Cerca de 200 pessoas se reuniram
para prestar homenagem a ele e a "todos aqueles que fizeram a
diferença", declarou o presidente da Academia Raoul Wallenberg, Michael
Wernstedt em um breve discurso.
"Nas últimas semanas, os
eventos nos mostraram que é importante defender a democracia",
acrescentou, convidando os participantes a acender uma vela "para todos
aqueles que espalham a luz".
Raoul Wallenberg foi um desses
Justos que trabalharam para salvar judeus do Holocausto. Em 1944, em Budapeste,
ele distribuiu passaportes de proteção que identificava seus portadores como
cidadãos suecos que aguardavam repatriamento.
Em 17 de janeiro de 1945, ele foi
convocado ao quartel-general do Exército Vermelho e desapareceu em condições
obscuras. Ele morreu oficialmente em uma prisão de Moscou durante o verão de
1947, aos 35 anos de idade, mas sua família e pesquisadores duvidam desta
versão.
"Em 1957, as autoridades
soviéticas asseguravam ter um único documento sobre Wallenberg, seu suposto
atestado de óbito manuscrito. Após a queda da União Soviética, os russos
apresentaram numerosos documentos relativos aos suecos, e hoje não há dúvida
que nem todos foram produzidos", explica à AFP Ingrid Carlberg, que
escreveu uma biografia exaustiva sobre Raoul.
"É possível descobrir a
verdade", insiste Nina Lagergren, meia-irmã de Raoul Wallenberg.
Aos 93 anos, ela deseja saber a
verdade. Em julho, ela participou em Washington de uma homenagem ao herói,
tornado cidadão de honra americano em 1981.
"É necessário que a Rússia abra
seus arquivos. Já se passaram 70 anos desde que desapareceu, sua irmã ainda
está viva e à espera de uma resposta. É uma pena que a Rússia ainda esteja
brincando de gato e rato", insiste Carlberg.
Um grupo de pesquisadores apresentou
recentemente pistas inéditas, prova de que nem tudo foi dito.
Não se sabe as razões para a sua
detenção e prisão, talvez por espionagem, e certeza sobre o momento de sua
morte nunca foi estabelecida.
Para o governo sueco, o caso
continua "completamente aberto". "Não esclarecemos tudo. Quando
aparece um elemento interessante novo, nós o apresentamos aos russos", diz
Hans Olsson, encarregado do assunto no ministério das Relações Exteriores.
Salvador de 100.000 pessoas A Suécia
nunca esteve tão envolvida no caso. Por muito tempo, "o comportamento no
ministério das Relações Exteriores e a falta de interesse eram realmente
estranhas", afirma Lagergren.
Viva e elegante, ela cultiva uma
memória muito lúcida de seu irmão, quase uma década mais velho.
"Nós (o seu irmão Guy von Dardel,
falecido em 2009, e ela mesma) sempre o admiramos. Ele era extremamente
divertido e amoroso."
Em seu charmoso apartamento no
subúrbio de Estocolmo, Nina Lagergren dedicou uma sala inteira a
"Raoul", onde reúne seus arquivos, muitos quadros e obras de arte.
Vivendo em Berlim no início do verão
de 1944, ela foi a última pessoa da família a vê-lo vivo.
"Ele estava com pressa (de ir a
Budapeste). Ele compreendia a gravidade de sua missão", lembra com
carinho.
Enviado a Budapeste pela Comissão de
Refugiados de Guerra, uma agência americana criada para salvar as vítimas civis
dos nazistas, fornecendo documentos de identidade de países neutros, como a
Suécia, ele colocou toda a sua energia e imaginação à serviço do resgate dos
judeus de Budapeste.
De acordo com algumas estimativas,
teria salvado até 100.000 pessoas.
"Em seus telegramas de poucas
linhas, conseguíamos compreender a situação", sugere Lagergren.
Em 2001, ela participou da criação
da Academia Raoul Wallenberg, que visa incentivar os jovens a "agir em
favor da igualdade".
O compromisso do sueco fez
"dele um símbolo de coragem cívica", analisa o porta-voz Johan Perwe,
porta-voz do Fórum para a História Viva, uma agência que trabalha sobre o
assunto, especialmente entre os jovens.
"Ao contrário da geração de
nossos avós, e, provavelmente, uma depois dessa, que viveu com a falta, a minha
geração pode usar Raoul como algo positivo, um exemplo e uma inspiração",
resumiu a neta de Lagergren, Cecilia Ahlberg, muito ativa na Academia Raoul Wallenberg
e que também deseja saber a verdade.
Fonte: AFP/
Notícias UOL, de 27/01/2015.
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