Por José Jackson
Coelho Sampaio (*)
As pesquisas sobre saúde e
trabalho de criança têm história significativa, métodos e resultados sólidos.
Não deveria mais ser objeto de opinião individualista espontânea, como
recentemente veio à cena pública, devolvendo-nos ao século XVIII quando ele
existia e era socialmente legitimado. Ainda existe, em muitos lugares do mundo
e do Brasil, mas, salvo exceções anacrônicas, não é legitimado pela ciência e
por setores avançados da sociedade. Analisemos três dimensões:
Político-econômica - Sem infância
livre, sujeita ao lúdico e ao educacional, não teremos trabalhador e cidadão
competentes. Sem criança na família, no lazer e na escola, não sobrará posto de
trabalho para adulto desqualificado e futuras desqualificações estarão sendo
incubados. Há transmissão intergeracional das misérias econômica e política.
Biossanitária - O trabalho precoce
que, pela sua natureza, tende a acontecer em condições degradantes, determina
transtornos desnutricionais (altura e peso insuficientes, defesa imunológica
diminuída), musculoesqueléticos (descalcificações, desgastes musculares por
peso excessivo à idade, danos à coluna dorsal), neurológicos
(perceptomotricidade inadequada para as tarefas, agressões tóxicas,
imaturidade) e sistêmicos (envelhecimento precoce).
Psicossanitária - O trabalho
precoce impacta sobre estado de ânimo, desenvolvimento de habilidades, assunção
de responsabilidades e construção da identidade, tornando possível um grande
leque de impedimentos ao desenvolvimento, transtornos neuróticos e transtornos
de caráter.
O Grupo de Pesquisa Vida e
Trabalho - GPVT, que lidero na Uece, tem produzido sobre o tema e recusamos a
expressão "trabalho infantil", que pode ser interpretado, pois a
função "infantil" adjetiva "criança", como trabalho próprio
de criança. Defendemos "trabalho precoce", aquele exercido antes da
idade socialmente adequada de trabalhar. No século XIX era analfabeto quem não
sabia ler e escrever um bilhete, além de desconhecer as operações básicas da
matemática.
Hoje, precisamos domínio maior da
língua materna, comunicação em língua internacional e na língua da comunicação
eletrônica. Além da matemática básica, a estatística funcional. Trabalho de
criança é brincar, estudar e crescer, mental e fisicamente, para o exercício
pleno e crítico da cidadania.
(*) Professor
titular de Saúde Coletiva e Reitor da
Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 31/7/19. p.25.
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