Na noite de segunda, 6 de fevereiro de 2017, com a lua
crescente, o velho palácio de tijolo e argamassa, estava redivivo no seu
esplendor. Nada mexeram na estética original. A soergueram do quase arcabouço
de 1771 com o zelo e a acurácia de José Augusto Bezerra-JAB, duplo de
administrador e bibliófilo.
Tudo começou há muitos anos, quando se discutia o
estado calamitoso da Casa. Éramos Regina Fiuza, Olímpio Rocha e este escriba.
Fomos cavoucar plantas, projetos, documentos, certidões, inertes. Daí há longo
caminho, ontem concluído com solenidade grada comandada por JAB. Ele descreveu
a sua epopeia. Viagens a Brasília, encontros com equipes multidisciplinares,
obras, verba curta e a tenacidade de José, carpinteiro e artífice de cada
detalhe restaurado.
A (Rua) Sena Madureira, militar e escritor, autor de
“Guerra do Paraguai”, foi testemunha da subida. Pela porta e escada
recuperadas, dos convidados e homenageados, a partir do Governador Camilo
Santana.
Os corredores e o auditório principal, encimado por
candelabro, realçavam o painel de Raimundo Cela, em júbilo à Abolição da
Escravatura no Ceará. Do lado direito ficaram os acadêmicos. Do lado esquerdo,
homenageados e famílias. Mesa ilustre e plateia plenas faziam crer que a
Academia Cearense de Letras é ainda o estuário dos poetas, contistas, cronistas
e romancistas, em tempos robóticos. A Camerata da Unifor sonorizou Alberto
Nepomuceno e o grupo “Verso de Boca”, do poeta Roberto Pontes, fez recital prazeroso.
Após comendas e discursos, ágape. A lua alumiava tímida chuva. Há esperança no
Ceará.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de
Letras.
Fonte: Publicado no jornal Diário do Nordeste,
Ideias, 11/02/17.
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