Por Ricardo Alcântara (*)
Não é muito barulho por nada: quando a prefeita Luizianne Lins submete seu partido à exposição pública de seus impasses, consegue, pelo menos, manter-se na mídia como condutora do vetor principal da sua sucessão.
A última cartada foi colocar José Pimentel no tabuleiro como recurso de pressão sobre o principal aliado, Cid Gomes. Caso eleito, Pimentel abriria vaga no senado para Sérgio Novaes, desafeto juramentado do governador.
Não seria o único incômodo. O nome do próprio Pimentel não soa bem aos ouvidos do governador, resquício da crise política em que a eleição do senador foi fator central na separação dos inseparáveis Tasso e Ciro.
O espírito público e a altivez de temperamento de José Pimentel não batem bem com os métodos heterodoxos praticados no palácio e a cultura de mando vigente no seu entorno, mais afeita aos colaboradores de baixa estima.
Há, talvez, alguém bem mais interessado na indicação de Pimentel como candidato a prefeito do que a própria Luizianne: o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB de Cid Gomes, Eduardo Campos.
Campos, que não tem lá o grupo familiar do governador em muito boa conta e luta para se viabilizar na sucessão presidencial, não desprezaria a possibilidade de contar com mais um senador em seu partido. É relevante.
O ganho midiático da prefeita com o impasse, o trato distante entre Pimentel e Cid Gomes e os interesses da direção nacional do PSB são aspectos não anotados pela imprensa no acompanhamento do episódio.
Há, ainda, mais outro aspecto não percebido ou, pelo menos, registrado: Eleito prefeito, Pimentel não só abriria espaço no senado ao amigo maior da prefeita, Sérgio Novaes. Haveria outro ganho, ainda mais expressivo.
Com Pimentel na prefeitura, Luizianne removeria do cenário sucessório estadual de 2014 o único nome que, naquelas circunstâncias, rivalizaria em peso político com o seu no partido, deixando a pista livre para decolagem.
Mesmo com tudo isso, até aqui vale mais o que todos já sabem: o candidato preferencial da prefeita agora é o seu secretário de Educação, Elmano de Freitas. Por ora, Pimentel se presta apenas como recurso de pressão.
Mas não é um blefe. Se necessário, poderá concorrer. Se havia dúvidas, o senador tratou de dissipá-las em declarações a O Povo desta segunda-feira. Em seu estilo, sutil e estudado, deve ser lido nas entrelinhas. Leia-se.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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