Por Marcos L Susskind (*)
Você
conseguiria pensar em 72.000.0000 de brasileiros assassinados por terem
nascidos Brasileiros? Um terço de nossa nação?
Em
27 de janeiro o mundo deveria parar para chorar os 6.000.000 de Judeus
queimados, metralhados, enforcados, colocados em câmaras de gás, afogados vivos
- enfim, eliminados por um único motivo: sua ascendência, sua fé.
Este
é o dia declarado mundialmente “Dia de Lembrança do Holocausto”, que
infelizmente começa a ser esquecido por muitos e ignorado por outros.
Mas,
eu me lembro e não me esquecerei. Eu sou uma das vítimas deste horrendo momento
da humanidade. Se você acha que eu passei por esta fase escura e vergonhosa,
respondo que não. Eu nem era nascido, mas mesmo assim sou vítima.
Meu
pai chegou ao Brasil em 1927, minha mãe em 1925. No entanto, suas famílias
ficaram na Europa. A fera nazista, a inominável besta, matou meus avós, meus
tios, meus primos a quem nunca conheci. Eu carrego o nome de meu avô, morto
pelos nazistas alemães e seus colaboradores. Minha irmã leva o nome de minha
avó. Meu irmão carrega o nome de meu tio. Foi a forma que meus pais e
encontraram para manter viva a memória familiar.
Nós,
judeus, éramos 18.000.000 antes da guerra. Ao fim dela éramos 12.000.000. Hoje,
decorridos quase 75 anos do fim daquele massacre, somos apenas 15.000.000. Ou
seja, ainda não conseguimos atingir o número de judeus antes daquela matança.
Volte ao primeiro parágrafo, releia-o! Afinal, foi o que aconteceu conosco – um
terço de nossos irmãos assassinados, TODAS nossas academias de estudo
destruídas, nossas bibliotecas queimadas, nossas sinagogas depredadas, nossa
intelectualidade dizimada, nossas propriedades confiscadas, nossa história
apagada e nossa memória maculada.
Meu
povo não ficou mundo afora se sentindo refugiado necessitado de apoio
permanente. Ao contrário, meu povo criou um Estado Nacional que é considerado o
5º país mais desenvolvido do mundo, meu povo conseguiu 82 prêmios Nobel, criou
o Waze e a irrigação por gotejamento e o Mobileye, o Telefone Celular e o
conector USB. Meu povo inventou a medicina não invasiva, o aquecimento solar e
a dessalinização da água do mar. A comunicação por internet (VoIP) só existe
graças a meu povo. O Copaxone foi inventado por Ruth Arnon, o Google e o
Facebook, o ICQ.
Agora
imagine como estaria o mundo se um terço deste povo não tivesse sido
exterminado? E antes do extermínio? Singer inventou a máquina de costura,
Mahler era judeu, o inventor da Estreptomicina também. A penicilina teve Boris
Chain como parceiro de Fleming. Einhorn inventou a Procaína e Einstein… precisa
falar dele?
Felix
Haber sintetizou a amônia, Arthur Korn inventou o fax, Montefiori Levi inventou
o bronze fosfórico. Basta, para não cansar.
Pois
foi este povo que Hitler e seus colaboradores alemães, poloneses, húngaros e
austríacos queriam eliminar. Provavelmente entre as 1.200.000 crianças
assassinadas havia quem viria a ser músico, inventor, engenheiro, pensador,
diretor de cinema, médico ou pesquisador - mortos antes da puberdade por terem
nascidos judeus.
O
dia 27 de janeiro tem ainda, para mim e meus irmãos, mais um significado
imenso. Foi neste dia, em 1913, que nasceu Isak Hersch Susskind, o “Seu
Armando”, meu pai - quem me ensinou, em sua curtíssima vida, a ser abnegado,
ético, bondoso e leal.
Assim,
na memória de toda a Humanidade, o dia 27 de janeiro deveria ser sagrado. Para
mim, o é duplamente!
(*) Jornalista e escritor
brasileiro.
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