Por Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
O Prof. Livino Pinheiro ministrava uma aula
no anfiteatro do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC, com uso de
projetor de slides, o que levava a fechar portas e janelas, evitando qualquer
facho de luminosidade, para não prejudicar a qualidade da projeção.
Com a exposição em franco andamento, um
acadêmico retardatário adentra no anfiteatro, no intervalo entre um e outro
slide, quando o recinto estava um breu, quedando-se estupefato.
Nesse instante, já com pouco de iluminação
da porta entreaberta, o insigne mestre, apoiando-se em Dante Alighieri ,
pronuncia a célebre sentença disposta na porta do Inferno:
– “Lasciate qui ogni speranza, voi
ch’entrate”! – surpreendendo a toda
audiência.
O intruso extemporâneo, sem entender o que
ouvira, retrucou:
– Como é que é, professor! O que isso
significa? Desculpe-me pela minha ignorância, mas eu não sei nada de latim.
– Isso não é latim, meu filho. Eu apenas
apropriei-me de um verso do Canto III da Divina Comédia para traduzir a sua
inexcedível surpresa.
– Ainda bem, amado mestre! Eu pensei que o
senhor falava da minha mãe – arrematou o
engraçadinho.
E aí não deu mais conter as gargalhadas
estudantis.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. À porta do inferno. In: SOBRAMES – CEARÁ. Ritmo literário.
Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2015. 304p. p.199.
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos
e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.
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