Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Presidia uma mesa redonda na Sociedade Brasileira de
Medicina Psicossomática, a respeito de SIDA e suas repercussões sociais. A mesa
estava composta por três especialistas.
Foi uma bela reunião, auditório interessadíssimo, mas
quando ia dar por encerrado o encontro, eis que um dos participantes fez uma
pergunta dirigida a mim:
– O colega presidente da mesa, como pediatra, poderia nos
esclarecer se o vírus da SIDA é capaz de ser transmitido através da
amamentação?
Fez-se silêncio no auditório. Por sorte, ou por azar meu,
respondi:
(Era no tempo do flagelo da síndrome da deficiência
imunológica no homem. À época, poucos sabiam da sua epidemiologia. Era uma
matéria importante, como, aliás, tudo que envolve os desvios da sexualidade
humana. Naquele tempo, considerava-se que a patologia afetava o
homossexualismo, fato que se mostrou não ser mais que preconceito).
– A Revista Time noticiou que na Suécia haviam sido
constatados dois casos de AIDS por contaminação de leite materno.
E foi com muito cuidado que respondi existir esta dúvida:
se outras secreções, que não a espermática, poderiam ser responsáveis pela
transmissão. Esclareci que não havia tomado conhecimento por nenhuma publicação
médica indexada sobre o assunto. Apesar de não descartar a hipótese de o leite
humano poder veicular a SIDA, como qualquer outra secreção do contaminado.
No outro dia, li estupefato, a manchete em vários jornais
nacionais.
PROFESSOR DE PEDIATRIA DECLARA QUE O LEITE MATERNO PRODUZ
AIDS.
Para sair dessa
fria não foi fácil!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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