Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Fico surpreso com o
comportamento midiático sobre a escolha e a posse do ministério do atual
mandato presidencial, martelando os nossos sentimentos e inteligência,
impiedosamente — argumentum ad nauseam
(argumentação até provocar náusea), como se fôssemos todos idiotas. Como se
tais ministros tivessem realmente algum Poder.
Nessas horas procuro
abrandar esse desgosto passeando pelos textos do jornalista Nelson Rodrigues
(1912-1980), oficial do mesmo ofício desses seus colegas que tentam impingir
fatos camuflados à maioria de nós, quando o seu dever seria esclarecer ainda mais
o público. Cada vez gosto mais dos profissionais do jornalismo do passado,
quando existia mais seriedade e menos recursos tecnológicos. Afirmaria até que,
com os avanços da informática, é cada dia mais premente a necessidade de
contarmos com jornalistas bons e honestos. Urgente.
Volto a Nelson Rodrigues,
quando escreve:
Nos tempos de Getúlio
Vargas, um dos seus ministros explodiu: — “Sou um ministro de Estado e não um
amanuense!” Era um amanuense e não um ministro de Estado. O ministro que ele
imaginava ser não existia. O que existia de concreto no tal ministro era o
amanuense. Ou nem isso.
Em verdade, o ministro é,
acima de tudo, um contínuo (empregado de repartições públicas ou
estabelecimentos que leva e traz papéis, transmite recados e faz outros pequenos
serviços, segundo diz o dicionário Aurélio sobre este verbete, na sua última
edição).
As pessoas se esquecem de
que homens e mulheres não nasceram para serem grandes. Um mínimo de grandeza já
os desumaniza. Por exemplo: — um Ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser
ministro já o empalha. É como se tivesse algodão por dentro e não entranhas
vivas.
Por isso digo: ou o
Ministro é um Benjamin Disraeli (1804-1881), um Otto von Bismarck (1815-1898)
ou um Winston Churchill (1874-1965) e o demonstra, ou não passa de um contínuo.
No caso das mulheres, o mesmo acontece. A ministra teria de ser uma Margareth
Thatcher (1924-2013) ou uma Golda Meir (1898-1978), para ficar apenas com estas
duas, por razões sentimentais. A régua que permite separar os verdadeiros
ministros ou ministras obedece à mesma norma.
Para provar isto digo:
— Não existe ninguém mais
vago, mais irrelevante do que um ex-ministro. Concordo com que dizia o Nelson,
em parte: um ministro não passa de um contínuo de luxo com direito a
água-gelada, cafezinho, casaca e carro-oficial.
Digo que, em parte, as
coisas mudaram, recentemente. Foi-se o tempo em que a casaca bastava... O que
funciona agora é a demissão, para aquele ou aquela que não cumpra as ordens de
quem os nomeou. O que vale é quem foi eleito e não nomeado. Ministro é como executivo de uma grande
empresa. Pode ser demitido e perde todas as mordomias. Fica desempregado.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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