quinta-feira, 6 de abril de 2017

A LUZ DO PALÁCIO

Por João Soares Neto (*)
Na noite de segunda, 6 de fevereiro de 2017, com a lua crescente, o velho palácio de tijolo e argamassa, estava redivivo no seu esplendor. Nada mexeram na estética original. A soergueram do quase arcabouço de 1771 com o zelo e a acurácia de José Augusto Bezerra-JAB, duplo de administrador e bibliófilo.
Tudo começou há muitos anos, quando se discutia o estado calamitoso da Casa. Éramos Regina Fiuza, Olímpio Rocha e este escriba. Fomos cavoucar plantas, projetos, documentos, certidões, inertes. Daí há longo caminho, ontem concluído com solenidade grada comandada por JAB. Ele descreveu a sua epopeia. Viagens a Brasília, encontros com equipes multidisciplinares, obras, verba curta e a tenacidade de José, carpinteiro e artífice de cada detalhe restaurado.
A (Rua) Sena Madureira, militar e escritor, autor de “Guerra do Paraguai”, foi testemunha da subida. Pela porta e escada recuperadas, dos convidados e homenageados, a partir do Governador Camilo Santana.
Os corredores e o auditório principal, encimado por candelabro, realçavam o painel de Raimundo Cela, em júbilo à Abolição da Escravatura no Ceará. Do lado direito ficaram os acadêmicos. Do lado esquerdo, homenageados e famílias. Mesa ilustre e plateia plenas faziam crer que a Academia Cearense de Letras é ainda o estuário dos poetas, contistas, cronistas e romancistas, em tempos robóticos. A Camerata da Unifor sonorizou Alberto Nepomuceno e o grupo “Verso de Boca”, do poeta Roberto Pontes, fez recital prazeroso. Após comendas e discursos, ágape. A lua alumiava tímida chuva. Há esperança no Ceará.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado no jornal Diário do Nordeste, Ideias, 11/02/17.

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