Entre Nuvens
Por Quintino Cunha
Ameaça
chuva. O pássaro na rama
Vem de
ocultar-se. Agora permanece
A
sombra do covil. Tudo parece
Triste
como a saudade de quem se ama
Enquanto
o Céu apenas se recama
De
nuvens, não; mas, quando se incandesce
De um
relampear profundo, a chuva desce,
Por
fina força a chuva se derrama.
Em nós
outros também o tempestivo
Amor é
assim como este quadro vivo,
Que, há
pouco, a natureza dominava.
Falo
por mim, tirando por Maria;
Pois,
quando na minh'alma relampeava,
Nos
seus olhos, tristíssimos chovia!
Aracoiaba
Por Quintino Cunha
Grande
pedra partida, altaneira,
Bem ao
meio, por onde fugindo
Porção
d'água da fresta, saindo
Cai
n'areia, fazendo a cachoeira.
Logo ao
lado, ingazeira sombria,
Onde se
ouve cantar passarinhos,
Uns por
fora, outros dentro dos ninhos,
Na mais
doce e morosa harmonia.
Lindo
poço ao depois que, escalvado,
Sussurrante
com força represa,
E, na
mais natural singeleza,
Vê-se o
rio de novo formado.
E, ao
lado daquela ingazeira,
Sobre a
pedra que eu disse ind'agora,
Pressurosa,
sutil lavadeira
Lava a
roupa de Nossa Senhora.
Realismo
Por Quintino Cunha
O
líquido tesouro do alto desce,
Avigorando
as plantas de cultivo;
Sertões
e serras são banhados desse
Recurso
precursor e lucrativo.
O ânimo
alegre nesse quadro vivo,
Ao mais
fácil dos seres fortalece,
Embora
o espesso matagal nocivo,
Venha
entravar a marcha do que cresce.
Centenas
de homens do Brasil moderno,
Serena
turma de aproveitadores,
Lembram
plantas daninhas pelo inverno.
Homens
cujo ideal não tem raízes,
Mas que
vivem, vivendo entre os valores,
Inúteis,
vigorosos e felizes...
Fonte: Ceará Moleque.
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