Por Ricardo Alcântara (*)
Não é necessário recorrer a um conjunto muito amplo de indicadores para constatar que o estado do Ceará vem perdendo gradativo espaço de atenção quanto aos investimentos que dependem da boa vontade de Brasília.
Lamentável dizer, mas o fenômeno é datado: agrava-se com o governo Lula e se estende sem lapsos de continuidade por todos esses anos em que o “campo democrático e popular” hegemoniza as decisões fundamentais de governo.
Os últimos nove anos – período de maior prosperidade – não resistem a uma comparação nem mesmo com o pouco que nos foi contemplado durante o governo de Fernando Henrique, a “era maldita”. Noves fora, pioramos.
Ainda não recuperamos o nível de prestígio obtido durante a década passada, quando o governador Tasso Jereissati se recusava a indicar ministros com a mesma impertinência com que cobrava investimentos.
Seriam inócuas as tentativas de justificar o desprezo com o recurso fácil ao argumento apoiado no crônico desequilíbrio de poder e influência entre as regiões mais pobres e as regiões mais ricas do território nacional.
Basta olhar de lado e ver o que se passa há dez anos ali em Pernambuco, um estado que tem recebido investimentos patrocinados pelo governo federal que o colocam como uma das mais agraciadas joias da coroa.
Por evidentes, não tomarei seu tempo expondo os números que justificam o diagnóstico. O Ceará voltou a ser a esquina deserta do país e para isso contamos com a omissão remunerada de uns e a subserviência de outros.
O impacto dos programas de transferência de renda – a esmola necessária do “bolsa tudo” – é benéfico, mas não ao ponto de justificar a perda de espaço na conquista do investimento produtivo e em infraestrutura.
É desconcertante observar a mudança de eixo no discurso dos nossos parlamentares de esquerda – exigentes com Brasília quando recebíamos um pouco mais e dóceis agora, quando nada de relevante pode ser ostentado.
Passada uma década de “gestão popular”, peça aos nossos representantes que apontem uma única grande obra do governo federal no Ceará durante todo esse tempo e prepare-se para ouvir murmúrios e tergiversações.
O governador Cid Gomes conquistou a confiança dos eleitores prometendo recuperar nosso prestígio político – segundo ele, abalado durante a gestão anterior. Cinco anos não foram suficientes para ensaiar uma desculpa.
É fato. Como no dele, também no governo anterior o ex-presidente Lula se derramava em elogios ao então governador Lúcio Alcântara quando por aqui passava, mas nada de muito relevante deixava em suas mãos.
A seu favor, ainda poderia o ex-governador alegar que seus aliados na bancada federal militavam na oposição e tinha bem menos a oferecer ao presidente em apoio e voto, ao contrário do seu sucessor, Cid Gomes.
Agora, notinhas na imprensa, de viés provinciano, dão conta de “um ótimo relacionamento entre o governador e a presidente Dilma”. Pelos resultados obtidos, cabe perguntar: contra qual dos dois a informação depõe?
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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