Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Não conheço pessoalmente nem muito menos tenho procuração
para defender o jornalista William Waack.
Acompanho o seu programa “Painel” na TV paga — Globo News
— aos sábados, que apesar de estar contaminado pelos assuntos do momento: lava
jato, corrupção, prisões, solturas, delações premiadas, estupro, violência,
crime organizado et caterva, é bom.
Naquele programa acontecem, de quando em vez, debates com
especialistas brasileiros sobre assuntos internacionais. Raridade numa Imprensa
que, na maioria das vezes, faz-me lembrar dos episódios relatados no livro
Número Zero, de autoria do semiótico italiano Umberto Eco (1932-2016).
Esclarecido isso, volto ao assunto nesta crônica sobre o
caso daquele jornalista.
Como psicoterapeuta ou simples indivíduo, vênia para
empregar a palavra alemã “zeitgeist”
(pronuncia-se: tzait.gaisst) que significa: espírito da época, espírito do
tempo ou sinal dos tempos.
Na conjuntura nacional das crises e dos acontecimentos
que todos nós conhecíamos, mas não eram divulgados, a realidade é mais
acachapante e pior do que a imaginada... Compreensiva é a explosão de
insegurança geral que acomete as pessoas: ricos e pobres, empregados ou
desempregados.
Parece até que os nossos jornalistas (salvo as exceções
de praxe) esqueceram-se de que os fatos devem ser separados das opiniões
pessoais e – mais ainda – das opiniões de seus patrões.
Voltando ao caso do Jornalista Waack, por ser
profissional exitoso, torna-se compreensivo ser ele material adequado para ser
liquefeito, seja lá por que motivo for - ou foi. Não importam suas ações
anteriores. O seu curriculum vitae.
Os trabalhos prestados ou sua história pessoal. Juntar uma mentira com uma
verdade é sempre um nó difícil de desatar. E mesmo quando ou se desatado, gera
sequela irreparável para a vítima.
No caso do jornalista Waack a denúncia de racismo é uma
manifestação psicopatológica denominada no idioma alemão de “schadenfreude” (schaden significa
dano e freude, alegria). Quando juntas essas duas palavrinhas
transformam-se - para nós brasileiros - no velho adágio: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Ou a desgraça do outro é alegria para quem assiste e
por aí vai...
O schadenfreude é
direcionado, com maior frequência, aos profissionais bem-sucedidos. E eu sei
que nada mais perigoso e ansiogênico (produtor de ansiedade) que a inveja entre
praticantes do mesmo ofício.
Advirto: dos medos difusos que afligem as pessoas, a
inveja é a emoção mais temida. Nem o ódio é tão temido quanto a inveja! O medo
da invídia é tão grande que entra até na esfera do misticismo.
Os mais crédulos acreditam que a inveja do alheio tem
poder de causar— magicamente— algum mal. Pode até ser. Sei agora, mais do que
nunca, que é muito fácil descompor o outro graças à tecnologia. E isto passou a
ser uma nova causa de Ansiedade.
Para concluir: se fosse contar o número de vezes que me
chamaram pejorativamente de judeu, elas talvez se igualassem, em números, aos
bilhões desviados pela corrupção ancestral que assola o nosso Brasil.
E como estou escrevendo sobre ansiedade, tenho horror é
dos hipócritas que se dizem “politicamente corretos” - da boca para fora...
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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