Médico-Psicoterapeuta
Dizem alguns estudiosos dos costumes
luso-brasileiros, principalmente no Sertão Nordestino e na região de Belmonte
Norte em Portugal, onde a expressão “desculpe qualquer coisa” é mais empregada,
ser esse um costume motivado pela grande concentração de judeus e cristãos-novos
em Portugal, sendo essa forma de despedida um resquício da perseguição do
temido Tribunal do Santo Ofício, que aceitava denúncias anônimas e todos
precisavam estar atentos para falsas denúncias inquisitórias.
A Inquisição foi instituída em 1232 pelo papa Gregório
IX e vigorou até 1859. Foi a perseguição antissemítica de maior duração da
história: durou seis séculos.
Decretada a conversão ou a expulsão dos
descendentes hebreus do Reino, uma multidão se acotovelava no cais do porto de
Lisboa, pois os expulsos não desejavam ser batizados a força.
Os navios que tocavam os ancoradouros
lisboetas não davam vazão à multidão que ficou a ver os navios passarem sem
neles poderem entrar. Mesmo assim, houve um batismo coletivo com água benta
armazenada em tonéis trazidos por carroças e aspergida sobre o povaréu de
judeus, pavimentando a estrada que os levaria diretamente às fogueiras do
Tribunal do Santo Oficio já que passavam a ser, após o “batismo”,
cristãos-novos, sujeitos à jurisdição direta do Inquisidor Mor.
A distinção entre cristãos-novos e
cristãos-velhos, no entanto, foi revogada pelo Marquês de Pombal em 1773,
antecipando em quase 90 anos a desativação formal do Santo Ofício pelo
Vaticano. Hoje, convivemos com a lava-jato e com a corrupção.
O medo era grande! Até entre os pobres
artesãos. Portanto, como descendente de judeu, e, nessa contemporaneidade, não
serei eu o suplicante ao leitor do DESCULPE QUALQUER COISA...
Outrossim, dá para imaginar o medo do
denuncismo, das gravações, dos indiciamentos da nossa classe política e de
outros em Brasília e em todo o Brasil (salvo as exceções de praxe)! E, os
denunciados, não têm como alegar um "desculpa qualquer coisa!"
Lembrem-se de que quando a História se repete,
pode virar uma grande farsa. Não há que haver "desculpas para justificar
quaisquer manobras políticas", não pela lava–jato, mas pelo denuncismo e
as fofocas que estão agitando a sociedade, mais do que seria desejável. Há que
haver, sim, mais e mais lisura, mais e mais veemência, que corrobore com as leis
existentes e sua aplicação ipsis litteris, sem quaisquer
desmembramentos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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