Duas
das mais relevantes academias culturais do Ceará reuniram-se na Casa de Thomaz
Pompeu (Academia Cearense de Letras, 18/8/17) para homenagear um dos seus
paladinos. O jornalista, advogado, bibliófilo, escritor e gentil homem, Antônio
de Pádua Lopes sagrava-se Sócio Benemérito da Cultura, assim reconhecido por
nossa congênere Academia Fortalezense de Letras. “Cultura” — aproposita-se-me
neste azo relembrar — perfaz o conjunto de ideias e costumes característicos do
sentimento e da linguagem de um povo. É adquirida por intuição, adoção ou
herança intelectual, biossocial. “Educação” é o conhecimento ministrado nas
escolas e universidades. Estas duas invejáveis prendas possui discretamente o
homenageado de hoje.
O Brasil, país continental, de colonização heterogênea,
ostenta variadas culturas, mas irrelevante educação. Lê-se pouco aqui, apenas
quase dois livros/ano, para uma média mundial de 8-10 títulos anuais.
Garantindo a propagação da Cultura, louvemos seus propugnadores, desde a Roma
imperial. Entre esses sobressaiu Caio Mecenas, no século I a.C., como
incentivador cultural, patrocinando artistas desde então famosos como Leonardo
da Vinci, Boticelli, Michelangelo e tantos outros do Renascimento na Europa,
nos séculos XV e XVI.
No Brasil, a preocupação governamental com a cultura
surgiu em 1986 (Lei Sarney), tendo como incentivo determinada renúncia fiscal.
Contudo, escândalos e desvios de verbas culminaram com sua extinção em 1990.
Surgiu então a Lei Rouanet, já carecendo ser escoimada de nefandas distorções.
No Ceará, berço esplêndido da primeiríssima academia de Letras no Brasil
(8/1894), passou o vigorar, em 1995, a Lei Jereissati, graças a esse governador
hoje Sócio Benemérito e principal mecenas desta Casa. Como reconhecimento, em
10/5/2010, então presidente da Academia Cearense de Letras, tive o prazer de
conceder-lhe a Medalha Cláudio Martins, por mim criada.
Ainda no capítulo da Educação e do fomento cultural,
louvores deem-se a todo momento ao profícuo timoneiro da Unifor, chanceler
Airton Queiroz, a quem ofertamos a Medalha Barão de Studart, em 5/XI/2012. Loas
especiais entoemos também ao insigne industrial Ivens Dias Branco, por igual e
mesmas razões aqui reverenciado recentemente. Estes fatos históricos merecem
evocados, acreditando-se ser “a recordação (...) uma rebelião, contra o
esquecimento, que é uma lei”, como lapidarmente declarou o poeta, jornalista e
diplomata mexicano Amado Ruiz de Nervo.
Àquela noite, além das lâmpadas do teto, iluminava o
salão nobre uma estrela de primeira grandeza: Pádua Lopes. Homem bom,
clarividente, exibindo virtudes do santo homônimo; modesto, mas de alto coturno
intelectual, Antônio de Pádua Lopes sempre soube ser a cultura “qual palmeira
cujas páginas oscilam à mercê do sopro de quem as dedilha”; e para tanto valem
os seus pulmões! Relendo seu primeiro e precioso romance, Safira Não é Flor
(Ed. Expressão Gráfica. Fortaleza, 2016), acompanhei à distância sua fé
(regrinação cultural pelos sítios sagradas da Itália, aquela “Italie de l’âme”,
da alma, como disse um crítico francês referindo-se a Shakespeare).
Estasiamo-nos novamente ante aquelas obras imortais e silenciamos, contritos, à
sombra do Domo de Brunelleschi.
Prezadíssimo Pádua Lopes: a senhora Fernanda Quinderé,
mui gentil presidente da Academia Fortalezense de Letras, concedeu-me a honra
de proferir estas “paucas pallabris” em vosso encantamento, ao tempo em que vos
releva com a medalha Martins Filho. Ressalte-se ter sido este singular troféu
mandado moldar — pela Academia Fortalezense de Letras — para enaltecer o nome
desse magnífico educador, campeão dos curadores da Educação superior no nosso
Estado. Pádua Lopes junta-se a Lúcio Alcântara e Tales Cavalcante, previamente
assim agraciados. Recebei, destarte, nossos parabéns. Estamos particularmente
felizes por compartilhar a vossa alegria!
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 8/11/2017.
Opinião, p.14.
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