segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O BRASIL ANEDÓTICO XXXVII

OLIVEIRA ÁLVARES
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 425.
Não obstante a sua condição de português, Joaquim de Oliveira Álvares, que se havia distinguido nas campanhas do Sul, declarou-se abertamente a favor da emancipação do Brasil, colocando-se ao lado de José Clemente Pereira. Oficial respeitado e temido, estava de cama, com um ataque de gota, quando soube, que em conseqüência do "Fico!" de Pedro 1, as tropas portuguesas, fortes de dois mil homens, haviam tomado as armas, ocupando o morro do Castelo, de onde, sob o comando do general Avilez, intimaram o príncipe a partir imediatamente para o Reino.
Torcendo-se de dores, Oliveira Álvares ordenou:
- Levem-me para o Campo de Santana!
Conduzido para aí, mandou estender um tapete na relva, assumindo, deitado, o comando das tropas nacionais e dos paisanos que se haviam armado, e dando durante todo o dia, e toda a noite, as providências para resistir ao ataque do inimigo.
A notícia de que Oliveira Álvares se achava à frente do elemento brasileiro atemorizou Avilez, que atravessou a baía na manhã de 12 de janeiro, indo entrincheirar-se em Niterói.
O "C1CLO" E O "ALÇAPÃO"
Anais da Câmara
Sessão de 30 de junho, em 1894. A Câmara discute, no meio de enorme agitação, os poderes discricionários concedidos a FIoriano, cuja mensagem anuncia, aliás, a derrota dos revolucionários no sul. Discursa o senhor Augusto Montenegro, e cruzam-se os apartes.
O sr. Belisário de Sousa - V. Excia. acredita que está fechado o ciclo das revoluções?
O sr. Augusto Montenegro - Eu dizia que nesse tempo estávamos ingenuamente convencidos de que estava fechado...
O sr. Belisário de Sousa - Mas pergunto se acredita que está fechado hoje?
O sr. Erico Coelho - Hoje, só há uma coisa aberta: o alçapão da Polícia.
EMENDANDO O VERSO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 23.
Tornado famoso em Lisboa pelos seus improvisos, deram ao poeta Caldas Barbosa o seguinte mote:
"Quem perdeu a liberdade".
O poeta glosou-o mas, tendo errado um verso, e, observando que haviam dado por isso, emendou logo, com outra quadra:
"Errei o verso, é verdade,
E confessar é preciso,
Que é muito que perca o siso
Quem perdeu a liberdade!"
O PRINCÍPIO DA AUTORIDADE
João Luso - "Elogios", pág. 17.
O Barão do Rio-Branco era intransigente na manutenção do princípio da autoridade. O seu espírito burocrático e disciplinado não podia compreender que, num conflito entre um funcionário subalterno e um superior, a razão estivesse com o primeiro, pois que a classificação do segundo devia ser uma demonstração das suas qualidades de homem de bem.
Era o Barão ministro no governo Hermes, quando ocorreu uma cena de sangue na fortaleza de Santa-Cruz. Tomados os depoimentos de um soldado e de um major, verificou-se no correr do inquérito que o oficial não havia sido leal na narrativa. Rio-Branco indignou-se.
E com a sua mentalidade de chefe:
- É extraordinário que se aceitem como verdadeiras as declarações desse soldado, quando há um oficial que afirma justamente o contrário!
VIOLÊNCIA CONTRA VIOLÊNCIA
Antônio Ribas - Ob. cit., pág. 445.
Partidário de Floriano Peixoto, que lhe prometera repor no governo os republicanos apeados pelo Barão de Lucena, Campos Sales resolvera apoiar todas as medidas do ditador, inclusive a deportação dos treze generais e a prisão de congressistas. Orando no Senado sobre esses assuntos na sessão de 13 de janeiro de 1892, exclamou, no ardor do debate:
- Uma situação violenta reclama outra situação igualmente violenta.
E a um aparte, em que um colega estranhava a sua frase revolucionária:
- Podem tomar as notas que quiserem das minhas frases, porque estou habituado a não dizer senão aquilo que sinto e aquilo de que estou preparado para tomar a responsabilidade.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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