Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
A
palavra “câncer” foi consignada inicialmente por Hipócrates – pai da Medicina –
pela semelhança com o caranguejo, a mover-se, lentamente, em todas as direções.
Poucos termos têm tamanha carga semântica (interpretação linguística do
sentido), e a professora de Teoria Literária Marisa Lajolo, afirmou ser
“câncer” talvez o melhor exemplo do medo que certos vocábulos provocam (In “O
que é Literatura”. Ed. Brasiliense, S.P., 1982). Acomete (ataca) igualmente
peixes, aves, animais e até vegetais, como documentado pelo cearense Prof. José
Júlio da Ponte (UFC) na chicória, hortaliça substituta da alface. É um exemplo
de neoplasia, “nova formação de tecido, anormal, com crescimento excessivo e
persistente”. Deve-se a alterações celulares por exposição a certas substâncias
químicas, os radicais livres. Estes, naturais ao organismo, assim aumentam por
fatores ambientais – responsáveis por 80% dos casos – entre eles a contaminação
pelos raios X ou solares; poluição (fumaça de cigarro); frituras, estresse e
dieta inadequada (máxime no câncer colo – retal). Segunda doença mortal nos EUA
onde, por ano, em 2006 os números apontaram, em milhões: pulmões (1,2); mamas
(1,05), e em milhares: cólons e reto (945); estômago (876); fígado (564); colo
do útero (471). Estudos de oncologia (do gr. “ógkos” = tumor) preventiva
constataram no câncer evolução anual lenta, em 4 fases: indução (15-30 anos),
“in situ” (5-10); invasão (1-5), e disseminação (idem). O tumor “in situ” é
também denominado pré-invasivo, ou pré-câncer (In PHSLeão: “Câncer nos Cólons e
no Reto. Mesmos e outros aspectos”. Ed. UFC/CBC, Fortaleza, 1984). Poderíamos
mesmo estar alojando agora um câncer naquelas duas fases iniciais acima, ainda
sem sintomas ou sinais. “Vade retro”!
Como
dicas para a sua prevenção, valham-nos fugir dos ditos radicais livres, e –
entre os fatores ambientais – da poluição (fumaça de cigarro), e das dietas
daninhas. O fumo causa não apenas câncer pulmonar, da boca, garganta, e
laríngeo, mas inclusive quando nas vias de excreção da fumaça (rins, bexiga).
Aliás, na gíria norte – americana, os cigarros chamam-se “coffin nails” (pregos
de caixão). Quanto à sua detecção (descoberta) precoce por exames de sangue, o
mais importante, atualmente, seria o marcador tumoral D-70. Dosagens outras
identificam o risco genético para cânceres do pâncreas e colo-retais. São os
testes genômicos, como GSTM1, BRCA1, e o TP53, contudo ainda inexequíveis nesta
cidade. Técnicas radiológicas especiais, como a tomografia computadorizada, o
“Pet Scan”, a colonoscopia virtual, podem robustecer seu diagnóstico tempestivo
(oportuno) mesmo quando incipientes (iniciais). Na profilaxia é utilíssima a
dieta isenta de açúcar refinado (preferir o mascavo, ou o demerara), e rica em
peixes, frutas, verduras, grãos vegetais (dieta mediterrânea). Além desta
providência, merecem especial atenção as promissoras vacinas (mais de 50 estão
em análise), e a quimioprevenção com vitaminas, sais minerais, antioxidantes e
hormônios. E para não dizerem que não falei de amor, recomendo ler aquele meu
poema em cujo início confesso: “não tenho medo de câncer / temo que canses de
mim” (no meu livro de texto mencionado à frente, ou em “Ilha de Canção”. Ed.
UFC / Academia Cearense de Letras, Fortaleza, 1983).
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 26/10/2016. p.10.
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