sexta-feira, 10 de maio de 2019

ANSIEDADE E INVEJA (A Inveja Nasce com as Pessoas)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Não conheço pessoalmente nem muito menos tenho procuração para defender o jornalista William Waack.
Acompanho o seu programa “Painel” na TV paga — Globo News — aos sábados, que apesar de estar contaminado pelos assuntos do momento: lava jato, corrupção, prisões, solturas, delações premiadas, estupro, violência, crime organizado et caterva, é bom.
Naquele programa acontecem, de quando em vez, debates com especialistas brasileiros sobre assuntos internacionais. Raridade numa Imprensa que, na maioria das vezes, faz-me lembrar dos episódios relatados no livro Número Zero, de autoria do semiótico italiano Umberto Eco (1932-2016).
Esclarecido isso, volto ao assunto nesta crônica sobre o caso daquele jornalista.
Como psicoterapeuta ou simples indivíduo, vênia para empregar a palavra alemã “zeitgeist” (pronuncia-se: tzait.gaisst) que significa: espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos.
Na conjuntura nacional das crises e dos acontecimentos que todos nós conhecíamos, mas não eram divulgados, a realidade é mais acachapante e pior do que a imaginada... Compreensiva é a explosão de insegurança geral que acomete as pessoas: ricos e pobres, empregados ou desempregados.
Parece até que os nossos jornalistas (salvo as exceções de praxe) esqueceram-se de que os fatos devem ser separados das opiniões pessoais e – mais ainda – das opiniões de seus patrões.
Voltando ao caso do Jornalista Waack, por ser profissional exitoso, torna-se compreensivo ser ele material adequado para ser liquefeito, seja lá por que motivo for - ou foi. Não importam suas ações anteriores. O seu curriculum vitae. Os trabalhos prestados ou sua história pessoal. Juntar uma mentira com uma verdade é sempre um nó difícil de desatar. E mesmo quando ou se desatado, gera sequela irreparável para a vítima.
No caso do jornalista Waack a denúncia de racismo é uma manifestação psicopatológica denominada no idioma alemão de “schadenfreude” (schaden significa dano e freude, alegria). Quando juntas essas duas palavrinhas transformam-se - para nós brasileiros - no velho adágio: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Ou a desgraça do outro é alegria para quem assiste e por aí vai...
O schadenfreude é direcionado, com maior frequência, aos profissionais bem-sucedidos. E eu sei que nada mais perigoso e ansiogênico (produtor de ansiedade) que a inveja entre praticantes do mesmo ofício.
Advirto: dos medos difusos que afligem as pessoas, a inveja é a emoção mais temida. Nem o ódio é tão temido quanto a inveja! O medo da invídia é tão grande que entra até na esfera do misticismo.
Os mais crédulos acreditam que a inveja do alheio tem poder de causar— magicamente— algum mal. Pode até ser. Sei agora, mais do que nunca, que é muito fácil descompor o outro graças à tecnologia. E isto passou a ser uma nova causa de Ansiedade.
Para concluir: se fosse contar o número de vezes que me chamaram pejorativamente de judeu, elas talvez se igualassem, em números, aos bilhões desviados pela corrupção ancestral que assola o nosso Brasil.
E como estou escrevendo sobre ansiedade, tenho horror é dos hipócritas que se dizem “politicamente corretos” - da boca para fora...
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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