quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

LAVA-JATO OU DESCULPE QUALQUER COISA

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Dizem alguns estudiosos dos costumes luso-brasileiros, principalmente no Sertão Nordestino e na região de Belmonte Norte em Portugal, onde a expressão “desculpe qualquer coisa” é mais empregada, ser esse um costume motivado pela grande concentração de judeus e cristãos-novos em Portugal, sendo essa forma de despedida um resquício da perseguição do temido Tribunal do Santo Ofício, que aceitava denúncias anônimas e todos precisavam estar atentos para falsas denúncias inquisitórias.
A Inquisição foi instituída em 1232 pelo papa Gregório IX e vigorou até 1859. Foi a perseguição antissemítica de maior duração da história: durou seis séculos.
Decretada a conversão ou a expulsão dos descendentes hebreus do Reino, uma multidão se acotovelava no cais do porto de Lisboa, pois os expulsos não desejavam ser batizados a força.
Os navios que tocavam os ancoradouros lisboetas não davam vazão à multidão que ficou a ver os navios passarem sem neles poderem entrar. Mesmo assim, houve um batismo coletivo com água benta armazenada em tonéis trazidos por carroças e aspergida sobre o povaréu de judeus, pavimentando a estrada que os levaria diretamente às fogueiras do Tribunal do Santo Oficio já que passavam a ser, após o “batismo”, cristãos-novos, sujeitos à jurisdição direta do Inquisidor Mor.
A distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos, no entanto, foi revogada pelo Marquês de Pombal em 1773, antecipando em quase 90 anos a desativação formal do Santo Ofício pelo Vaticano. Hoje, convivemos com a lava-jato e com a corrupção.
O medo era grande! Até entre os pobres artesãos. Portanto, como descendente de judeu, e, nessa contemporaneidade, não serei eu o suplicante ao leitor do DESCULPE QUALQUER COISA...
Outrossim, dá para imaginar o medo do denuncismo, das gravações, dos indiciamentos da nossa classe política e de outros em Brasília e em todo o Brasil (salvo as exceções de praxe)! E, os denunciados, não têm como alegar um "desculpa qualquer coisa!"
Lembrem-se de que quando a História se repete, pode virar uma grande farsa. Não há que haver "desculpas para justificar quaisquer manobras políticas", não pela lava–jato, mas pelo denuncismo e as fofocas que estão agitando a sociedade, mais do que seria desejável. Há que haver, sim, mais e mais lisura, mais e mais veemência, que corrobore com as leis existentes e sua aplicação ipsis litteris, sem quaisquer desmembramentos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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