“O Júlia Jorge favoreceu, sobretudo, aquelas famílias de prole numerosa”
Foi com penar, porém sem surpresa, que, no O POVO, Coluna Vertical (24/2), o jornalista Eliomar de Lima, ex-aluno do Colégio Júlia Jorge, estabelecimento de ensino, que foi tradicional e, simultaneamente, moderno, anunciou a demolição do prédio, passados cinco anos do encerramento de suas atividades letivas, em cujo terreno serão erguidas quatro torres de apartamentos.
Esse centro de formação educacional, situado nas imediações da Igreja São Gerardo, integrante da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (Cnec), foi, nos anos 1960 e 1970, a melhor opção de ensino médio (ginásio e científico) para os jovens da Parquelândia e dos bairros adjacentes, como Amadeu Furtado, Parque Araxá, Monte Castelo, Campo do Pio, Otávio Bonfim, servindo para evitar que as famílias residentes nessa região de Fortaleza matriculassem seus filhos em escolas mais caras da Aldeota.
O Colégio Júlia Jorge foi inaugurado em 1967 pelo presidente Castello Branco, como símbolo de uma instituição moderna e bem equipada, pertencente à Cnec, uma rede de ensino que não visava lucro. Durante os seus primeiros 20 anos, a instituição ministrou ensino de qualidade a preços módicos, compatíveis com o poder aquisitivo da classe média da capital cearense.
Por suas mensalidades mais condizentes com a realidade local, atentando à condição socioeconômica de parte dos alunos, o Júlia Jorge favoreceu, sobretudo, aquelas famílias de prole numerosa, que não dispunham de numerários suficientes para manter, ao mesmo tempo, três ou mais filhos nas boas escolas particulares, graças aos generosos descontos concedidos em função da quantidade de familiares ali matriculados.
A excelência do ensino ali praticado redundava na aprovação ampla dos seus concludentes do científico nos vestibulares para os cursos mais disputados da Universidade Federal do Ceará (UFC), sem necessidade de cursinho preparatório, resultando na formação de grande número de médicos, engenheiros, economistas, jornalistas e advogados, atuantes em nossa Cidade.
Embora não fosse uma edificação cinquentenária, e muito menos tombada, por valor histórico ou cultural, a demolição da nossa escola, em que preciosos anos da juventude de milhares de ex-alunos foram nela vividos, causa intensa consternação, marcando um sentimento de ruptura com as lembranças de tempos juvenis, transformadas em escombros, sepultando as boas recordações vivenciadas naquela casa de aprendizado.
Médico e ex-aluno do Colégio Júlia Jorge
Publicado In: O Povo, de 28/02/2012. Opinião, p.7.
2 comentários:
É muito triste ver a história de nossa cidade ser apagada. Infelizmente, aqui no Brasil, não se valoriza a memória.
Parabéns, Marcelo, pelo artigo publicado.
Reproduzi parcialmente este artigo em "Linha do Tempo":
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2012/03/demolicao-do-predio-do-colegio-julia.html#links
Um abraço.
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