Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
A vida é
uma travessia. Viver é superar, renovar, se lançar. Nesta travessia há
fantasmas que nos paralisam, impedem de assumir desafios e travam o coração na
hora de tomar decisões. O que faríamos se não tivéssemos medo? O medo está na
pauta do dia; tememos o tempo todo; um medo sem nome, um fantasma sem rosto;
medo cruel que afeta corajosos e desafia ousados. Toda travessia implica correr
riscos, e quem se instala, se perde, envolve-se na tormenta da paralisia de uma
vida medíocre e superficial.
Há
momentos em que daríamos tudo por uma chance de pedir a Deus para não corrermos
riscos. As experiências obscuras, as tribulações e as tempestades são inerentes
à fé cristã. O papa Francisco já nos ensina que "ter fé não significa estar livre de momentos difíceis,
mas ter força para enfrentá-los, sabendo que não estamos sozinhos". Mas o risco é necessário. Sem a superação
cotidiana desse medo, nossos sonhos e projetos estarão comprometidos.
Algumas
pessoas fazem opção pelo porto seguro das falsas certezas e seguranças, mas
outros preferem correr o risco do "mar agitado", "da escuridão
da noite" e são capazes de construir o novo. Quando superamos nossos medos
e tomamos decisões audazes diante de um futuro incerto, no nosso "eu
profundo", recursos e capacidades que ignorávamos ter despertam a
"alma guerreira em nós". A poetisa chilena, Isabel Allende,
profetizava: "Todos temos dentro de nós
uma insuspeita reserva de força que emerge quando a vida nos põe à prova". Assim, para desenvolver essa reserva de
potencialidades, temos de enfrentar dilemas, encruzilhadas, perplexidades e
responsabilidades. Isto nos faz mergulhar na vida, desenvolver nossas forças,
ativar e despertar outras possibilidades escondidas no chão de nossa vida.
Na
tradição inaciana "formar-se é
provar-se". Só aquele que é posto à
prova em sua vida, fé e em suas convicções, se forma, cresce e amadurece. O
compromisso com a construção de um mundo melhor e mais justo requer de nós uma
forte dose de coragem e uma alma ágil, animada e vivificada pelo sabor da
aventura e da novidade.
(*)
Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia.
Fonte: O Povo, de 5/7/2019.
Opinião. p.16.
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