quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

EM DEFESA DE CATANHO, UM ARGUMENTO TACANHO

Por Ricardo Alcântara (*)
Em uma entrevista a programa de rádio, a prefeita Luizianne Lins declarou – finalmente, ouviu-se isto dela própria – que, para sucedê-la, o candidato de sua preferência é mesmo Waldemir Catanho, seu companheiro número um.
Na justificativa apresentada, usou da sinceridade: com ele na prefeitura, ela se sentiria “plenamente representada” – um candidato com identificação completa com sua gestão, para o bem e para o mal.
Luizianne não se mostra disposta a apoiar um nome que possa, a qualquer momento da disputa eleitoral, se ver tentado a angariar simpatia entre aqueles que não veem sua gestão com os mesmos bons olhos que ela vê.
Se muito sincera foi na justificativa, não se saiu nada bem nos argumentos em defesa do seu preferido. Na falta de maiores credenciais, deu ênfase excessiva a um aspecto meramente simbólico: o fato do rapaz ser negro.
Fosse negro, não me sentiria bem em ver isso apontado como um atributo relevante. Uma exacerbada valorização dessa condição repõe o indivíduo de volta no confinamento da exclusão. O avesso do preconceito é o preconceito.
Errou feio a prefeita em destacar o fato ainda mais porque um aspecto simbólico, quando colocado em primeiro plano, apenas reforça a percepção de que no primeiro plano não existe mesmo nada de muito substantivo.
Fosse, talvez, a nossa uma cidade de maioria negra, o aspecto seria mais relevante. Houvesse, ainda, entre nós episódios históricos de marcante repressão étnica, vá lá. Mas assim, do nada, “vote porque é preto”... não dá!
Negro era o gaúcho Alceu Colares e marcou época durante a ditadura militar como a voz de resistência das tradições trabalhistas de seus conterrâneos Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola.
Negro, também, era Celso Pita, feito prefeito de São Paulo pela popularidade de seu líder, Paulo Maluf. Quem se lembra, sabe: o discípulo conseguiu produzir mais desastres que seu mestre. Logo, cor da pele não é credencial.
Depois de afirmar que o seu candidato seria um “poste sem luz” e agora sair em sua defesa pelo viés simbólico de um resgate étnico, o que falta mais para Luizianne fragilizar o perfil político do rapaz?
Diga-se a favor de Catanho que a sarna dos holofotes não o contagia: a ele, sua candidatura não empolga. Seu ânimo varia entre a resignação e a repulsa. Não se julga com perfil para a disputa. Pois ponto para ele.
Goste ou não Catanho da ideia, seu nome está lançado e, com isso, Luizianne prega aos aliados o aviso de que não se julga dependente de tantos apoios para levar seu candidato ao segundo turno das eleições.
Malgrado os índices de popularidade de sua gestão não darem ainda sinais mais seguros de recuperação, a prefeita se antecipa ao que julga um cenário progressivo de melhora e não vai para a mesa de negociação de joelhos.
O que não é nenhuma novidade: há um ano disse ela que elegeria com seu sucessor um “poste sem luz”. Claro, ela não quis dizer, embora o tenha dito, que elegeria um candidato tacanho. Era do Catanho que ela falava então.
Trinta e três
Na edição anterior, mencionei meus "três leitores". Agradeço às quase três dezenas de leitores que tiveram a iniciativa de escrever para pautalivre@ricardoalcantara.com.br reivindicando para si esta condição. Uma opinião independente é o que vocês sempre encontrarão por aqui.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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