A Dra. Helena Soares (nome fictício) estava fazendo o primeiro atendimento daquele dia, no
Serviço de Neonatologia do Hospital Infantil Albert Sabin. O cliente era um
bebê de dois meses, aconchegado nos braços de uma mulher, presumivelmente sua
mãe.
A pediatra, após o
preenchimento dos dados de identificação contidos na ficha de atendimento,
chamou a auxiliar de enfermagem e perguntou:
– Você é nova aqui? Cadê a nossa antiga
atendente?
– Ela tá de férias, doutora. E eu vim substituí-la,
nesse período.
– Qual é o seu nome?
– Eu me chamo Marluce, doutora.
– Você tem experiência com crianças
pequenas, Marluce?
– Não, doutora. Eu só trabalhei com crianças
mais taludas.
– Eu gostaria que você, por favor, pesasse
esse menino – falou a médica, apontando para a balança de bebê.
– Ah, doutora, a chefe da enfermagem pediu
para avisar a senhora de um problema, assim que chegasse e eu estava já quase
esquecendo de dizer.
– Qual foi o recado dela, Marluce?
– Ela disse que a senhora não usasse
exatamente essa balança, porque estava toda desregulada.
– Ah, nesse caso, vamos usar a balança
pediátrica – ponderou a pediatra.
– Vai ser complicado deixar esse bebê
paradinho, nessa balança, que pesa os maiores – desqualificou a auxiliar de enfermagem.
– Há um método alternativo capaz de pesar
bebês nesse tipo de balança de uso geral. Você deve saber disso, Marluce.
– Ah, não sei não, doutora. É a primeira vez
que trabalho com bebês.
– É bem simples, Marluce. Primeiramente,
você pesa a mãe com o bebê e, depois, enquanto eu seguro a criança, você pesa
só a mãe. O peso do menino será dado pela diferença das duas medidas.
Nesse instante, a acompanhante do bebê decide intervir, opinando:
– Isso não pode ser, doutora. Não vai dar
certo, não.
– Mas, me diga, por favor, por que não pode
ser feito assim? – Indagou a pediatra.
– É porque eu não sou a mãe dele, não. Eu
sou só comadre da minha vizinha, a mãe desse bichinho, que faz muito pouco
tempo que saiu do resguardo.
Pobre gente rica, essa, que é capaz de uma ação
solidária, trazendo o filho da comadre para uma consulta, mas que não
compreende uma simples operação aritmética, desvinculada da questão biológica
do parentesco.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Da Sobrames/CE e da Academia Cearense de Médicos Escritores
Fonte:
SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Medicina,
meu humor! Contando causos médicos. 2.ed. Fortaleza: Edição do Autor, 2022.
144p. p.30-31.
*
Republicado In: AMC. Causo médico: Pesando o bebê. Informativo AMC (Associação
Médica Cearense). Julho de 2022 - Edição n.13, p.15 (em pdf).
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