quarta-feira, 28 de agosto de 2019

EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA E LIBERAÇÃO FEMININA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Explosão demográfica é o súbito crescimento da população do mundo ou de um determinado território ou região. O crescimento da população causa preocupação quanto à disponibilidade de recursos ao aumento da violência. Atualmente, a população mundial está estimada em 7,2 bilhões de pessoas.
Há dois mil anos, avalia-se que o número de habitantes na Terra fosse inferior a 250 milhões de pessoas. Em 1650, o número alcançou 500 milhões. Em 1850, o planeta atingiu a casa de 1 bilhão de pessoas; em 1950, 2,5 bilhões; em 1987, 5 bilhões e, em 2010, quase 7 bilhões de pessoas.
Diversos fatores são mencionados como causadores desse efeito, sendo que o marco explicativo mais importante para o aumento do número de habitantes na Terra é atribuído à Primeira Revolução Industrial. A partir do século XVIII e da urbanização acelerada ocorrida nos países desenvolvidos e, mais recentemente, nos subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
Quando as mulheres tiveram direito à alfabetização e acesso ao controle da natalidade o número de nascimentos amorteceu. Quando passaram a ter direito a ocupar cargos e profissões reservadas ao sexo masculino, a taxa de natalidade atingiu números bem menores. Até mesmo nos países subdesenvolvidos mulheres das classes sociais menos afluentes têm duas vezes mais filhos que as pertencentes à classe média...
O que mais chama a atenção é que a correlação entre a emancipação feminina e o controle da natalidade é um dos fatores menos mencionados, frente à emancipação feminina, aliada ou não aos contraceptivos, à escolaridade, à liberdade social, ao nível de desigualdade sexual, etc.
Na Espanha, em 1975, era raríssimo encontrarem-se mulheres nas universidades e a taxa de natalidade por mulher era em torno de 2,9 crianças. No ano 2000, 60% dos universitários eram do sexo feminino a taxa de natalidade caiu para 1,12. Sem desejar entrar no mérito da questão, onde foram aplicadas regras compulsórias de controle da natalidade, como na China, a taxa de natalidade por mulher foi maior do que as verificadas no ocidente (é de 1,8 agora).
Em países democráticos, observam-se taxas espontâneas que são baixas, como na Suíça (1,46), na Itália (1,2), Grécia, Rússia, Alemanha (1,35).
Nos países em desenvolvimento a mídia tem sido uma grande arma para o controle da natalidade através de informação, educação e alguma melhoria do contexto sócio-educacional, o que tem diminuído as taxas de nascimento.
A população do Ocidente vai declinar na segunda metade do século XXI e não podemos fazer muita coisa contra a fome e violência causada pela hiperpopulação do restante do planeta. O fato é que podemos controlar a natalidade pela emancipação feminina (direito à integridade do seu corpo, direito ao aborto e direitos reprodutivos, incluindo o acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela proteção de mulheres contra a violência doméstica e o assédio sexual. Será que as feministas e os machistas sabem disso?
O Feminismo é um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Ou partimos para ações positivas ou continuaremos para sempre na época das ideologias.
É sempre bom relembrar: uma das maneiras de combater a devastação do planeta pela superpopulação dos denominados Homo sapiens é a emancipação da mulher, não especificamente ou exclusivamente através da eliminação do assédio que está virilizando na mídia social e profissional, que na realidade ocorre em ambos os sentidos. Um relato honesto desenrola-se melhor se feito, escrito, falado, sem rodeios. “Sempre que liberamos uma mulher, libertamos um homem” (Margaret Mead - 1901-1978).
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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