade e erotismo nos pelos. A depilação 100% sempre
funcionou muito bem como um fetiche provisório, um presentinho ocasional ao
amado. Não deve ser permanente como a revolução de Mao Tse Tung.
Onde estão o Greenpeace, o S.O.S. Mata Atlântica e todas
as ONGs que não berram contra essa chacina ecológica.
Pela Amazônia Legal das Moças e os seus lindos estuários
do desejo latente.
Pela exploração táctil e oral do relevo, das
reentrâncias, dos riachinhos que deságuam nos mares nunca dantes. Todos os
mistérios guardados além muito além dos pelos.
Contra os trocadilhos para dar nomes às casas de
molestamentos depilatórios. “Pelo menos”, “Muito pelo ao contrário”, “Pelos
melhor não tê-los” etc.
Contra o sexo limpinho. Contra a corrida para o banho
depois do gozo.
A favor de guardar o cheiro dela na barba, o dia inteiro,
o que aliviará as dores do mundo no passeio do cavaleiro pelas calçadas.
Pacaembu, São Paulo, 2012, ano da graça do centenário do
gênio Nelson Falcão Rodrigues
Fonte: http://xicosa.blogfolha.uol.com.br
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