Por Ricardo
Alcântara (*)
O senador Eunício Oliveira gosta de confessar seu desejo
de governar o Ceará com um argumento pessoal demais para a dimensão da
responsabilidade: é ‘um sonho’ seu. Assim, o discurso da vaidade se sobrepõe à
motivação mais legítima: servir.
Não alega necessidade de revisar nada do que tem sido
feito. Ao contrário, se diz aliado do governador e deseja ser indicado por ele.
Não é ‘candidato da oposição’ – já disse – embora a todo instante acene com a
possibilidade de uma composição.
Como negocia com a oposição – e, como forma de pressão,
dá publicidade ao fato –deve esclarecer com que argumentos justificaria a
necessidade de substituir um governo que recebe seu apoio por tantos anos sem
nenhuma restrição.
Figurino esquisito seria ter que reafirmar as razões do
apoio a Cid Gomes com Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara em seu palanque –
eles, que do governador e seus irmãos não guardam as melhores recordações. Uma
trilha com ruídos demais.
François Mitterrand dizia que ‘não se pode fazer política
só com bons sentimentos’. Concordaria, por certo, que tampouco se pode fazê-la
apenas com os maus. ‘Mau’, o pior de todos, seria o de Tasso e Lúcio para
apoiá-lo: o mero rancor dos vencidos.
Se ameaça compor com a oposição, o senador aguarda mesmo
–sentado, imagino – é a confirmação de apoio do governador à sua indicação. Cid
Gomes admite como natural ‘o desejo dele’, mas já disse que só conversa sobre o
assunto ‘em maio’.
Para retardar os acordos eleitorais, o governador usa o
(bom) argumento de que sua tarefa é governar, mas, como nas ocasiões
anteriores, deixa tudo para a última hora, quando será muito mais fácil
apresentar sua escolha como fato consumado.
Eunício me levou à justiça por não tolerar que em glebas
de seu condado habite uma gente que não vende opinião, mas não fui eu, e sim o
seu aliado Ciro Gomes, de quem agora espera apoio, quem definiu o partido dele
como ‘um antro de ladrões’.
O senador cearense faz companhia a José Sarney, Michel
Temer, Renan Calheiros e Romero Jucá – entre outras vocações públicas que
frequentam o noticiário com rotineiras denúncias de vários calibres – no grupo
mais influente de seu partido.
Se ninguém acredita que ele será indicado pelo
governador, há de buscar – e não demore – apoio entre os ‘inimigos de seus
amigos’. Mas Brasília, loba tetuda, poderá confortá-lo com mais espaço por lá –
há quem aposte e há quem duvide.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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