sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O DISCRETO CHARME DE UMA BOA GERENTE

Por Ricardo Alcântara (*)
No governo do ex-presidente Lula se deu o bem sucedido encontro entre as boas notícias e o bom mensageiro, quando uma fase de prosperidade foi liderada por um personagem carismático.
O país encontrava um meio de crescer e distribuir renda ao mesmo tempo e o processo estava sob o comando de um presidente em quem o povo confiava e com apetite para aproveitar as oportunidades do palanque.
Com a posse na presidência de Dilma Rousseff, uma estreante no espetáculo eleitoral, havia entre as forças que apoiavam o governo – natural que houvesse – grande reserva sobre seu desempenho de governante em cena.
Receava-se que a ela faltassem recursos de empatia para conquistar, na relação direta com a população, as condições necessárias para resistir a pressões, vulnerável demais àqueles interesses nunca confessados.
Agora, Dilma conclui um ano de mandato com uma surpreendente notícia: os índices de popularidade do seu governo – vejam bem: não os seus, necessariamente, mas de sua ação institucional – bateram recordes.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada domingo último, há, em cada dez brasileiros, pelos menos seis que definem o desempenho do governo federal com termos que significam aprovação, confiança e apoio: “bom” e “ótimo”.
Fácil perceber, a continuidade do bom desempenho na condução da política econômica, reforçada pela percepção comparativa do cenário externo desfavorável, é o vetor principal a puxar para cima a curva de aprovação.
Há, ainda, outros fatores, mais relacionados à atitude da presidência, que podem ser creditados como uma maior, e mais favorável, definição da imagem da governante perante a opinião pública.
Em primeiro lugar, acertou a presidente em não perseguir o estilo do seu antecessor – figurino que, inadequado para seus traços pessoais, soaria caricato. Dilma apostou no bom senso e se deu bem. O povo entendeu.
Entendeu que Dilma não é Lula e não precisa necessariamente perseguir o estilo consagrado do seu líder para manter elevados os índices de aprovação do projeto comum. É o curso dos fatos que não pode mudar de rumo. Só isso.
Larga maioria define a presidente como uma pessoa “inteligente” e “sincera”. Aí, a percepção não só de sua condição intelectual diferenciada, mas também de uma maior economia nos apelos fantasistas da retórica.
Outra qualidade a ela atribuída na pesquisa é ser “decidida”. Tem-se, no caso, talvez, uma manifestação favorável ao modo como a presidente lidou com as sucessivas crises ministeriais: esperou só o tempo certo e agiu.
Há, ainda na pesquisa, um aspecto que, para os habituados com marketing político, é sempre revelador do nível de consistência da resposta obtida: os bons resultados se mostram semelhantes em todos os cortes sociais.
A diferença de aprovação entre os menos escolarizados e mais pobres, de um lado, e os de melhor formação e de maior renda, de outro, é de apenas dois por cento – dentro da margem de erro indicada para o método de consulta.
Significa dizer que, se há focos de resistência ao governo (seis por cento dos consultados o desaprovam), não têm por base interesses objetivos muito sólidos. São decorrentes de conjunturas pontuais ou disparidade de valores.
Isso fica ainda mais evidente quando a pesquisa demonstra que engrossam as fileiras dos que aprovam seu desempenho quatro em cada dez eleitores fiéis ao PSDB consultados. O dado é relevante.
O transbordamento da boa disposição para fora da aliança governista dificulta a construção de um discurso de oposição com boas perspectivas de poder. Afinal, farão campanha contra seus eleitores? O dilema persiste.
Nunca é demais ressaltar que se trata aqui de uma aprovação absoluta (“Bom” e “ótimo”) de 59 por cento da população em um país que ainda se debate com entraves estruturais e graves problemas sociais.
Mas, mesmo esta relatividade, crônica na avaliação de todos os êxitos obtidos em países de desenvolvimento desigual, se expressa em índices aceitáveis: um terço da população considera o desempenho apenas regular.
O que tudo isso quer dizer? Que a avaliação se dá primordialmente como base de confiança, reflete resultados ainda não definitivos: mais do que o obtido, vale aí a crença, generalizada, de que vai dá prá chegar lá.
Com aquele estilo “dona de casa durona, mas zelosa com as contas e o conforto da família”, a sensação de aridez emocional que Dilma transmite é largamente compensada por provas de compromisso e competência.
O que estou querendo dizer, se já não o disse, é: se os brasileiros ainda não a amam, como amam a Lula – e ela pouco tem se dedicado ao flerte – é certo que todos já a respeitam muito. Respeito é bom. Todo mundo gosta.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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