A PITADA
Pires Brandão - "Correio da Manhã", de 13 de dezembro de 1925.
Certo médico do Paço, candidato a uma cadeira de senador e que figurava na lista tríplice, recebeu, um dia, do Imperador, uma preciosa caixa de rapé, de tartaruga, com lavores em ouro, verdadeira obra prima.
Radiante de júbilo pelo presente recebido, que parecia augurar a sua escolha, mostrou-a, na Câmara, a Martinho de Campos.
- Que tal? - indagou.
Martinho de Campos mirou o régio presente, e observou ao dono:
- É linda, meu amigo; mas acho que você preferiu a pitada à caixa!
Com efeito, meses depois deu-se a escolha imperial. F o escolhido foi outro.
"À MILANESA"
Narrada pelo professor Raul Pederneiras
Em uma cervejaria de São Paulo, cujo soalho, como é de praxe nos estabelecimentos do gênero, se achava coberto de serragem, bebiam Emílio de Menezes e alguns amigos, quando um conhecido engenheiro, falando de arte, começou a louvar Florença e a influência dos florentinos na Renascença. No auge, porém, do entusiasmo, põe-se de pé, afasta a cadeira, e, ao sentar-se de novo, projeta-se de costas no chão. Levanta-se sujo de serragem, e quer insistir.
- Sim, é aos florentinos que devemos todo esse patrimônio artístico...
- Homem, intervém Emílio de Menezes, - deixa os florentinos...
E limpando-lhe a serragem:
- Tu agora estás "à milanesa".
O SEGREDO DA BRAVURA
Taunay - "Reminiscências", vol. I, pág. 25.
Osório era, por índole, gracejador e espirituoso. Em um piquenique que lhe foi oferecido no Corcovado, uma senhora, a quem havia dado o braço, perguntou-lhe em que consistia o segredo da sua bravura.
- Eu fui valente por medo... - informou o herói.
- Medo?
- Sim; tinha medo de que as minhas patrícias bonitas não me recebessem bem, se me portasse mal nas batalhas.
OS SENADORES DO IMPÉRIO
Múcio Teixeira - "Os Gaúchos", vol. I, pág. 204.
Ser senador do Império, era conseguir no regime a mais invejável das situações. "Se havia semi-deuses em política - escreve Taunay - eram os senadores do tempo da monarquia, e o apreço público não recusava as suas mais profundas barretadas até àqueles que não possuíam outras razões de seleção senão pertencerem a tão elevada e afinal onipotente corporação". Era a propósito dessas regalias que o Imperador dizia sempre:
- No Brasil há duas posições invejáveis: senador e professor do Colégio Pedro II!
A MODÉSTIA DE RAIMUNDO
João Luso - "Elogios", pág. 38.
Entre as anedotas singelas que Raimundo Correia costumava contar, uma havia, que patenteava flagrantemente a sua modéstia. Ocorrera, no dizer do narrador, por ocasião da sua permanência em Portugal como secretário de legação.
Achava-se o poeta do Mal Secreto, uma noite, em um grupo de homens de letras, em Lisboa, quando, apresentado a um deles, este se lançou a fazer-lhe elogios derramados, declarando conhecer toda a sua obra.
- Imagine o senhor, - dizia-lhe o escritor, no seu entusiasmo, - que eu o admiro tanto, que sei até um dos seus sonetos de cor.
- E recitou-me concluía Raimundo, - um soneto... de Bilac!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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