sexta-feira, 6 de julho de 2012

RUAS DE FORTALEZA: revirando o passado

Pelo noticiário da mídia local, a principal ocupação dos nossos edis é a concessão de medalhas e títulos de cidadania de Fortaleza. Por certo que o segundo passatempo da Câmara Municipal de Fortaleza deve ser o de apresentar projeto de lei denominando ruas e logradouros da capital, com nomes de pessoas falecidas, já que, para a tristeza dos nossos vereadores, a lei proíbe dar o nome de quem está vivo a equipamentos públicos.
Desse modo, para consolo dos proponentes, resta a opção de render homenagem a um seu parente ou de fazer média com um potencial eleitorado, composto por familiares de um cidadão fenecido há pouco tempo. Para isso, não importa o quanto o extinto foi bom para a nossa gente; vale mais ganhar as simpatias dos parentes do novel laureado.
Vultos de nossa história, se esquecidos, permanecerão nessa condição, porque não contam com descendentes que os tornem lembrados e visíveis aos olhos daqueles que têm o poder de propor a perpetuação dos seus nomes nas placas indicativas dos lugares.
Mesmo sendo um mau uso do tempo de nossas lideranças municipais, elas ainda cometem desatinos, como o de subtrair um trecho de uma artéria, com nome consagrado, para homenagear outrem, caso da Av. José Jatahy, oriunda do sequestro de parte da Av. José Bastos, ou de alterar o nome de uma rua, permutando o personagem nela dignificado, e isso ao arrepio da vontade dos residentes na área.
O Povo, de 3/6/12, trouxe à cena a indignação das pessoas, ante a substituição das placas que identificavam uma rua do bairro de Fátima. Como quem descobre um santo para cobrir outro, a Câmara Municipal de Fortaleza, em observância ao Projeto de Decreto Legislativo 87/09, trocou o nome da Rua Martinho Rodrigues por Rua Maestro Mozart Brandão, sem consulta aos moradores do logradouro, e em franco de respeito à memória do homenageado anterior.
Verbetado entre as figuras mais ilustres da história do Ceará, Martinho Rodrigues de Souza foi advogado, jornalista e político de oposição, tendo sido deputado federal, com importante participação na Constituição de 1891; homem honesto, trabalhador e abolicionista dos mais atuantes no Ceará.
O nome do maestro Mozart Brandão, com lastro nos seus reconhecidos valores, como arranjador, compositor e pianista, pode ser aplicado em outra rua, sem usurpar a reverência a terceiros, e jamais sem desmerecer um dos mais importantes personagens da nossa história.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e economista
* Publicado In: O Povo. Fortaleza, 22 de junho de 2012. Caderno A (Opinião). p.7.

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